Capítulo Quatro - Mayra

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Nunca tinha imaginado que isso estaria acontecendo. Pego a mesma arma que usei no dia do treinamento na floresta e vou para a colina que está infestada de folhas por causa do outono. No meio da folhagem, encontro um pequeno filhote de esquilo, ele está me olhando com uma carinha tão meiga, pena que ele será minha vítima. Papai insiste em me ensinar essas coisas, já falei a ele mil vezes que não quero seguir isso.

– Você precisa, faz parte de sua família – diz meu pai já me levando ao local em que irei atirar no pobre esquilinho.

– Mas eu não quero, este ser vivo não merece morrer, pelo menos não ser morto por mim, porque eu não vou fazer isso! – falo me sentindo meio sentimental.

– Ah, pare! Você já matou tantos insetos, pense que este é um inseto, mas apenas cinquenta vezes maior – rebate ele sem dó nenhuma.

Neste momento atiro a flecha no pobre bichinho, a flecha que atiro não está com acônito ou algo venenoso para sobrenaturais, afinal, é um esquilo. Me sinto um animal por ter feito isso, mas já vi que vou ter que fazer isso para o resto da minha vida, o único diferencial vai ser que vou matar pessoas, quer dizer, para o meu pai vou matar monstros, mas para mim não, eles não escolheram ser assim.

***

Meu pai estaciona o carro, e logo vem minha mãe correndo me perguntar como foi minha primeira aula, digo que foi normal, apesar de não ter gostado de nada. Minha mãe era como eu, sentia pena de tudo e todos, mas ela perdera este com o tempo.

O aniversário de Hayley está para chegar, então estou me arrumando para ir de novo ao shopping. Hayley já irá fazer oito anos, parece que foi ontem que nasceu.

– Maninha, o que você está fazendo? – Hayley entra no meu quarto e interrompe meu devaneio.

– Vou ao shopping, comprar seu presente, eu convidaria você, mas como é surpresa vamos deixar para outra dia você ir comigo.

– Filha, acho melhor você não sair. – Minha mãe entra e se intromete. – Hayley querida, vá para a sala com seu pai, ele está te esperando para fazer cruzadinhas com você – ela acrescenta.

Hayley faz o que foi pedido.

– O que foi, mãe?

– Tem uma nova alcateia de lobisomens na cidade, é melhor você não sair, eles sabem que agora você é caçadora, e vão tentar te matar.

– Não mãe, pare de bobagem!

Não estou escutando o que ela fala, simplesmente pego minha bolsa e saio, não vão me atacar, eles não podem.

* * *

Devia ter escutado minha mãe, estão me perseguindo, sei que são eles, na verdade ele, só há um dentro do carro que está atrás de mim. Resolvo estacionar, ver se eles estão mesmo me perseguindo. Estou calma. Mas não, ele para ao meu lado, pergunto se quer alguma coisa. Ele não responde. Agora sim, fico com medo. Ele está chegando mais perto, quando eu pego meu arco e flecha que já se tornara meu favorito e atiro uma flecha no ombro esquerdo. Me esqueço de apenas uma coisa. Aquela flecha não está com acônito, o que não serviu para nada, pois lobisomens se curam muito rápido.

Percebo que ele ficou bem ofegante, me lembro que papai na hora do treinamento, me entregou um frasco minúsculo com um líquido amarelo, sim, aquilo era acônito. Rapidamente derramo o líquido do frasco na ponta de outra flecha. Atiro. Mato meu primeiro lobisomem.

Chego em casa abalada. A primeira coisa que falo à minha mãe: "matei um, EU matei um"

– Filha, o que aconteceu? – minha mãe pergunta em relação a minhas palavras.

– Tinha um lobisomem, e então eu atirei, mas não matou, a flecha não estava envenenada, dai não fez nem cócegas nele, e aí tinha acônito no meu bolso, atirei na flecha e...

Minha mãe me interrompe antes que eu possa terminar. Eu estou bem agitada.

– Calma meu bem, basta você não falar a ninguém. Tome seu banho e vá dormir, amanhã conversamos mais sobre isso – diz minha mãe como se já tivesse previsto isso.

Resolvo seguir seu conselho, vou para o banheiro da minha suíte. Meu banho sempre é relaxante e me acalma, mas hoje, mil pensamentos não me deixam descansar. Para qualquer outra pessoa isso é normal, mas quando se mata alguém pela primeira vez, mesmo que seja alguém que ia me fazer mal e seja um lobisomem, você fica em choque.

Lembro de uma pequena coisa que era a principal para eu ter feito e eu esqueci. O presente da Hayley. Acho que conseguiria ir com a Spencer outro dia, assim não estaria sozinha.

Acabo meu banho, boto meu pijama de unicórnios que é meu favorito, e vou deitar. Amanhã tem aula, pressinto que vou conhecer alguém amanhã.

The Walls Of The City - As paredes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora