Estou deitada em uma cama macia. Ela é o dobro do tamanho da que eu costumava ter em meu quarto, no sanatório. Quando cheguei aqui, há em média três horas atrás, achava que estava sonhando. Não precisei arrumar nada; a cama já estava coberta por um lençol branco, bordado com uma linha de mesma cor. Dois travesseiros de mesma aparência formavam um conjunto impecável.
Meu quarto é localizado no terceiro andar, acima do térreo, onde uma moça atenciosa me concedeu um dia gratuito de testes. As escadas de madeira levam até onde a vista alcança, e não tenho noção de quantos andares o prédio possui, e muito menos de quem está dormindo logo abaixo. O sistema de hotel sempre me assustou um pouco. Eu ouvia meu pai conversar com seus amigos sobre os hotéis em que havia ficado em certas viagens, então sempre soube como funcionava. É estranho pensar que você está longe de casa, há poucos metros de quem não conhece. Pessoas vivem nos quartos do seu andar, no acima, e assim por diante. Você percebe o ritmo de vida delas e elas percebem o seu. Qualquer outro hóspede do hotel sabe seu quarto, a hora em que você sai e a hora em que você volta, qualquer hóspede pode ser um assassino em série, e qualquer um pode desconfiar que você seja também.
Preciso parar com esse tipo de pensamento, pois é exatamente o que levaria a duvidarem de minha sanidade mental. O medo de alguém que sempre viveu atrás das grades do hospício. Elas te prendem lá dentro, mas ao menos protegem dos perigos que o lado de fora oferece. Não que o lado interior seja menos perigoso, mas as mil trancas nos quartos dos mais instáveis ofereciam essa sensação. Sei que devo estar a salvo aqui, mas parece até que as paredes têm ouvidos, olhos, e que conversam comigo.
O dia mais importante da minha vida passa como um flash em minha cabeça.
Eu não conseguia assimilar tudo que se passava em minha cabeça. Não conseguia nem ao menos parar para respirar normalmente. Por que minha mãe dera um colar para minha tia destinar a mim, e por que ela guardou esse segredo por tanto tempo? Além de tudo, o que o cristal e minha inicial poderiam significar?
Nenhuma das dúvidas pôde ser esclarecida, pois uma menina com feições familiares entrou na sala, alarmada, quando eu estava apenas no começo de minhas teorias. Ela me fez uma série de perguntas estranhas e disse que poderia me ajudar. A garota me deu poucas informações, mas me disse que poderia me tirar dali. Sem pensar muito, concordei, já que era com isso que vinha sonhando desde pequena. Ela assinou um termo já antes rabiscado e me levou para fora.
Mayra, a menina, me levou para seu carro e me contou que todas as coisas estranhas que já aconteceram comigo têm uma explicação. Pois sou uma banshee, e prevejo mortes. Posso ser muito poderosa se treinar meus poderes, e as vozes ecoando em minha cabeça ao longo dos anos são relacionadas à minha conexão com a morte, já que sou sua mensageira. Posso prever coisas e sentir vibrações a partir de estímulos internos ou externos, e sei que tenho como usar isso ao meu favor. Tenho certeza que posso controlar minhas crises, mas ocasionalmente, é normal sofrer disso, de acordo com Mayra.
Mayra sabe disso porque é uma caçadora, mas quer me ajudar. Não sei o que a levaria a deixar os ideais tradicionais de sua família de lado, mas algo indica que posso confiar nela.
Levanto da cama, interrompendo a lembrança. Vou para o banheiro do quarto, tão impecável como tudo aqui. O chuveiro é grande, diferente daquele que eu usava para me limpar quando estava no hospício. Pois é, não posso chamar aquilo de banho. Tínhamos cinco minutos para nos aprontar, e eu só tinha as regalias para meus cabelos por conta de minha tia. As gotas daquela ducha eram irregulares e geladas. Caíam em conjuntos irregulares de cada vez. Nunca cobriam meu corpo todo. Ligo o chuveiro daqui e vejo que é bem diferente do de lá. Este é potente com água morna limpando-me. Tirando de vez todas as memórias ruins que aquele sanatório me trouxe. Estou livre.
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The Walls Of The City - As paredes da Cidade
Teen FictionAs paredes da cidade ampliam o medo espalhado pelas ruas de Stormswood, um pequeno município da Pensilvânia com características únicas. Quando Mayra, uma caçadora de nascença, redescobre seus ideais, uma nova visão de um mundo diferente se abre para...