Introdução - Stella

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No hospício de Stormswood, uma cidade pequena e chuvosa no estado da Pensilvânia, o meu nome não importa. Poderia ser Mary ou Thalia, mas é Stella. Stella Jones, se ainda posso usar esse sobrenome.

Nasci há dezesseis anos, e estou aqui há uma década, desde que completei meus seis anos de idade, quando meu pai me convidou para conhecer um lugar melhor e me trouxe para um passeio que ainda não acabou. Ele seguiu em frente, como minha mãe havia feito dois anos antes. Ao que parece, sou um fardo incarregável até que prove o contrário.

Desde então, nunca mais vi meu pai novamente, assim como nunca mais tive pistas de minha mãe depois dos meus quatro anos, a idade que tinha no dia que ela deu um beijo na minha cabeça, um abraço forte ao redor do meu pequeno corpo e abriu a porta, saindo para não retornar.

Já papai... Ele bem que tentou. Conversou comigo várias vezes até que preferiu conversar com médicos. Colocou-me aqui por conta do meu comportamento estranho, a fascinação que eu apresentava em detalhes mortais mesmo ainda pequena. Os dois primeiros anos de amadurecimento sem minha mãe foram os mais difíceis, e eu não sabia controlar o que sentia. Admirava o céu da noite mais do que o sol, ouvindo vozes e prevendo situações. Com isso, vieram as crises, e consequentemente, minha chegada no sanatório.

Eu também pretendi continuar a minha vida, mas fingir estar bem se torna difícil quando você acorda com gritos que não sabe se vieram de si mesma ou da pessoa do outro lado do corredor. É difícil ser uma adolescente normal quando, todos os dias, no mesmo horário, um professor particular arranjado por sua tia-avó aparece, tentando ignorar o ambiente em sua volta para lecionar apenas para você. Apesar de tudo isso, se um dia saísse dessa prisão, poderia viver normalmente. São poucos os meus problemas atualmente, e não represento perigo a ninguém, nem mesmo a mim.

Minha tia-avó materna é a única pessoa que me visita duas vezes ao mês, geralmente trazendo consigo presentes para me fazer sentir menos distante e fora do alcance do mundo, e que se importa com minha saúde, educação e felicidade. Sou grata por isso, mesmo que ela não me dê as respostas que busco.

Praticamente não me lembro da vida além dessas paredes cinzentas que me cercam onde quer que eu vá, e todo o dia devaneio sobre o que faria se pudesse sair, se fosse livre. Ninguém sabe como é estar no mesmo lugar que assassinos insanos ou adultos com mentalidade de criança, que ameaçam quem fica em seu caminho, até sentir na pele. Não os estou julgando. É difícil para todos, e não temos culpa. Eu, muito menos. Mas, por enquanto, apenas aceito meu título de louca. Por mais que, lá no fundo, algo me diga que sou diferente.

The Walls Of The City - As paredes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora