Capítulo Onze - Aiden

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Então, a garota solitária se chama Stella. Ótimo, porque Rose não é boa em ser recepcionista, não precisa do dinheiro e não quero ninguém na rua ou endividado no meu hotel. Stella pode ser a recepcionista, e pode fazer alguns serviços extras também.

– Bem, eu disse que tenho uma proposta para você – falo, apoiando meu peso na porta do escritório. Stella levanta as sobrancelhas.

– Quem você acha que eu sou? Uma prostituta? – diz a garota. Dou uma risadinha.

– Não, nada disso. Quer ser minha assistente? – pergunto, e Stella cruza os braços.

– Não seria tão ruim. – Ela sorri. – Posso trabalhar em troca de um quarto no hotel.

Sorrio também. Stella será muito útil para mim, fazendo as coisas que eu não tenho paciência para fazer.

– Sua primeira tarefa é simples. – Pego a lista amassada de itens para comprar do meu bolso e entrego para a garota curiosa á minha frente. – Vamos ao supermercado, comprar essas coisas aí. Temos que alimentar os idiotas.

Stella não tira seus olhos da lista, lendo tudo atentamente. Em um instante, ela franze as sobrancelhas.

– Desculpe, mas não consigo fazer isso. Da onde eu venho não tem esse tipo de comida. – Ela aponta para a lista. – Que diabos seria "Oreo"?

– São biscoitos, ok? – Arranco a lista de sua mão, fingindo estar ofendido.

Ela cruza os braços.

– E por que você precisa comprar tantas caixas de isopor? Vai comprar bebidas alcoólicas e fazer uma festa?

– Não. Vou colocar carne embaixo do seu travesseiro e preciso de um lugar para guardar. – Dou um sorriso torto e Stella olha para os pés.

– Até dormir com carne crua é melhor do que voltar a dormir naquele lugar horrível. – Ela suspira.

– Você morava num cativeiro? – falo brincando, tentando melhorar seu humor, mas Stella continua com sua aparência triste.

– Não, mas era como um cativeiro – diz a garota, puxando a porta e saindo do escritório. A sigo logo atrás, e saímos do hotel. Um carro Mercedes-Benz, prateado e conversível espera por nós.

– Esse é o seu carro? – Stella pergunta, de boca aberta. Apenas sorrio e entramos no meu novo carro, a caminho do supermercado.

***

– Eu vou para o corredor das bebidas, e você compra pão – digo para Stella quando chegamos.

– Já estou indo. – Ela sai do carro e vai correndo para dentro do supermercado. Observando-a ir, sei que ela está meio insegura mesmo não a conhecendo á muito tempo. Se eu fosse uma pobre garota sem amigos e que tivesse estado a vida toda em um "cativeiro", eu também me sentiria assim.

Saio do carro e vou ao supermercado. Chegando ao corredor de bebidas, vejo uma garotinha, de aparentemente sete anos, se esticando para pegar um suco de uva.

– Olá, qual é o seu nome? – pergunto para a menina. Ela sorri.

– Hayley. – Sorrio também.

– Então, Srta. Hayley, vou pegar esse suco aqui em cima e entregar para você, porque é isso que cavalheiros fazem – Hayley dá uma risadinha e entrego o suco á ela. A menina apenas agradece e continua em pé, sem fazer nada.

– Você está perdida? – Ela assente com a cabeça. – Posso ajudá-la a encontrar seus pais?

– Minha irmã, na verdade – diz a criança.

Hayley sorri e pega minha mão. Passamos por alguns corredores, até que Hayley solta minha mão e vai correndo em direção á duas garotas. Uma delas é Stella, que quando me vê, dá um sorriso sem graça. Retribuo o sorriso e observo a menina encontrar sua irmã.

– Hayley, como você veio parar aqui? – fala a irmã da garotinha, abraçando-a.

Sorrio para aquela cena. Eu sou um herói, ajudando criancinhas indefesas e perdidas em supermercados. Realmente, eu sou o novo Superman.

– O homem bonzinho me ajudou! – diz Hayley, sorrindo para sua irmã.

– Homem bonzinho?! – exclama Stella, rindo. A irmã de Hayley levanta os olhos e me observa. De repente, ela abre a bolsa e retira um pequeno arco e flechas de dentro e atira, rapidamente.

Fecho os olhos. Ela atirou em mim, com certeza estou morto. Como nada acontece, abro os olhos.

– Estou vivo? – pergunto, ofegante. Nada de flechas em meu peito, nem em nenhum outro lugar do meu corpo.

– Cara, você já não tá no mundo dos vivos há um tempinho – fala uma voz desconhecida. – E quando chegam vampiros novos no pedaço, se o Garrett não gostar, é mais uma morte para o seu histórico. E quem é essa princesa aqui? – continua a voz, se referindo á Stella.

Olho para o lado e vejo um homem jovem, alto, negro e com cabelos estilo militar, segurando a flecha que a irmã malvada de Hayley tentou atirar em mim. A garotinha já estava choramingando, sua irmã tinha uma expressão raivosa e Stella apenas se mantinha surpresa.

– Uau! Mayra, por que não me disse que no mundo de hoje em dia as pessoas atiram flechas umas nas outras? – diz Stella. – Assim, eu teria ficado no sanatório!

Os humanos que fazem compras ao redor passam e sussurram coisas como "essa menina é maluca", "vamos sair daqui" e "vou chamar a polícia". Infelizmente, muitas pessoas assistiram o ataque de Mayra, a irmã de Hayley, mas ela parece indiferente em relação aos comentários.

– E eu pensava que era a louca – continua Stella. Mayra permanece em silêncio.

– Ei, ninguém é louco aqui, exceto por mim – diz o homem ao meu lado, com a flecha. – Eu é que estou louco por você, gatinha. E a cupido Sprenbell. – Ele aponta para Mayra – Quase fez um bom trabalho. Mas não é preciso cupido nenhum para se apaixonar por você. – O homem, que agora descubro não ter muito mais do que minha idade, observa Stella, com um sorriso, e ela franze a testa. – Pelo visto, é uma banshee. Não tem problema. O Erik curte qualquer espécie.

– Quem é você? – pergunta Stella, indignada. – Apareceu do nada! E você, Aiden, é um vampiro! Estava tentando me fazer de refeição? Talvez aqui no supermercado mesmo, colocando um pouquinho de sal... – Ela cruza os braços. – O que há de errado com vocês?

– Não há nada de errado, Stella, nada... – começa Mayra. – Só aconteceu que um vampiro, que por acaso é seu amiguinho, sequestrou a minha irmã e trouxe mais vampiros para o supermercado também. Provavelmente, eles vão sequestrar a mim e você também! – Mayra abraça sua irmã mais forte e segura firme em seu arco.

– Eu, sequestrei alguém? – pergunto, com meu fiel sorriso falso. – Você perde sua irmã no supermercado e tenta atacar alguém que só ajudou a Hayley. Se situa, garota!

Mayra já estava pronta para responder, mas a polícia chega e a prende. Stella e eu também somos levados. O garoto, Erik, ficou com Hayley, que estava dando o número de seus pais para um policial.

– Eu nem consegui comprar Oreo! – falo, e sou arrastado para dentro do carro de polícia.

Na próxima vez, Stella irá ao supermercado sozinha. Eu nunca pensei que uma simples ida as compras poderia ser tão perigosa assim.

The Walls Of The City - As paredes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora