Nunca senti como se eu pertencesse a este lugar. Tudo sempre pareceu como uma fase difícil de passar, longa e demorada. Não posso afirmar que haverá uma saída do hospício para mim, mas ter esperança faz parte do processo básico para não enlouquecer. Sempre acreditei que eu conseguiria aguentar o necessário sendo otimista e então viveria a vida que acho que mereço. Talvez eu ainda acredite nisso, e espero que seja verdade.
Em meados do meu segundo mês no sanatório, minha tia-avó fez sua primeira aparição aqui. Eu a conhecia por festas familiares as quais eu não frequentava muito, mas ela se ofereceu para me ajudar com o que fosse necessário e me pediu para chamá-la de Lea, mesmo que esse não fosse seu nome verdadeiro.
Quando eu fazia perguntas sobre meu pai, Lea dizia que não conseguia encontrar as respostas ainda, e me pedia para escolher o próximo dia em que ela viria me visitar. Isso me deixava segura de que não seria abandonada, e desde então sua presença vem me suportando pelo caminho. Nunca tinha percebido o quanto dependi dela para sobreviver todo esse tempo, mesmo com as brigas e com minhas piadas que não a agradavam. Ainda busco respostas para minhas perguntas, mas creio que eu mesma as encontrarei quando preciso.
– Onde está Henry? – Percebo que Marina, a enfermeira, entrou em meu quarto sem eu perceber, uma invasão de privacidade que ela se permite cometer e que me deixa irritada.
– O que é um Henry? – pergunto.
– O seu professor. As aulas das outras crianças já começaram e seu professor ainda não apareceu. Devo me preocupar?
– Desculpe Marina, não há nada que eu possa fazer sobre isso, ligue para Lea. – Sorrio ao me lembrar das aulas e do quanto sinto saudades delas, mas Marina desaprova minha expressão e sustenta seu olhar cheio de ira sobre mim. – A não ser que você me deixe sair. Então, eu mesma posso conversar com Henry.
– Você é uma garota muito esperta, Stella. Esperta demais para estar aqui. Eu vou ligar para Lea.
– Obrigada! Você ouviu o que eu disse sobre...? – Tento completar a frase, mas a enfermeira já está fora do meu quarto. Nenhuma de nós voltou a comentar sobre o último acontecimento estranho, quando eu a forcei a perguntar algo que sabia que ela estava pretendendo desde o começo. É preciso esquecer para seguir em frente sem mais cicatrizes, de qualquer forma.
Ouço uma batida na porta, o que me assusta. Minha tia-avó nunca anuncia sua chegada, mesmo que já estivesse na hora de ela chegar. Quem mais poderia ser? Essa perspectiva ao mesmo tempo que me amedronta, me deixa feliz. Pode ser alguém ruim, mas também há a possibilidade de ser alguém que me ajude ou passe o tempo comigo.
Uma segunda batida.
– Stella Jones? – Um homem que conheço apenas de vista adentra em meu quarto.
– Eu – respondo, levantando a mão.
– Sua enfermeira matinal, senhora Castellan. Marina para você, suponho...
– O que aconteceu com ela? – o interrompo, desesperada. Será que a assustei demais? Ela parecia bem quando falou comigo, ainda há pouco tempo.
– Nada aconteceu, fique calma – o homem me responde. – Sou o Oficial John, e caso não lhe seja incomodo, gostaria de te tirar desse quarto um pouco. Poderá esperar na sala de recreação, ou na recepção.
– O que Marina tem com isso? – digo, exaltando minha dificuldade de entender o que está acontecendo.
– Ela apenas me concedeu seu nome e seu quarto, Stella. Por quê? Algo errado com ela?
– Não, nada. – Viro a cabeça um pouco para a direita, sentindo-me ao mesmo tempo que aliviada, preocupada.
– Enfim, preciso lhe fazer algumas perguntas, nada de mais. Mas, por favor, pode me acompanhar para a sala de recreação? Vai demorar um pouco para começarmos, mas preciso que esteja relaxada e de acordo. Tudo bem?
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The Walls Of The City - As paredes da Cidade
Teen FictionAs paredes da cidade ampliam o medo espalhado pelas ruas de Stormswood, um pequeno município da Pensilvânia com características únicas. Quando Mayra, uma caçadora de nascença, redescobre seus ideais, uma nova visão de um mundo diferente se abre para...