Estou escondido atrás da cama de um quarto qualquer. Meia dúzia de lobisomens está do lado de fora do Hotel.
Alguma janela do segundo andar é destruída silenciosamente. Acho que os Young não querem assustar os hóspedes, porque eu consigo ouvir qualquer som com minha audição aguçada, e provavelmente eles sabem que eu estou escutando. Aproximo meu ouvido da parede e ouço passos. São lentos e pesados, e tenho certeza que são da Senhora Strange. Ela está sussurrando algumas palavras, definitivamente não na nossa língua. As palavras ficam mais altas, e sinto um arrepio percorrer meu corpo.
E ouço gritos. Milhares deles, de vozes diferentes. Gritos de dor. Corro até a porta e a abro bruscamente. Estou no quarto andar, e vou descendo as escadas até chegar no segundo. Está tudo quebrado, com vidro em todos os lugares, marcas de garras no fim do corredor e a luz está piscando. Strange não está aqui, nem os lobisomens. Em passos rápidos, paro em frente á última porta do andar, de onde vem um barulho de choro. Tranco a respiração, para não chamar atenção, mas quem estiver ali dentro sabe que estou ouvindo, pois o choro fica mais alto. Abro a porta e me surpreendo. Melanie?
A garota olha para mim soluçando e com os olhos cheios de lágrimas, sentada no chão. Seu pescoço tem várias marcas de mordidas, assim como os seus braços. Mas já vi ela nesse estado antes. Fui eu que a deixei desse jeito.
– Você... você está bem? – pergunto, cuidadosamente. Melanie aperta os olhos e não fala nada, e percebo que sua pele perdeu a tonalidade rosa e se tornou muito branca, como se estivesse perdido a cor.
– Eu pareço bem para você? – pergunta ela, voltando a chorar. Me sento ao seu lado, e ela se afasta. – Tem algo de errado comigo, algo muito errado.
Respiro fundo.
– Pode me dizer o que é, se quiser – digo, e Melanie seca as lágrimas com o lençol da cama.
– Esses gritos me assustaram muito – diz a garota. – Quase me assustaram mais do que quando os gêmeos me levaram àquele lugar.
Levanto-me e estendo a mão apara Melanie, que aceita a ajuda. Ela está tremendo e está muito fria, por isso pego o cobertor felpudo da cama do quarto onde estamos e coloco em seus ombros. Abro a porta para a garota e saímos do quarto. A lâmpada do segundo andar continua piscando, e isso parece aterrorizar Melanie.
– Você pode me conceder um quarto? – Melanie pergunta, enquanto andamos do corredor até as escadas. Assinto com a cabeça e descemos para o primeiro andar. Seguro, repentinamente, os ombros de Melanie e finco meus olhos nos seus.
– Você caiu da escada – digo, ainda olhando em seus olhos. Não é uma desculpa muito boa.
– Eu caí da escada – repete Melanie, hipnotizada. Sorrio e inclino a cabeça em direção a um dos quartos, e Melanie entende que aquele é o seu novo quarto no hotel.
Balaska, meu gato, caminha pelo corredor estendendo suas patas. Assobio, mas Balaska não olha para mim. Ele continua a caminhar.
– Bal, volte aqui, garoto – falo, rígido. O gato negro para em frente a quinta porta do corredor, uma porta roxa sem fechadura. Suspiro e Balaska arranha levemente minhas pernas quando chego ao seu lado. – Você quer entrar aí, quer? Pois eu também quero. – Os olhos grandes e amarelos de Balaska brilham.
Empurro a porta, uma, duas, três vezes, usando minha força. Ou virei humano novamente, ou a porta é feita de aço. Balaska parece determinado em entrar, mesmo sendo apenas um gatinho, e a curiosidade já está dominando o meu corpo.
– Vamos, abra – murmuro, e dou um pulo para cima da porta. Ela abre em um baque surdo, com poeira caindo em meu rosto. Procuro o interruptor, mas não encontro. Balaska caminha roçando em minhas pernas, sei que não vou tropeçar em seu pequeno corpo com minha visão noturna natural.
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The Walls Of The City - As paredes da Cidade
Fiksi RemajaAs paredes da cidade ampliam o medo espalhado pelas ruas de Stormswood, um pequeno município da Pensilvânia com características únicas. Quando Mayra, uma caçadora de nascença, redescobre seus ideais, uma nova visão de um mundo diferente se abre para...