São um pouco mais de cinco da manhã agora. Abro meus olhos e os esfrego para desembaçar a visão. Respiro fundo e levanto da cama, indo em direção à cozinha. Meus pais devem estar dormindo devido o horário que é, muito cedo para estarem acordados.
Meu novo gatinho branco como neve, que apelidei de Black, dorme tranquilamente em meus pés. Sou alérgica a pelos de animais, mas gostei tanto deste filhote que prefiro ficar com ele do que doar para alguém.
Saio da cama e em pouco tempo me encontro descendo as escadas. Black vem atrás de mim, me seguindo para qualquer lugar que eu vá. Acho incrível o que os animais não fazem pelos seus donos, como acordar, para poder sempre acompanha-los.
Ligo a luz da sala e me dou conta de três presenças no cômodo. Meus pais acordados, sentados no sofá olhando para o nada, e Hayley dormindo na poltrona perto deles. Vou até minha irmã, sem ligar para meus dois pais me encarando e coloco o coberto que carregava sobre as costas em minha irmã, para poder cobri-la.
Minha mãe abre a boca e começa a falar tudo que tinha pra falar. Depois meu pai. Eles mencionam todas coisas que podiam ter acontecido comido e com Hayley nesse meio tempo que ficamos fora de casa. Eles falam sem se importar se Hayley irá acordar.
Dou uma resposta rápida e volto para meu quarto, carregando Black em meu colo. Deito novamente na cama e espero dar seis horas da manhã, horário que eu normalmente me acordo.
Enquanto isso, começo e rever tudo que passei. Penso na nova amiga banshee que fiz, nos sobrenaturais que conheci e não os machuquei, na floresta e no menino alto no qual quase atirei uma flecha.
O rosto do garoto fica gravado na minha cabeça. Olhos cinza e cabelo castanho. Um sorriso lindo. Embaralho meus pensamentos rapidamente. Nunca fiquei com rostos em minha mente, com ninguém nela. Nunca uma pessoa ocupa espaço de meu cérebro para poder me atordoar.
O alarme desperta indicando a hora e me levanto. Vou até meu banheiro, escovo os dentes e escolho uma roupa. Minha cabeça dói e meus olhos quase se fecham de tanto sono. Pego um pequeno pacotinho de salgadinhos na minha bolsa da escola e como isso de café da manhã.
Pego meus materiais e desço as escadas pela segunda vez em uma hora. Não vejo ninguém na sala e por isso me direciono para a porta, para ir à escola. Encontro um bilhete na mesinha de centro. "Está tudo bem, já conversei com seu pai, só dê um tempo para ele – Mamãe", o papel dizia.
Ótimo. As coisas estão se ajeitando sem precisar fazer muito esforço. Saio de casa um pouco mais animada, mas ainda com olheiras enormes e aparência de alguém não dorme por dias.
Chegando na escola encontro Spencer sentada em uma das mesas ao ar livre, escutando música no seu IPod. Vou até ela e me sento ao lado da mesma.
– Oi Spen, bom dia.
– Oi. Porque essa aparência de morta? Quem te jogou água quente com sal na cara?
– Ninguém, só não dormi direito essa noite.
Ela assente com a cabeça e faz sinal para dois garotos que caminham em nossa direção.
– Olha quem vem ali. – Ela faz uma cara maliciosa.
– Quem são?
– Os dois novos primos que entraram agora no colégio. Um deles está caidinho por mim, o outro eu até posso pensar em deixar para você.
– Mas eu não quero me envolver com ninguém agora, você sabe. Preciso focar nos estudos.
– O mais loiro alto é o que estou flertando, ele se chama Nichols. O de cabelo castanho e olhos azuis é o Brandon – ela fala como se não tivesse escutado nada do que eu falei.
Os meninos chegam perto de nós e nos cumprimentam. Recebo um sorriso tímido de Brandon e retribuo sorrindo. Spencer começa a conversar com Nichols, deixando eu e Brandon perdidos no assunto. Os dois saem caminhando, fazendo com que fiquemos a sós.
Após alguns segundos de silêncio, o menino do sorriso radiante e tímido resolve falar.
– Meu nome é Brandon – ele diz num tom de voz reconfortante.
– O meu é Mayra. – Sorrio para ele.
– Prazer em te conhecer, Mayra...
– O prazer é meu.
– Ei... Você gosta de física? - Brandon pergunta ao ver o livro da matéria em minhas mãos.
– Eu amo! E você?
– Pra falar a verdade, sou péssimo. Não consigo entender nada! Pareço um peixe fora d'água na aula.
– Você não deve ser tão ruim assim. Conseguiu chegar ao ensino médio, isso já é grande coisa!
– Será que algum dia desses você poderia tentar me ensinar algumas coisas de física?
– Claro, é só combinar.
Um silêncio invade o clima novamente. Ele parece estar pensativo.
– Escuta... Eu sei que acabei de te conhecer... Mas será que podemos conversar sobre algo?
– Sim, quer dizer, depende do que for.
– Eu sei sobre sua família, Mayra. Sobre os caçadores. Também estou no meio desse mundo sobrenatural.
– Sério?! – pergunto, desacreditada. - Como sabe de mim? Ah... O governo sobrenatural, claro.
– Sim, exatamente.
– Mas o que você é? Digo, que sobrenatural?
– Eu sou um lobisomem da nova alcateia da cidade.
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The Walls Of The City - As paredes da Cidade
Ficção AdolescenteAs paredes da cidade ampliam o medo espalhado pelas ruas de Stormswood, um pequeno município da Pensilvânia com características únicas. Quando Mayra, uma caçadora de nascença, redescobre seus ideais, uma nova visão de um mundo diferente se abre para...