O Inquilino

Jorge

Segui para São Paulo as pressas, ainda bem que Aline não está comigo, pois com certeza iria me interditar, dei risada e segui. A todo tempo olhava para traz, sentia a falta do meu cachorro, como em tão pouco tempo me apeguei a um ser tão fofo como aquele.

Cheguei no fórum correndo, a Marginal pela primeira vez contribuiu para minha chegada.

A audiência foi cansativa, mas produtiva, conversei com meu cliente, tomamos café com calma e cada um seguiu para sua casa. Agora a Marginal estava parada pelo transito, duas horas para conseguir chegar a bandeirantes, mais uma hora para alcançar a entrada da imigrantes, meu estoque de barras de cereal tinha acabado, assim que consegui atingir a estrada, afundei o pé no acelerador.

Quando achei que já estava livre do transito e tranquilo na estrada, sou  parado, não acreditei, abri a janela e esperei o policial se aproximar.

- Documentos e saia do carro, por favor. – Disse o policial na minha janela, peguei o celular e enfiei no bolso, puxei a carteira e desci do carro, o frio na estrada estava rasgando a minha face, puxei o documento do carro e minha CNH.

- Aqui... – Entreguei para o policial.

- Sabia que estava a 120 numa parte que é para andar a 90? – Ele me olhou severo.

- Desculpa... Não vi... o ponteiro do velocímetro.

- Sei... – O homem olhou para dentro do carro e viu um buquê de rosas.

Automaticamente meu celular começou a tocar, pisquei várias vezes para o policial.

- Pode atender se quiser. – O policial puxou o bloquinho de multa.

- Merda... – Disse baixo, puxei o celular e atendi.

(Aline)
Já passava das 19:00 e Jorge ainda não tinha chego, e eu já começava a ficar preocupada. Eu sabia que ele tinha me dito que não era sua namorada ou esposa pra me preocupar com ele, mas era inevitável! Ele já devia estar em casa. Eu decidi telefonar, corria sérios riscos de ele me dar outro fora, mas eu tinha que ter certeza que ele estava bem. O telefone chamou e logo após o primeiro toque ele me atendeu.

- Jorge?!-meu coração disparou. - Você está bem?

(Jorge)
- Estou... Estou parado na policia rodoviária... - Passei a mão pelos cabelos. - Ganhando uma multa... Como você está e o Junior!?... Se comportou bem?... Ficou chorando a tarde inteira!?

(Aline)
- Por que ganhou uma multa?- ignorei seu sarcasmo- Estava em alta velocidade, Jorge?

(Jorge)
- Ah... Um pouquinho só... - Fiz uma careta. - Me fala do Junior, por favor?!

Era a primeira vez que deixava Junior com outra pessoa, estava preocupado com ele.

(Aline)
-Júnior está ótimo! Ele é um garotinho obediente ao contrário do pai dele. O que eu faço com você, Jorge?

(Jorge)
- Eu não sei... Mas chego aí em uma hora, estou com saudades e estou levando muito sorve... Quer dizer, milk-shake agora!.. - Dei risada. - Estou louco para chegar em casa e ver você e o meu bebê.

O policial me levou para dentro da cabine do posto policial, hora do teste do bafômetro, estava frio demais para ficar do lado de fora.

(Aline)
- Seu bebe aprendeu a fazer coco no lugar certo. Me deve essa! E a propósito, você está de castigo por causa dessa multa.

(Jorge)
- Mas o castigo é bom ou ruim? - Cocei a testa. - Não pensa em me deixar de abstinência, a gente mal começou!- levei o canudinho a boca e assoprar.

(Aline)
-Você me prometeu que iria dirigir com cautela, Jorge! Sabe o que fazemos com criança que desobedece?

Tiramos aquilo que ela mais gosta!

(Jorge)
- Vai tirar o meu carro? ou meu filho? - Comecei a suar frio. - Pode ficar com o carro, mas com o Junior não!

(Aline)
-Vou confiscar as chaves do carro e fazer greve.

(Jorge)

- Mas... E todo esse sorvete, chocolate, caramelo... E o chantilly na geladeira? - Comecei a rir. - Vou ter que usar meus dotes de advogado e barganhar isso...

Me sentei para esperar me devolverem o documento, respirei fundo.

- Olha princesa... Tenho que desligar agora... Dentro de uma hora estou aí!

(Aline)
- Estou brava com você, Jorge! - finalizei a chamada.

(Jorge)
Fiquei olhando para o celular e fiz um bico, coloquei no bolso, o Policial olhava para a minha cara.

- Sua esposa e brava, também com seu histórico de batida de carro, fuga da policia, até eu confiscaria seu carro. - O policial me entregou o documento, peguei praticamente de boca aberta. - Quantos anos tem seu filho?

- Filho?

- É... Junior!

- Ah... - Dei risada. - Está para fazer 9 meses em uma semana. - Me levantei. - Eu sou pai solteiro... - Acenei para o policial e saí.

Mal entrei no carro e caí na gargalhada, liguei o carro e fui para casa.