Capítulo vinte e sete

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Precisamos sair agora! Antes que o próximo ataque venha.

- Calma Nicollas! Não quer dizer que seu medo venha direto para você necessariamente. Por exemplo: O Max nem chegou perto dos zumbis, até agora - fala Sarah.
- Eu sei! Mas pode ser com qualquer um.
- Não vai acontecer nada! Mas pra isso precisamos ir agora.

Saimos pra fora e vemos que os zumbis estão todos na cozinha; provavelmente disputando a carne da Ana.

Pensar nisso me enjoa e faz bater a vontade de chorar; coisa que não tenho tempo pra fazer, pelo menos não agora. Saimos do porão e vamos em direção as escadas.

A voz da minha mãe ecoa novamente pela casa. A porta se abre. Paramos.

- Charles! Meu filho, te dou a chance de não presenciar a morte de seus amigos. Saia agora! sozinho, ou veja cada amigo seu ser executado.

Estou paralisado olhando para o mundo lá fora totalmente escuro. Apesar de ama-los, por um segundo tive vontade de cruzar aquela porta. Mas sei que nenhum deles fariam isso comigo. Também pensei em tentar passar todos juntos, mas ela os mataria de uma vez só.

- Vai ficar esperando! Mamãe.

Subimos. A porta se fecha.

Entramos no corredor que estava trancado e vamos em direção a entrada do sótão.

De repente Max para.

- O quê foi? - pergunto.
- Ela está me obrigando a fazer isso!...
- O quê Max? Precisamos ir! Aqueles mortos vão nos ver! - diz Nicollas enquanto se aproxima dele.
- Não consigo me controlar - chora Max - vão embora! Me deixem pra traz! Agora! - grita.
- Claro que não vamos sem você Max! Vem! - diz Nicollas.
- Não se aproxima de mim Nicollas! Por favor.
- O quê? Por quê?

Max pega Nicollas com uma gravata no pescoço e tira uma faca de dentro da calça.

Todos soltam uma exclamação de surpresa.

- Calma Max! - digo.
- Ela está me controlando! Falando em minha cabeça... ela não vai me deixar parar.
- Ai meu Deus, Max! - diz Sarah.
- Calma! Tenta se controlar - digo enquanto me aproximo devagar.
- Não consigo... e-ela é mais forte! - ele chora.

Ele aperta mais o pescoço de Nicollas; que está imóvel, e levanta a faca pronto pra crava-la.
- Para Max! - Grita Beatriz.

Ele finca a faca no peito de Nicollas fortemente.

Todos gritam.

- Não!
- Ai meu Deus!

Max desmaia depois de o espirito de minha mãe sair dele, e Nicollas cai, mas eu consigo segura-lo antes de se encontrar com o chão. Eu me sento e apoio sua cabeça em meu colo, seu sangue jorra em minhas mãos sobre seu peito, mas não ligo.

- E-Eu... - gagueja ele.
- Não fala nada - interrompo.

Minha última conversa com ele... eu havia gritado com ele!

Nicollas está muito mal. Percebo o que está prestes a acontecer, e choro, choro muito.

- Vai ficar tudo bem - minto.

Mas nós dois sabemos que não vai, meu choro e minha voz deixam claro isso. Tento me conter, mas as lágrimas dessem automaticamente. Nicollas tenta dizer algo mas não consegue dizer direito.

- F-fique bem! - diz ele.
- Cala a boca Nicollas - digo com a voz tremula.

Ele dá um sorriso forçado.

- E-eu te amo cara!
- Não fala nada, por favor!
- C-cuide da Sarah... c-cuide de todos...

O medo de perder mais alguém me faz querer morrer junto, ainda mais alguém tão querido quanto o Nicollas; um companheiro de uma vida.

- Vai ficar tudo bem... vai ficar tudo bem irmão! - insisto ainda chorando.

Ele me olha em despedida, Seu corpo fica mole. Minhas mãos tremem e sinto como se meus pulmões ardecem por dentro. Daí eu vejo a vida fugir dos olhos do meu melhor amigo. Ele se foi. Nicollas morreu.

- Não! Não pode ser meu Deus.

Sarah cai de joelhos e cobre o rosto.

- Por favor! volta pra mim - diz ela se aproximando.
- Por favor! Não vai - digo. Mas ele já se foi.

Abraço o seu corpo fortemente, e as lágrimas saem de verdade. Soluço e chamo por Nicollas numa tentativa inútil de acorda-lo. Todos me puxam, mas não quero ir, quero ficar aqui! Com ele! Mas não posso. Encosto sua cabeça no chão e tendo fugir dali esbarrando na parede, caio de joelhos depois de cinco passos. Eu grito e dou socos no chão. Grito de raiva, de angustia, de medo... escoro na parede, mas as lágrimas ainda dessem, meu corpo ainda treme. A dor é insuportável, é pior que qualquer dor física, doi lá dentro, doi na alma. Começo a soluçar novamente e minha respiração não sai mais naturalmente. Esqueço todos em volta, deveria tentar consolar Sarah, mas não estou em condições pra isso, eu quero continuar chorando e gritando, preciso expressar a reação exata que alguém deveria após seu melhor amigo... seu irmão! morrer nos seus braços. Escutamos passos pela escada. Max acorda chorando e se perguntando o que ele fez.

- Presisamos ir - diz Emma.

Ela me ajuda a levantar e vamos correndo para o fim do corredor; na verdade, vou quase arrastado.

O corpo de Nicollas fica pra trás. Fica pra trás como se não fosse importante, como um lixo... como um nada.

Odeio ela... odeio a minha mãe.

Sete Medos(Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora