Capítulo 27 - Contas a acertar

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Chuck Shurley embalava uma melodia em seu estúdio. Os acordes do violão soavam tranquilamente enquanto seus dedos comandavam cada nota. Ele sabia que ele estava vindo. Teriam uma conversa séria. Respirou fundo e continuou sua música. Tentou emendar uma canção, mas não conseguiu. Foi interrompido pela energia que se aproximava velozmente. Dean estava irado. Mais que isso. O amor que um dia sentira dera lugar a um ódio nunca antes conhecido por ele. E Chuck já vivera muito para classificar algo como "nunca antes conhecido".

Levantou-se, acomodou seu instrumento no suporte e rumou para a saída. Não queria que Dean destruísse sua sala de instrumentos e partituras. Havia trabalhado por eras para em breve compor uma nova melodia ao universo.

− Oi, Dean.

− O cacete, seu verme.

Chuck mal tivera tempo de responder quando sentiu seu corpo chocar em uma árvore. Dean era puro ódio. Não seria fácil acalmá-lo.

− Vamos conversar, garoto. – Levantando-se e afastando os galhos e folhas de seus ombros, Chuck avançou. Dean estava preparado. Luzes claras e escuras misturavam-se na batalha sangrenta. Aquela casa solitária na floresta em que Chuck adorava se isolar não resistiria, isso ele tinha certeza. Transportou-os para um outro plano espiritual. A Terra novamente.

− Você transformou minha vida num inferno, maldito. – Sangue vertia dos olhos do hunter no lugar das lágrimas. Ele estava fora de si. Guardara aquele momento por muito tempo.

Chuck desviava dos golpes, aparando os ataques da adaga sagrada que Dean portava. Precisava ser rápido. Dean precisava entender logo antes que fosse tarde.

− Corre não, covarde! Você não vai escapar dessa vez.

Chuck atravessava como um raio arbustos e montanhas. Precisava chegar ao seu destino logo, e o outro entenderia tudo. Algo, porém, atrasou sua corrida. Uma fisgada na perna o fez cair, arrastando por vários metros antes de ter seu corpo pressionado por Dean, que o espancava com todas as forças. Droga. Ele era Deus, mas Dean estava marcado pela pior maldição possível. As lembranças de Lúcifer batalhando contra Miguel veio a sua mente. Se não parasse Dean, teria de eliminá-lo.

− Se eu vou você vai junto. É, cara. Eu tô ouvindo você pensar, sim – falou Dean, ao ver a expressão de espanto, cada vez mais avermelhada pelo sangue que jorrava de seu rosto.

− Dean...Pare...

Seu corpo foi erguido. Dean ia esmagá-lo com sua força descomunal.

O loiro tomou impulso e subiram ao céu. Tão rápido quanto fora, Dean agarrou Chuck e retornaram ao chão, abrindo uma extensa cratera e espalhando fumaça e poeira por todos os lados. Chuck levantou-se, ferido. Precisava logo revidar. Seus golpes acertaram Dean, que tentava evitar, sem sucesso. Tentava controlar sua cólera, mas o ódio brotara em seu coração também. Dean não era mais um humano qualquer. Era agora um igual, um semideus no mínimo. Tinha de contê-lo, nem que para isso o matasse por poucos instantes.

A luta sangrenta percorreu aquele planeta que Deus tão bem conhecida, atravessando mares, florestas, tribos, cavernas...Dean não pararia até eliminá-lo.

De repente, outros dois seres avançaram em Dean, que, ato reflexo, afastou-se de Deus.

− Pelo visto, precisa de ajuda, chefe.

− Também acho.

Dean observou a criatura com cabeça de touro e tronco de homem, e uma mulher, cujas características lembravam um dragão, não fosse a silhueta feminina que chamaria atenção de qualquer historiador.

− Aqui, não. Preciso falar com ele.

− Oh, Chuck – falou a dragoniana. – Você sabe ele não é páreo para nós.

− Vamos acabar com isso – falou o outro.

Ignorando os protestos de Chuck, os dois soldados de Deus avançaram. Dean não os reconhecia, mas ouvia os pensamentos do maldito Chuck: tinha algo errado com aquelas criaturas naquele local. Elas não deveriam estar ali.

Dean desviou dos golpes da espada e machado que os novos inimigos portavam. Sentiu uma comichão em seu braço enegrecido. Precisava usar a marca de Caim para ajudá-lo. De repente, quando os dois se aproximaram, Dean berrara, evocando as forças do inferno para resgatarem-no. O céu e a terra foram tingidos de vermelho e roxo, quando o fogo queimava o corpo dos malditos. O gelo do inferno trouxera agonia àqueles imundos. Se estavam com Deus, então estavam contra Dean.

− É melhor ter mais Pokémon, Chuck. Porquê dessa vez eu não vou parar até te matar.

Dean avançava passo a passo, ignorando o fogo que consumia tudo ao redor, transformando em cinzas. Chuck viu uma sombra se formar entre as labaredas. Uma energia indescritível consumia Dean. Além do calor infernal, tudo morria ao redor dele. Sentiu um arrepio percorrer sua alma. Um medo nunca antes conhecido apoderou-se de Deus. Ele precisava parar Dean.

Mais uma vez, sentiu o corpo ser lançado, como se fosse um boneco de trapos. Uma vez mais, Dean aproximara-se. Deus ia morrer ali, no meio do caos, no núcleo entre todos os universos.

− Dean...Pare...Eu...

− Cala a boca, filho da puta. Você não teve piedade com meu irmão, meus amigos. Com Cas. Você nos ignorou.

Dean erguera o punho enegrecido, pronto para acabar com um Deus fraco, sufocado pela outra mão do loiro. A marca tomara todo seu ser. Chuck tinha de agir naquele momento.

− CASTIEL!

Dean vacilou. Aquele nome que o fazia tremer e acalmar. Aquele anjo que mudara para todo sempre sua vida, de repente mostrou-se diante do calor do fogo, iluminando seus olhos azuis profundos. Aquele sobretudo que fora despido por Dean menos vezes que ele gostaria, aquela camisa branca e gravata e uma expressão séria. Castiel encarava Dean, sereno. Alheio aquela guerra particular.

− Olá, Dean...


'Inabalável' - Destiel BrOnde histórias criam vida. Descubra agora