Capítulo XII

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— Padre, por que ninguém falou neste Conselho antes? Pra que manter tudo em sigilo?

— Pelo óbvio, Ângelo. Ele lida com assuntos de pesquisa de extremo sigilo, tal como o nosso projeto. Imagine o caos que seria se todos soubessem de sua existência. Todos iriam querer explicações a respeito do porquê de ter sido criado!

De um lado, fazia sentido, mas Ângelo não estava muito satisfeito com as explicações. Mentalizou como deveria ser este tal Conselho Eclesiástico de Ciências, e imaginou um bando de padres velhos sentados ao redor da távola redonda, bebendo vinho e sendo iluminados apenas por algumas velas aleatórias, enquanto tratavam de assuntos de bruxaria e viagem no tempo.

— Ângelo, é essencial que você não espalhe isto que lhe contei. Pelo bem da sua vida, da minha e de todo o projeto — implorou Giovanni, desta vez com um tom mais apaziguador.

— Tudo bem, padre, não se preocupe — garantiu o Mensageiro, que de fato não pretendia espalhar a notícia aos sete ventos. — Mas, padre, se aqui mesmo o senhor cometeu este deslize, imagine eu lá em Jerusalém, diante do Mestre!

— Deixemos isso pra lá, certo? Apesar da besteira que deixei escapar, na minha posição, diante de um projeto tão importante como esse, devo ser mais cauteloso — disse Giovanni, levantando-se da cadeira e indo na direção dos livros espalhados, na intenção de organizá-los logo. — Além do mais, “duvidar” deverá ser o meu lema.

— Mas e eu? O que farei agora?

— Aguarde em seus aposentos até o próximo intervalo de reentrada — respondeu Giovanni, focado no serviço de organizar seus livros em ordem alfabética na estante.

— Não é melhor cancelar o projeto?

— O Conselheiro disse categoricamente que não, até sua natural conclusão. É impossível parar na metade, Ângelo. — O padre havia apenas guardado quatro de seus livros espalhados pelo chão quando voltou à sua escrivaninha e discou um número no telefone, que imediatamente Ângelo reconheceu ser do laboratório. — Padre Estrôncio! É o Giovanni, tudo bem?

Ângelo permaneceu calado, prestando atenção na conversa dos dois padres. Nela, Giovanni perguntou quando seria a próxima janela de entrada para a viagem e também obrigou Estrôncio a prometer que, independentemente de algo estranho acontecer, o Mensageiro deveria ser enviado a Jerusalém mesmo assim. Quando desligou o telefone, Ângelo já estava boquiaberto, pensando no que faria quando encontrasse Judas, e foi neste momento que Giovanni interrompeu sua reflexão:

— Feche a sua boca enquanto pensa, pois está quase babando. — Voltou-se novamente para seus livros espalhados, tentando se reorganizar na arrumação, enquanto Ângelo apenas o observava. — Meu instinto diz que tem algo errado nessa historia, mas vou tentar conversar com o Conselheiro. Prepare-se, pois você voltará para sua missão daqui a uma hora, e até lá trarei novas informações para você.

— Mas eu perdi Judas!

— Eu sei, seu cabeça de bagre. Tsc, tsc. — Visivelmente impaciente com os livros, Giovanni apenas os pegou de qualquer jeito e os colocou na estante, deixando de lado a organização alfabética. Talvez pudesse fazer isso mais tarde, quando tivesse mais tempo. — O padre Estrôncio já está instruído para colocá-lo na posição exata de interceptação de Judas. Vá agora e se prepare, pois ainda dá tempo de realizar mais uma viagem antes do almoço, e, pelo amor de Deus, tente não seguir seus instintos. Apenas se foque na missão. Você entendeu?

— Sim, senhor! — respondeu Ângelo, quase com uma continência, antes de caminhar em direção à porta do escritório. — Não vou esquecer do que o senhor me disse.

As Últimas LembrançasWhere stories live. Discover now