Capítulo Vinte e Oito - Mayra

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Faltam mais ou menos dez minutos para acabar a aula. Não aguento mais esse inferno chamado escola. Passei a aula inteira desenhando no caderno. Não prestei atenção em nada, só acho que vou rodar no meu teste que tenho semana que vem.

O sinal toca e demoro para arrumar meu material, estava em um tipo de transe. Guardo meu material todo na minha mochila e coloco ela em um dos braços. Saio da sala de aula e dou de cara com Brandon me esperando.

– E aí, princesa! Será que posso acompanhá-la? – fala ele com um grande sorriso contagioso no rosto.

– Deixe me ver nos meus horários... Hum, acho que sim – falo brincando.

– Algo está te incomodando, né?

– Não, não imagina. É que... Meu priminho Bernard morreu, hoje tem seu velório dele. Minha família toda está em luto, ele era especial.

– Nossa, sinto muito. Se precisar de alguma coisa ou companhia é só me chamar.

– Claro, mas agora preciso ir. Meus pais estão me esperando. Tchau.

Ele vai conversando comigo até a portaria, onde nos separamos. Hoje vou ter que ir a pé para casa, estou sem carro. Meu pai descobriu que minha mãe estava me deixando dirigir sem carteira. Mas não faz mal.

Estou caminhando e escutando música no meu celular, sinto que estou sendo vigiada. Parece que alguém está me seguindo, bem atrás de mim, mas quando viro para trás não vejo nada. Me sinto como naquele outro dia na floresta.

Noto um vulto com orelhas e pelos passar ao meu lado correndo. Novamente um lobisomem. De vez, pego minha pequena e portátil faca que deixo na minha cintura com um pouco de acônito. Quando a coisa vê que estou com uma faca na mão, ela para de me perseguir.

Minha respiração está ofegante em minha manta que esquenta meu pescoço. Já esta começando a ficar frio nessa época, então eu coloco mais roupa e assim há mais lugar para guardar armas.

Permaneço com o objeto afiado na mão e dentro do bolso, para ninguém ver e me achar louca. Aumento o ritmo dos meus passos. Já estou chegando em casa, avisto Hayley brincando na frente de casa com sua nova bicicleta que ganhou de aniversário dos meus pais. Minha rua é sem saída e tem uma floresta ao lado, ali vejo uma figura cheia de sangue, me encarando e encarando Hayley. É um vampiro.

Como é possível eu ter visto dois sobrenaturais na minha rua? Tão vulneráveis. Geralmente só saem à noite, quando a maioria das pessoas está em casa, e as ruas estão vazias. Menos os vampiros, pois eles não ligam para as pessoas, eles as atacam. Saio em disparada na direção de Hayley e agarro ela no colo. Entro dentro de casa, só falo à ela que estava frio para ela ficar lá fora no pátio. Não conto aos meus pais dos sobrenaturais que vi, vou descobrir o que está acontecendo sozinha.

Cumprimento eles, deixo minha irmã ali e subo dizendo que vou estudar. Atiro minha mochila no chão e pego meu notebook. Vou para cima da cama. Procuro o site local de Stormswood para ver se postaram novos casos de mortes por "animais".

Eu acertei, quatro mortes neste mês, todas por animais. O post relata que as vítimas foram arranhadas e mordidas até a morte. Nas foto que há no site, as vítimas apresentam mordidas de vampiros e aranhões de lobisomens. Mas geralmente, é um ou o outro. Nunca apresentam essas duas coisas.

– Onde você vai? Você não vai estudar, filha? – meu pai pergunta.

– Sim, só vou passar na casa da minha amiga para pegar o conteúdo do meu teste da semana que vem. Ela não está atendendo minhas ligações.

– Tá bom, só não demore muito e nem nos deixe preocupados. Se cuide.

