Capítulo XV

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Todos caminharam na mesma direção do ancião, com Judas e Ângelo na frente e os dois guardas atrás, se certificando de que nada iria fugir do controle. De fato, aquela era uma bela mansão. Possuía traços retos, sem muito estilismo, mas ainda assim era muito bonita e iluminada, com seu pequeno, mas belo, jardim feito de arbustos milimetricamente aparados que acompanhavam o trajeto até a porta da frente. Os guardas, que apenas observavam imóveis a movimentação dos cinco homens, tinham um uniforme próprio, típico de alguém que tinha muito dinheiro para gastar com estas trivialidades.

Ao entrarem pela grande porta dupla que dava acesso ao salão principal, Ângelo pôde observar os diversos símbolos romanos pendurados nas paredes, os tecidos finos e coloridos que pendiam sobre algumas entradas, além de diversas mulheres muito bem vestidas, carregando bandejas com frutas ou outros tipos de comida, não escondendo em momento algum toda a fartura presente naquela casa. Até mesmo as mesinhas de centro possuíam seus próprios pratos decorados de forma minuciosa, contendo tâmaras, maçãs e uvas. Ângelo ficou pasmo com o fato de haver tanto contraste entre aquela casa e o resto dos casebres de Jerusalém. Imaginou que, mesmo estando há muitos anos no passado, aquela realidade tão desigual iria se seguir por muito tempo, até os anos atuais.

— Esperes aqui comigo. — disse o ancião, se direcionando para Judas, enquanto Ângelo ainda observava todo o ambiente de boca aberta. — Outros logo chegarão.

Todos permaneceram calados durante a espera, e ninguém quis se sentar, talvez com medo de sujar um dos assentos “reais” ali presentes. De repente, veio à mente de Ângelo que Judas estava desabafando sobre algo que o incomodava, mas fora interrompido pelo ancião. Aproveitando o tempo de sobra, o Mensageiro cutucou o apóstolo e estava prestes a sussurrar sua pergunta quando alguém surgiu na sala. Era um outro ancião, mas não tão velho quanto o primeiro. Suas roupas eram muito mais elegantes que a de qualquer pessoa ali presente. Era uma túnica bege, excepcionalmente limpa, com detalhes em dourado que brilhavam com a luz do sol que invadia o salão. O homem tinha porte médio, semelhante ao de Ângelo, uma barba muito bem feita e cabelos grisalhos aparentemente muito sedosos. Além de tudo isso, também usava anéis dourados e pulseiras finas que o adornavam de uma forma um tanto exagerada, na opinião de Ângelo. Com certeza era um judeu como a maioria naquela região, mas a riqueza ostentada era incompatível para um ancião. Certamente, o Mestre tinha razão sobre a exploração do templo.

Logo atrás dele, um homem mais alto e magro, tão bem vestido quanto o primeiro, surgiu no salão com seu olhar imponente e nariz empinado, olhando todos de cima para baixo. Provavelmente, se tratava de um romano.

— Sou apenas um ancião que cuida do templo em alguns períodos. Em troca, eles me deixam fazer as orações — explicou o velho ancião que os trouxe até ali, dando a palavra aos outros dois homens ricos que adentraram ao salão. Estes, por sua vez, logo trataram de se sentar em dois dos assentos chiques, permanecendo, por um bom tempo, apenas olhando para os cinco sujeitos à sua frente.

— Podes ir agora, meu irmão, orar e descansar no templo — disse o ancião bem vestido, com seu tom de voz claro e polido, dirigindo-se ao ancião mais velho, que tratou de obedecer.

— Soubemos que tu tens informações sobre o paradeiro daquele que destruiu o templo — disse novamente o ancião, desta vez dirigindo seu olhar para Judas. Era um olhar desafiador, quase que atrevido. Típico de pessoas ricas, daquela época. — É verdade?

— Sim, tenho. Quem és tu para perguntar? — questionou Judas, de uma forma educada.

— Eu sou o responsável pela administração do templo e este é um representante de Roma. É o braço direito do governante romano destas terras. Porém, mais importante do que conhecer a nós, é saber que eu te conheço sem nunca ter tido contigo, Judas.

As Últimas LembrançasWhere stories live. Discover now