Estou de volta no hotel. Quando passo pela porta, Melanie tenta falar comigo e se desculpar por seu amigo Brandon, alegando que ele não está nada bem nos últimos dias, mas peço que não. Conheço o tipo de pessoa que Brandon é. Está por toda parte, e não preciso das desculpas do garoto e nem das inúteis desculpas de Melanie.
Nos corredores, vejo os gêmeos (foi o que eu deduzi, pois são idênticos), e os pego pelo pulso, arrastando para o quarto. Estou estressado, confesso. Mas tenho que descobrir quem eles são.
– Está me machucando! – reclama a garota, choramingando. Entro no quarto com os dois e fecho a porta.
– Olha, não tive a intenção de ser mau, mas aqui há uma questão que não quer calar – falo, diretamente.
– Existem muitas questões que não querem calar no mundo. Por que os peixes nadam, por que as aves voam? – pergunta o garoto, olhando para a menina que inclina a cabeça, concordando.
– Mas aqui? Não vejo nada aqui! Neste quarto? Nada neste quarto! – diz ela, fingindo estar confusa. Franzo a testa.
– O quê? Só quero fazer uma pergunta. Quem são vocês? – Pego novamente os dois pelos pulsos. Já estou perdendo a paciência.
Os dois apenas esboçam um sorrisinho e sentam ao meu lado na cama do quarto.
– Relógio legal – fala o menino, e coloco minhas mãos nos bolsos. Vamos, Aiden. Seja paciente.
– Vocês são retardados? – Empurro o menino, que cai da cama gargalhando. Retardados, e um pouco masoquistas também.
Sinto um dedo embaixo dos meus olhos, e vejo que a garota está passando suas unhas sobre minhas olheiras.
– Não dorme bem? – Ela faz biquinho. – Pode dormir comigo se quiser. – Empurro a menina também, mas ela não cai da cama, e espera seu irmão se recompor. – Tudo bem, vou responder sua pergunta.
– Até que enfim – suspiro.
– Somos os gêmeos Morgan. Rose e Thomas Morgan. Nós somos vampiros. – Ela balança sua mão marcada no ar, sorrindo. – Acho que já sabe disso. Você também é um.
– Somos o que somos, você é o que é – fala Thomas, e franzo a testa novamente.
– Os dois são hóspedes do hotel? – pergunto, e a menina abre uma gaveta, tirando 500 dólares de dentro.
– Sim, e estávamos um pouquinho endividados, mas a Sra. Strange é boa conosco. Vivemos neste hotel desde quando éramos apenas criancinhas. Ela é como uma mãe para mim e para meu irmão. – Rose me entrega o dinheiro. Levanto-me da cama.
– E onde está ela? A Sra. Strange? – Sra. Strange ainda é a administradora do hotel, não sou formado para poder tomar conta dos negócios do meu pai. Mas não a vi a tarde toda. Stormswood é uma cidade pequena e não temos muitos clientes. Ela pode estar em qualquer lugar.
– Bem, não sabemos, mas ela volta logo. Você deveria aproveitar isso e cuidar do hotel um pouco. A hóspede gorda do andar de cima vomitou na escada, e o hotel não se limpa sozinho – diz Thomas, segurando o riso. Pego minha pequena caixa de fósforos do bolso, e um cigarro.
– Da próxima vez que me der ordens, coloco fogo em você. – Acendo o cigarro, fumando em seu rosto risonho e sardento.
– Vamos embora daqui. Meus pulmões vão morrer – fala Rose, puxando seu irmão. Fumo no seu rosto também. Ela tosse.
E os dois saem rindo do quarto, como crianças em um parque de diversões.
***
– Pai, eu tenho carteira de habilitação. Eu quero um carro. O que preciso fazer para o ter? – pergunto para meu pai, ao telefone.
– Carro? Você tem de passar o dia todo em um hotel, e ir a uma escola que fica a menos de um quarteirão do Sauders. Um carro não serve para nada – diz ele, do outro lado da linha.
– Quero um carro, está bem? As pessoas precisam de carros. Para ir ao supermercado, para ir a restaurantes, para deixar garotas em casa... – Nunca vou a restaurantes, mando pessoas ao supermercado pra mim e não me interesso mais em romances como antigamente. Mas são os únicos argumentos que sei para convencer meu pai.
– Aiden, não confio em você... Não sei o que você pode fazer se tiver um carro. Talvez você se meta em confusão...
– Pai! – suspiro. Lembro de Josh, meu irmão. Apenas lembrar dele que deixa minha mente cheia de lembranças, boas e tristes. – Sou um garoto comum. Como qualquer outro. Um adolescente, que precisa de um carro. Por favor.
– Tudo bem. Escolha o carro e eu deposito o dinheiro na sua conta. – Sorrio. As palavras que eu queria ouvir. – Ah, e filho, pare de fumar. E também jogue fora essa jaqueta de couro. Compre um terno, você não usa nenhum desde os 12 anos.
– Não vou fazer nada disso. – Sorrio mais uma vez e ouço meu pai rir do outro lado da linha. – Eu te amo, pai. E amo a mãe e Selena também. Diga a elas.
– Também te amo, filho. Vou contar para sua mãe e Selena, mas saiba que elas te amam. Estamos com saudades.
– Eu também estou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Walls Of The City - As paredes da Cidade
Teen FictionAs paredes da cidade ampliam o medo espalhado pelas ruas de Stormswood, um pequeno município da Pensilvânia com características únicas. Quando Mayra, uma caçadora de nascença, redescobre seus ideais, uma nova visão de um mundo diferente se abre para...