Jorge ter um dia daqueles

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Ver Aline se estabacar na calçada foi assustador e hilário, não tinha jeito, não dava para pegar aquela garota sem aviso.

Fiz a volta, seguindo para a Paulista, em dez minutos cheguei no estacionamento do escritório, como sempre, meu pai me ligando.

O mais interessante de tudo, era um homem de 27 anos, vestido socialmente de terno e gravata, sapatos bem lustrados, pasta e processos numa mão e o Junior, um buldogue Inglês na coleira, não tinha como não chamar a atenção, e não tinha como não parar para as moças graciosas darem bom dia ao meu pobre cachorrinho babão que se derretia com os carinhos, levava todos os dias 20 minutos do estacionamento até o Luma de oliveira, meu cachorro tinha até crachá que ia preso há coleira, era bem menor, mas mandei fazer especialmente para ele.

- Bom Dia Juscelino. - Cumprimentei o segurança de plantão.

- Seu Jorge, como vai, e o nosso mascote? - Juscelino sorriu ao ver Junior passar por ele rebolando por não ter o rabo para balançar e informar de que estava feliz.

-Todos estão aí? - Perguntei apanhando minha correspondência.

- Sim... E aquela cliente escandalosa também está aí.

- Meu Deus... As vezes me sinto dentro de um filme de terror.

Juscelino caiu na gargalhada, eu dei risada, pois era o que me restava, entrei no elevador junto com mais meia dúzia de pessoas, Junior se sentou a minha frente e em cima do meu sapato, eita, bunda pesada aquela.

- Bom dia Jorge.

- Bom dia Eliana. - Sorri.

- Você está usando batom ou andou beijando alguém.

- Puta que pariu! - Puxei o lenço do bolso completamente envergonhado. - Obrigado por avisar.

- Ela ria ao meu lado, se não tivesse a idade da minha mãe, eu a mandaria a merda.

- Sem problemas... Melhor ter marcas de batom de um mulher do que chupões.

- É... Tenho que concordar, também não gosto... Prefiro batom.

- Namorando?

Olhei para Eliana.

- Quase casado... - Franzi o cenho pensando no que tinha acabado de dizer, por outro lado foi até bom, assim Eliana parava de dar em cima, ou quase.

Desci no decimo andar, Junior já correu para a mesa da Carol que já balançava o biscoitinho para cães.

- Bom dia Jorge. - Carol se levantou. - Seu pai e sua cliente te esperam na sala de reuniões.

- Diz que a Regina não está usando nada transparente e nada vulgar?! - Estava em suplica.

Carol deu risada, logo entendi que a mulher estava um escândalo em pessoa, deste jeito não dava, puxei a pasta e dei a Carol e segui com o processo para a sala de reuniões.

- Bom dia, desculpem o atraso... - Disse abrindo a porta, ao me virar, vejo aquela senhora com uma camisa de seda ultra transparente, usando um sutiã de lantejoulas por baixo, uma calça leg branca, ela fez menção de se levantar, seu sorriso foi de orelha a orelha, estendi a mão rapidamente impedindo que se levantasse.

- Fique a vontade, eu já vou me sentar. - Apertei sua mão e me sentei ao lado do meu pai, não estava a fim de ser beliscado, apalpado, etc.

Sabe aquele tipo de cliente que você explica dez vezes e a pessoa não entende, pois bem, Dona Regina era assim, queria tudo no mínimo detalhes, e não sei como o filho conseguiu dar uma rasteira na própria mãe já que ela é tão controlada e observadora, para todos os efeitos, ela desconfiava de todos, mas não desconfiou do único que vivia com ela, resultado, foi interditada judicialmente e não estava sendo fácil reverter, mas Aline me ajudou a achar uma brecha e uma interpretação sutil na lei que podia usar a favor, e lá fui eu depois para o fórum tentar ter uma palavrinha com o Juiz, para minha sorte, Junior era o centro das atenções, consegui argumentar e ele aceitou que eu incluísse mais uma pagina no processo.

Depois do almoço passei o dia lendo outros os processos, por sorte não tinha que ir ao fórum, eu tinha o dia para ficar onde estava.

- Jorge? - Chama meu pai assim que entra no meu escritório.

- Oi Pai... O que manda?

- O Juiz Marco Aurélio me ligou... Você está com algum problema com a casa? - Papai puxou a cadeira e se sentou.

- Estava... Mas já resolvi, não se preocupe.

- Sabe que não consegue esconder as coisas de mim.

Ficamos nos olhando, respirei fundo, eu odiava ter que falar sobre a merda da minha vida, ainda mais quando estava a favor deles.

- Quer saber?... Estou morando com uma garota.. - Abri os braços.

Papai caiu na gargalhada.

- Como morando com uma garota, você ficou maluco Jorge. - De risos ele foi aos berros, cruzei os braços e fiquei escutando. - Você só faz merda!

- E qual é o problema de morar com uma garota... Ou você preferia que eu estivesse com um garoto... - Fiquei olhando para ele caminhar na minha sala.

- Desde que saiu de casa, só meteu os pés pelas mãos... E agora morando com uma garota que nem conhecemos... E se ela engravidar?

- Se ela engravidar... Eu faço o que fez... Me caso. Qual o problema. - Cocei a cabeça. - senta aí e me deixa contar direito.

Meu pai se sentou e aos poucos fui contando sobre o que aconteceu, as medidas legais e o acordo, cada um na sua, mas cada um se ajudando, nada que denegrisse a vida da família Quintino, que sinceramente, não achava assim tão importante, mas ele fazia questão de preservar o nome, e que fizesse isso sozinho, eu sabia bem o que queria da minha vida.

- Mais calmo?

- Veja bem o que vai aprontar com uma garota dentro de casa.

Vi Junior sair sorrateiramente do escritório, me levantei para segui-lo, ele era louco para deixar seus presentes num lugar que era visível, ainda estava difícil de educa-lo para usar o tapete fralda no banheiro no meu escritório.

- Junior? - Chamei dando a volta na mesa, ele me olhou, levei as mãos a cabeça. - JUNIOR... - Corri atrás dele pelo escritório, Junior estava com a calcinha de Aline na boca, correndo entre as mesas dos funcionários que riam com a perseguição que fazia, a calcinha na boca dele me matando de vergonha, quando consegui pega-lo, eu estava agarrado a ele, com a calcinha babada na mão e todos me olhando. - Junior.... - Choraminguei tapando o rosto com a mão livre, Adeus o cheiro de Aline.

O InquilinoOnde histórias criam vida. Descubra agora