Calço uma bota de cano longo onde consigo esconder meu arco. E, milagrosamente, meu pai deixa eu ir de carro. Dou a partida no automóvel e vejo outro vulto passando atrás dele. Parece que estão me perseguindo.

Estaciono o carro perto do supermercado onde encontrei Hayley perdida há uma semana. Pego minha bolsa que escondi em baixo do banco para meus pais não verem e entro na floresta.

Ainda sinto que estão me vigiando. Pego meu arco e flecha e começo a atirar em árvores, prestando atenção em tudo ao meu redor. Estou escutando passos nas folhas secas que caíram e estão no chão com o começo do outono.

São duas pessoas ou mais. Começam a me rodear, correndo muito rápido, tanto que mal consigo vê-los. Enxergo apenas a sombra deles. Um silêncio sinistro se espalha. Aponto meu arco para todos os lados, na esperança de encontrar algo.

De repente os passos voltam, mas agora eu escuto respirações e rosnados. Alguém está correndo na minha direção. Do nada Brandon aparece atrás de mim e fala que estava caçando e viu meu carro na rua. Os barulhos param.

Algo ou alguém pula em cima de mim e arranha Brandon. Outra coisa passa e consigo sentir sua respiração perto da minha nunca. São dois. Um lobisomem provavelmente, pois seu arranhão não fez efeito em Brandon e também pelos rosnados que escutei. O outro um vampiro, pelas presas que vi e cheiro de sangue que senti. Mas isso não é possível. Vampiros e lobisomens se odeiam.

Pelo o visto estiveram ajudando um ao outro ou trabalhando juntos. Os vultos ficam nos percorrendo rapidamente, estou muito tonta por conta de tudo que vejo girando em minha volta. Atiro uma flecha perdida com esperança de que acerte um deles. Não consigo acertar nada. Tudo apenas se acalma repentinamente.

Algo pula em cima de mim de novo e de repente, tudo está escuro e preto.

Acordo no meu quarto com Brandon dormindo ao meu lado, segurando minha mão, parecendo até um anjinho. Não sei o que aconteceu. Não me lembro de nada. A única coisa que sei, ou acho que sei, é que agora já é de noite.

Estou com dó de acordar Brandon, mas não quero chamar meus pais, eles vão fazer perguntas de mais.

– Ei, Brandon, acorda – falo sussurrando no ouvido dele.

– Não mãe, só mais um minutinho.

– Não sou sua mãe. Agora vamos, acorde-se, Brandon. – Dou um tapinha na cabeça dele. Agora o lobisomem finalmente acorda e fica consciente do que fala.

– O que aconteceu comigo? Só me lembro de alguma coisa pulando em cima de mim e nada mais – eu o questiono.

– Você estava caçando quando eu vi seu carro perto da floresta e fui te procurar. Quando te encontrei, você estava olhando para tudo quanto é lado, assustada. Você só disse "vampiro e lobisomem" e depois começaram uns barulhos estranhos e entendi o que você estava falando. Eles me arranharam e um deles pulou em cima de você, então você caiu e bateu a cabeça no tronco da árvore onde você estava escorada.

– Estou perdida, isso é muito estranho para ser verdade. Eles estão me perseguindo. Onde está Hayley? Eles estavam observando ela quando eu cheguei em casa hoje, quero deixar ela à salvo.

– Na verdade, Mayra, isso que aconteceu faz um dia. Você se cortou profundamente e resolveu dormir esse tempo todo, me deixando maluco. – ele fala com um jeito muito irônico.

– Será que era Aiden o vampiro? Sei lá... Pode ter sido.

– Acho que não. Ele não faria isso, sei que ele é chato e incomoda, mas não. Aliás, tinha mais alguém lá, um lobisomem.

– Você tem razão. Mas como um lobisomem e um vampiro estavam juntos? Eles dois me atacaram em combinação.

– Talvez sejam um par de monstros.

– Com certeza. Os dois trabalham juntos, como se fossem um par.

The Walls Of The City - As paredes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora