Mortos-vivos passeam por toda a casa. São mais do que eu pensei, eles andam devagar, com dificuldade e tiques em todo o corpo. Os vemos pela uma pequena brecha do alçapão enquanto esperamos o momento certo para invadir a sala e atender o telefone que por algum motivo esta com a linha funcionando novamente. O telefone para de tocar, mas ainda tenho esperança de que toque de novo. Todos os zumbis estão distraídos em outras direções; como as escadas, um dos corredores, a porta principal que está trancada novamente, e a sala de estar.
Saimos do porão rapidamente e com o mínimo de ruídos possíveis. Corro pro telefone perto da sala seguinte e espero pela chamada enquanto Nicollas, Ana e Shopia se preparam para atacar quaisquer que tentarem me empedir.
Espero impaciente, mas nenhum toque é ouvido. Os zumbis ainda não nos viram, mas não vai demorar que aconteça. Preciso atender o telefone e pedir ajuda, pedir socorro pra alguém. Estamos em situação crítica, precária... entre a vida e a morte. A qualquer momento sofreremos um ataque, e de novo! será fatal.
O telefone toca.
- A-alô! Alô, quem fala? - Digo.
Shopia me manda andar rápido.
- Alô! Charles?
- Tia Marta! É você?
- Sim Charles!Sua voz soa nervosa e preocupada. Como ela sabe o número daqui? Pura sorte! Só pode. Preciso aproveitar essa chance única.
- Tia, escuta; preciso que você...
- Eu sinto muito Charles!
- Sente muito? Pelo quê, tia?
- Pelo seus pais! Você precisa voltar já Charles!
- Do quê você está falando Tia?
- Ai meu Deus! Ela não te disse?
- Ela? Disse o quê tia? Fala logo.
- Uma mulher que me disse que controlava a casa, me ligou nesse número agora pouco perguntando sobre seus pais, dai aproveitei e já pedi pra lhe dar a notícia.Meu coração acelera a espera do pior.
- Que notícia? Fala!
- Seus pais morreram num acidente de carro.Sofro um baque emocional e fico sem palavras por alguns segundos.
- O seu primo, Filipe, estava no carro, mas ele sobreviveu e disse que tinha uma mulher no meio da estrada mas depois sumiu... por favor, volta logo pra casa, só estamos te esperando para o enterro. Eu sinto muito, Charles!
Ela matou os meus pais no Brasil. Me sinto imponente, me sinto sem chão.
- T-tia! Eu preciso que você chame a Polícia e... alô? Alô? Tia Marta?
Solto o telefone e caio sentado no chão pronto pra chorar, mas nem tempo pra isso eu tenho.
A voz da tal mulher ecoa em minha cabeça.
- Eu matei as pessoas que você mais amava, Charles! Mas ainda restam algumas... ninguém terá a vida poupada até que eu tenha o que eu quero.
Grito de ódio.
- Charles! venha, eles nos viram! - diz Ana.
Primeiro uns dez, vinte, trinta, sessenta zumbis nos cercam. Nicollas abre o caminho decapitando alguns deles enquanto ataco os de trás e Ana e Shopia os que vierem de outros cantos. Estamos bem perto do alçapão. Um homem me pega pelo braço e o morde, eu lhe enfio o punhal no peito mas ele continua vivo; ou pelo menos andando. Ana volta e lança com toda força um batedor de carne em sua cabeça; que rola pelo chão. Outro que está com um pedaço de pau na mão tenta me atacar, mas eu o derrubo primeiro. Ana é agarrada pelas costas e arrastada pra longe. Tomamos mordidas e porretadas tentando não se afastar de Ana.
- São muitos! - grita Nicollas.
- Eu sei! - digo.
- Não podemos deixar a Ana pra trás! - Grita Shopia.Difícil aceitar, mas não vamos conseguir salva-la. Consigo vê-la um pouco longe e se afastando. Ela grita.
- Vamos ter que entrar no porão sem ela! - digo com muito receio.
- Não! Eu não vou sem ela! - Grita Shopia.Ela pega o facão de Nicollas e sai decidida e corajosamente em direção aos gritos de Ana; que vai no rumo da cozinha.
- Ana! Ana! - grita ela enquanto chora e decepa algumas cabeça.
- Shopia! Vai embora! Vá pro porão! - grita Ana.
- Eu não vou te deixar, Ana!
- Me deixe! Por favor, Shopia! - grita de volta.O volume de seus gritos vai diminuindo.
- Shopia! Vem! - diz Nicollas enquanto a puxa.
Tento manter todos bem longe de nós.
- Me larga Nicollas! Eu não vou sem ela! - Grita Shopia mais ainda.
- Sinto muito Ana! - murmuro claramente para que ela leia os meus lábios. Ela assente e chora. Puxo Shopia pra bem perto do alçapão. Ela me bate e grita histéricamente; grita de um jeito que nunca vi antes.
- Ana!
- Vamos Shopia!
- Me solta! É a Ana!O ultimo grito de Ana chamando por Shopia desaparece devagar. Shopia grita até o último segundo aqui.
- Ana! Por favor não vá, Ana!
Ouço um grito de medo vindo de Ana seguido pelo som de uma serra elétrica vindo da cozinha.
Descemos.
- Cadê a Ana? - pergunta Beatriz.
- Eles pegaram ela! Eles mataram a Ana! - digo.Arremesso com ódio o punhal; que finca na parede.
- Ai meu Deus! Eu sinto muito! - diz Emma.
- A mulher que nos mantém aqui matou os meus pais! Ela matou eles no Brasil! Nem tive tempo de pedir ajuda! - choro.Sarah segura as lágrimas enquanto consola Shopia. Bea se encolhe num canto, Max não reage e Nicollas fica imóvel esperando o choque passar. Emma me abraça.
Tom me entrega timidamente as folhas do jornal.
- Charles! - diz Paul - tenho uma notícia pra dar a todos vocês.
- O que é Paul? - diz Emma.
- Andei lendo o jornal, e vi que essa mulher não foi a única a morrer aqui! Seu marido e mais seis casais conhecidos foram assassinados por ela, ambos americanos que estavam de férias entre amigos nessa casa junto com seus filhos. Ela matou seus amigos pois queriam tomar seu filho após perceberem que ela não tinha condições mentais para cria-lo. Depois de ter ganhado seu filho aqui mesmo nessa cidade, na beira do mar, ela assassinou seu marido por ciúmes do bebê, no local do parto, só que o corpo dele só foi encontrado alguns dias depois de ela ter matado seus amigos aqui na casa e suicidado no sótão. Cada casal tinha um filho recém nascido que havia vindo ao mundo aqui mesmo na cidade durante suas férias. Estes filhos eram: ANA SMITH, BEATRIZ ACCOLA, MAX PHILIPS, NICOLLAS WILLIANS, SARAH RUTENFORD E SHOPIA MITCHET e o filho da tal mulher, RACHEL GOODSPEED se chamava... seu filho se chamava CHARLES GOODSPEED. As crianças depois de terem ficado órfãs foram adotadas por sete casais brasileiros que também eram amigos, e dai tiveram seus sobrenomes alterados. Ela te quer Charles! Te quer só pra ela! Ela já matou por ciúmes antes, e vai continuar matando todos que te amam, até você não ter mais ninguém.
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Sete Medos(Em Revisão)
HorrorUma viagem para a Irlanda com os amigos que tinha tudo pra dar certo. Era pra ser perfeito, era! mas não foi. Era pra ficarmos sozinhos, longe de tudo e de todos... mas não estávamos sozinhos.