Capítulo VIII

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— Ângelo, estás bem? — perguntou o Mestre, preocupado com a palidez momentânea daquele homem.

— Não. Quero dizer, sim... — respondeu, estupefato. — Mestre, por favor, me ajude.

— Digas logo o que tens, irmão. O que houve? — disse, sentando-se ao lado do Mensageiro.

— Pois bem — comentou, apontando para chão, mostrando o símbolo que ambos haviam desenhado. — O senhor já tinha visto este símbolo antes, em algum lugar?

— Não, irmão — respondeu, alternando o olhar entre o chão e o papiro. — Tudo o que eu disse foi apenas uma maneira de te explicar melhor os ensinamentos do Pai.

— Pois bem. — Mostrou, então, bem no cantinho inferior direito do papiro, o símbolo que ali estava. O Mestre exclamou algo em razão de sua surpresa, e então deu uma leve risada.

(Imagem que contém no livro impresso)

— Ora, então ele já existia? Muito bom!

— Será, Mestre? — perguntou, guardando novamente o papiro no bolso largo de suas vestes, com um nervosismo nítido em seu tom de voz. — Se você não conhece o símbolo, e eu não me recordo, então... Acho que acabamos de criá-lo.

— Mas, Ângelo, como assim? Não entendo como isso pode acontecer.

— Eu também não estou entendendo Mestre — respondeu, soltando um longo suspiro, buscando se acalmar. — Acredito que em breve saberei.

Ângelo estava prestes a fazer outro comentário quando, finalmente, Judas apareceu no monte. Era um homem de estatura média, com um rosto sereno coberto por uma barba espessa, mas pouco comprida. Seus cabelos também eram ondulados, e sua pele, tal como a de muitos naquele lugar, também era levemente queimada pelo sol. No fim das contas, era um homem de aparência comum, sem qualquer detalhe relevante.

— Queres conversar comigo, Senhor? — perguntou Judas ao Mestre, dirigindo um rápido olhar para Ângelo.

— Oh, sim — respondeu o Mestre, dando um abraço em seu discípulo. — Que a paz do Pai esteja contigo.

— Amém — disse, retribuindo o abraço.

— Vem comigo, pois quero que conheças outro irmão.

O Mestre então conduziu seu apóstolo até o Mensageiro, que abriu o sorriso mais simpático que conseguiu e ergueu a mão direita em um aceno.

— E aí, beleza? — exclamou de forma calorosa, não sabendo se mantinha o aceno ou se estendia a mão para cumprimentá-lo. Permaneceu com a primeira opção. — Firmão? Meu nome é Ângelo Gabriel, filho de Roberta e Carlos. Mas pode me chamar apenas de Ângelo.

— Como? — foi tudo o que Judas se limitou a dizer, não entendendo a reação daquele estranho homem à sua frente. O Mestre, percebendo a situação, intrometeu:

— Não ligues, Judas. Pela boca de Ângelo saem palavras de outros povos. O que importa é que ele é um seguidor das palavras do Pai.

— Compreendo. Que a paz do Pai esteja contigo — respondeu Judas, ainda um pouco sem jeito na frente do Mensageiro. Mas mesmo assim se permitiu sorrir singelamente. — Mas digas, já cruzaste meu caminho? Teu rosto parece conhecido.

— Sério? Já viu alguém bonitão e elegante como eu em algum lugar? — perguntou o Mensageiro, tentando parecer sedutor ao erguer apenas uma sobrancelha. A única coisa que recebeu como resposta foi um olhar reprovador do Mestre. — Desculpe.

— Em outro momento poderás lembrar onde o encontraste, Judas, mas agora precisamos conversar — disse o Mestre seriamente, olhando para seu discípulo.

As Últimas LembrançasWhere stories live. Discover now