Capítulo Vinte e Seis - Aiden

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Estou sentado no sofá vermelho da recepção, ouvindo Rose tentar tocar piano e Thomas brincar com Balaska. Stella não está trabalhando, e Senhora Strange está atendendo ao público, mesmo que ninguém tenha aparecido nas últimas horas. Eu estou quase pegando no sono.

Até que um barulho horrível vem do lado de fora do Hotel.

Me levanto e vou correndo para fora. Nada nas escadas da frente, nada perto do jardim.

– Bu! – diz uma voz conhecida. Suspiro, aliviado. É Petra Elliott, uma das vampiras da "gangue". Ela está sorrindo, mostrando todos os dentes, já com as presas para fora. Seu cabelo, tão negro que parece azul, está caindo em ondas em seu rosto. Ela usa um batom roxo escuro, jaqueta de couro, calça jeans rasgada e botas para caminhada. – Você precisa vir comigo.

– Ir com você? – pergunto, surpreso. Petra assopra uma de suas mechas do rosto, e joga eu cabelo para trás. – Quem mais está aqui?

– Kein Schwein! – responde ela, já brava. Ah, é. Ela é a vampira com sotaque alemão.

Petra usa sua super velocidade e sai correndo. Quando ela se afasta consideravelmente, uso a minha velocidade também, e vamos parar em um beco sem saída, cercado por paredes, onde estão os outros vampiros que conheci: Gwen, Erik, e Garrett.

– Voltamos – diz a vampira, para os companheiros . Garrett lança um olhar para ela que não consigo desvendar. Eles devem namorar, ou algo assim.

– É o que parece – digo, confuso. O que eles querem comigo? Só porque cacei uma vez com o grupo não quer dizer que sou um deles. Erik sorri levemente, mas parece distante. Gwen, a garotinha asiática, bate os pés freneticamente. Garrett está sério, ajeitando os cabelos dourados dentro do seu gorro escuro.

– Nós sabemos que aquele garoto Young foi falar com você um dia desses – diz Garrett, direto, e arqueio uma sobrancelha. – Pode contar o que ele falou, por favor?

– Estão me vigiando? – pergunto e encosto meu cotovelo direito na parede mais próxima. Petra revira os olhos e vai para o lado de Garrett.

– Eu não perderia meu tempo com um Sauders mimado. É óbvio que estamos vigiando o Bradley, ou sei lá qual é o nome dele – diz Petra. A garota cruza os braços e Garrett a abraça de lado. Ouço ela murmurar alguma coisa em alemão, e dou de ombros.

– Ele quer fazer um acordo, para manter a paz na cidade. Nós não podemos ferir os Young, e precisamos nos juntar para derrubar os Sprennbell – digo, e Erik sorri de lado.

– Se lobisomens e vampiros se unirem para lutar contra os Sprennbell e outros caçadores, ganhamos na certa – diz Erik, orgulhoso. – Eu estou totalmente de acordo com este acordo. – Ele ri da sua própria "piada".

Viro a cabeça para observar o céu. Está nublado. O outono está chegando.

– Vamos nos encontrar aqui, uma vez por semana – Petra diz, mudando de assunto, com o sotaque alemão acentuado. – Por aqui não existe muito movimento, mas o suficiente para sermos bem servidos.

– É – diz Erik, lambendo os dedos para tirar o sangue das garotas. Assinto com a cabeça.

– Bom, obrigado pela refeição. Eu vou indo – digo, e aceno. Gwen murmura um "tchau" baixo, Erik sorri, Petra dá um tchauzinho com a mão e Garrett sinaliza com a cabeça. Eu não estou com o meu carro aqui, mas estou perto do Hotel. Demora apenas alguns minutos para chegar lá, se eu usar a minha velocidade avançada de vampiro, mas prefiro ir andando normalmente e pensando na vida. Viro o rosto para espiar os outros vampiros por uma última vez, mas Petra não está mais lá. Forço a visão e a vejo falar com uma criança em um playground há alguns quarteirões.

Enquanto caminho pelas ruas, percebo que não sou mais quem eu achava que fosse. Desde quando me transformei em vampiro, senti que tudo havia acabado, mas isso não é verdade. Eu sou jovem. Eu ainda posso ter todas as coisas que queria ter em minha vida, ainda posso realizar todos os meus sonhos, ainda posso ser quem eu sempre quis. Eu não preciso rejeitar todas as pessoas que passarem por meu caminho. Se esses vampiros me querem por perto, nós somos amigos? O antigo Aiden os chamaria de amigos. O Aiden um pouco menos antigo poderia chamá-los até de inimigos. Mas e o Aiden atual? O que eu faria? Sim, eu sei que mudei. Mas ainda não descobri quem eu realmente sou.

Stormswood é uma cidade pequena, cheia de tradições, mas ainda moderna. Será que posso me encaixar numa cidade como esta? A resposta dessa pergunta só vai depender de mim.

Uma cidade em que até as paredes sussurram entre si. Aqui, tudo parece preso entre as paredes. Você pode correr, fazer de tudo para escapar, mas no final você está preso entre as paredes. As paredes da cidade, que são como raízes puxando uma planta.

E de repente, chego em meu hotel. Desde alguns dias atrás, o Hotel não parece muito movimentado, provavelmente pelo desaparecimento de Melanie.

– Boa tarde – diz a Senhora Strange, com os olhos cansados. Sorrio.

– Bom tarde pra você também, Strange. – A velha suspira.

– E boa sorte – ela continua. – Seu destino está selado, sabe disso, não sabe?

Arregalo meus olhos.

– Do que você está falando? Você anda se drogando, Strange? – Strange aperta os lábios em uma linha reta, e balança a cabeça.

– As paredes têm ouvidos por aqui, menino Aiden – fala ela, e respiro fundo. Sra. Strange sai da recepção, e subo as escadas até o meu quarto. Ligo a televisão e está passando um noticiário local.

"A polícia encontrou uma criança assassinada bruscamente em uma praça em Stormswood, apenas há cerca de vinte minutos atrás. Não foram encontradas testemunhas, e não há suspeitos para o crime. A polícia diz que há várias marcas de mordidas de animais no corpo da vítima"

Reconheço a praça. É a mesma praça perto do beco onde eu e os outros vampiros nos encontramos. Seria isso obra deles?

"... A vítima foi reconhecida como Bernard Young."

Não, não pode ser. Depois que eu contei sobre o acordo que temos com Brandon e sua família, pensei que todos concordaram em não quebrá-lo. E no fim, não será guerra entre caçadores e seres sobrenaturais. Acabamos de entrar em guerra com os lobisomens.

The Walls Of The City - As paredes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora