Capítulo Dez - Mayra

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Após chegar em casa tive que ouvi vários sermões de meus pais. Minha mãe passou praticamente o resto do dia até agora reclamando e gritando comigo, provavelmente por estar preocupada com a nova alcateia na cidade e por eu ter chegado tarde.

Depois de alguns xingamentos e lições de moral, meu pai se aquietou e não falou mais comigo. Agora estão os dois na sala discutindo, enquanto provavelmente Hayley está por perto escutando toda a briga.

Estou em meu quarto olhando para as paredes pensando no que fazer quando uma ideia surge em minha cabeça. Pego um mochila que está pendurada em um cabide de meu armário e algumas roupas jogadas em cima da minha cama. Coloco tudo dentro da bolsa e pego por último uma lanterna, meu celular e minha carteira.

Visto-me com uma roupa simples e confortável, calço meus tênis e estou pronta. Abro vagarosamente a janela de meu quarto e sinto algo ruim percorrer meu corpo. Nunca tentei fugir de casa, sempre fui a menininha do papai que não faz nada de errado. Mas há sempre uma primeira vez para tudo.

Preciso sair daqui um tempo para me livrar disso tudo. Para pensar no que está acontecendo. Me sinto culpada de ter tirado Stella do hospício, mas sei que ela é boa pessoa e não irá fazer mal a ninguém. Pelo menos ajudei ela em alguma coisa.

Coloco as pernas para fora da janela e me sento no parapeito. Com um leve pulinho alcanço o telhado e vou descendo sentada até a calha. Ao chegar na calha me concentro e lembro de meus treinos de salto. Pulo com os dois pés e caio em um rolinho, como se fosse aqueles filmes de ninja que assisto com minha irmã, só que na vida real.

Começo caminhar lentamente e com paços largos, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não chamar atenção e alguém acabar me vendo. Chego na rua de trás e a partir daí começo a caminhar normalmente. Acelero meu ritmo e ao perceber já estou correndo.

Avisto a floresta e sem pensar entro nela. As florestas aqui geralmente são calmas, sem perigos ou coisas do tipo. Porém fico com medo desses novos lobisomens na cidade e hesito antes de me aproximar da mata fechada.

Pego a lanterna e a acendo, iluminando todo meu caminho e as plantas ao redor. Caminho olhando para o chão e para os lados, cuidando para não pisar em algum animal venenoso.

Um barulho no meio da floresta é o motivo de eu começar a sentir mais medo do que estava sentindo antes. Olho para todos os lados apavorada, tentando encontrar o que provocou a onda sonora.

Outro som entra em meus ouvidos, agora parecendo mais próximo. Um som de galhos se quebrando e arbustos se mexendo. De repente, tudo fica um silêncio novamente. Tirando o barulho das corujas e dos grilos nada mais parece acontecer.

Uma pequena raposa selvagem aparece minha frente e solto um grito. O animal sai correndo e eu deixo a lanterna cair. Me assustei atoa, era apenas um bichano.

Continuo caminhar, agora mais confiante sabendo que não era nada de mais. Vejo algumas luzes no meio de algumas árvores e resolvo me aproximar. Afasto os galhos de minha frente, deixando minha visão limpa. Barulhos de carrinhos de compras e caixas eletrônicos aparecem por toda volta. Um pequeno supermercado em minha frente.

Decido entrar para comprar alguma comida, já que não jantei nada hoje e fui direito para meu quarto. Ao pensar em comida meu estômago se contrai, ronca pedindo algo para digerir.

Em poucos passos estou atravessando a porta de entrada. Ao entrar vejo uma pequena garota chorando e soluçando para as atendentes. Noto que de costas ela se parece muito com minha irmã, mas não dou muita bola.

– O que aconteceu, lindinha? - uma das mulheres pergunta.

– E-eu me p-perdi. - A garotinha fala e ao ouvir sua voz me dou conta de que ela é familiar.

Caminho até elas e olho para o rosto da criança.

– Hayley?!

– M-mayra!

Ela me abraça forte e não desgruda de mim. Seguro sua pequena mão e aviso para as atendentes que sou responsável por ela. Recebo olhares de espanto e desagrado como se dissessem que não tenho maturidade para cuidar de uma criança. Caminhamos até a seção de doces e resolvo conversar com ela.

– O que você está fazendo aqui? – falo, brava.

– Eu vim te procurar, papai estava preocupado, disse que você fugiu. Mas acabei me perdendo e encontrei este mercado – ela responde, agora mais calma.

– Você sabe que não deve fazer isso! E se você se machucasse, o que iriamos fazer?

– Desculpa, eu só quis te encontrar e deixar papai tranquilo.

– Tá, tudo bem. Fique aqui. Vou ali pegar um pouco de comida para nós.

Vou até a seção de biscoitos e bolachas. Escolho alguns pacotes que eu e minha irmã gostamos e sigo encontrar ela de novo. Chego na prateleira de doces novamente e não acho Hayley. Perdi ela de novo.

The Walls Of The City - As paredes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora