Capítulo Cinco - Aiden

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Estou de volta no hotel. Quando passo pela porta, Melanie tenta falar comigo e se desculpar por seu amigo Brandon, alegando que ele não está nada bem nos últimos dias, mas peço que não. Conheço o tipo de pessoa que Brandon é. Está por toda parte, e não preciso das desculpas do garoto e nem das inúteis desculpas de Melanie.

Nos corredores, vejo os gêmeos (foi o que eu deduzi, pois são idênticos), e os pego pelo pulso, arrastando para o quarto. Estou estressado, confesso. Mas tenho que descobrir quem eles são.

– Está me machucando! – reclama a garota, choramingando. Entro no quarto com os dois e fecho a porta.

– Olha, não tive a intenção de ser mau, mas aqui há uma questão que não quer calar – falo, diretamente.

– Existem muitas questões que não querem calar no mundo. Por que os peixes nadam, por que as aves voam? – pergunta o garoto, olhando para a menina que inclina a cabeça, concordando.

– Mas aqui? Não vejo nada aqui! Neste quarto? Nada neste quarto! – diz ela, fingindo estar confusa. Franzo a testa.

– O quê? Só quero fazer uma pergunta. Quem são vocês? – Pego novamente os dois pelos pulsos. Já estou perdendo a paciência.

Os dois apenas esboçam um sorrisinho e sentam ao meu lado na cama do quarto.

– Relógio legal – fala o menino, e coloco minhas mãos nos bolsos. Vamos, Aiden. Seja paciente.

– Vocês são retardados? – Empurro o menino, que cai da cama gargalhando. Retardados, e um pouco masoquistas também.

Sinto um dedo embaixo dos meus olhos, e vejo que a garota está passando suas unhas sobre minhas olheiras.

– Não dorme bem? – Ela faz biquinho. – Pode dormir comigo se quiser. – Empurro a menina também, mas ela não cai da cama, e espera seu irmão se recompor. – Tudo bem, vou responder sua pergunta.

– Até que enfim – suspiro.

– Somos os gêmeos Morgan. Rose e Thomas Morgan. Nós somos vampiros. – Ela balança sua mão marcada no ar, sorrindo. – Acho que já sabe disso. Você também é um.

– Somos o que somos, você é o que é – fala Thomas, e franzo a testa novamente.

– Os dois são hóspedes do hotel? – pergunto, e a menina abre uma gaveta, tirando 500 dólares de dentro.

– Sim, e estávamos um pouquinho endividados, mas a Sra. Strange é boa conosco. Vivemos neste hotel desde quando éramos apenas criancinhas. Ela é como uma mãe para mim e para meu irmão. – Rose me entrega o dinheiro. Levanto-me da cama.

– E onde está ela? A Sra. Strange? – Sra. Strange ainda é a administradora do hotel, não sou formado para poder tomar conta dos negócios do meu pai. Mas não a vi a tarde toda. Stormswood é uma cidade pequena e não temos muitos clientes. Ela pode estar em qualquer lugar.

– Bem, não sabemos, mas ela volta logo. Você deveria aproveitar isso e cuidar do hotel um pouco. A hóspede gorda do andar de cima vomitou na escada, e o hotel não se limpa sozinho – diz Thomas, segurando o riso. Pego minha pequena caixa de fósforos do bolso, e um cigarro.

– Da próxima vez que me der ordens, coloco fogo em você. – Acendo o cigarro, fumando em seu rosto risonho e sardento.

– Vamos embora daqui. Meus pulmões vão morrer – fala Rose, puxando seu irmão. Fumo no seu rosto também. Ela tosse.

E os dois saem rindo do quarto, como crianças em um parque de diversões.

***

– Pai, eu tenho carteira de habilitação. Eu quero um carro. O que preciso fazer para o ter? – pergunto para meu pai, ao telefone.

Carro? Você tem de passar o dia todo em um hotel, e ir a uma escola que fica a menos de um quarteirão do Sauders. Um carro não serve para nada – diz ele, do outro lado da linha.

– Quero um carro, está bem? As pessoas precisam de carros. Para ir ao supermercado, para ir a restaurantes, para deixar garotas em casa... – Nunca vou a restaurantes, mando pessoas ao supermercado pra mim e não me interesso mais em romances como antigamente. Mas são os únicos argumentos que sei para convencer meu pai.

Aiden, não confio em você... Não sei o que você pode fazer se tiver um carro. Talvez você se meta em confusão...

– Pai! – suspiro. Lembro de Josh, meu irmão. Apenas lembrar dele que deixa minha mente cheia de lembranças, boas e tristes. – Sou um garoto comum. Como qualquer outro. Um adolescente, que precisa de um carro. Por favor.

Tudo bem. Escolha o carro e eu deposito o dinheiro na sua conta. – Sorrio. As palavras que eu queria ouvir. – Ah, e filho, pare de fumar. E também jogue fora essa jaqueta de couro. Compre um terno, você não usa nenhum desde os 12 anos.

– Não vou fazer nada disso. – Sorrio mais uma vez e ouço meu pai rir do outro lado da linha. – Eu te amo, pai. E amo a mãe e Selena também. Diga a elas.

Também te amo, filho. Vou contar para sua mãe e Selena, mas saiba que elas te amam. Estamos com saudades.

– Eu também estou.

The Walls Of The City - As paredes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora