Capítulo 12

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    Lá pelo fim de outubro, o programa de inclusão já tinha se expandido. A Maria e a Jill estavam fazendo aulas de Artes e de ginástica, e o Freddy e o Willy, de Ciências. E eu? Bom, pela primeira​ vez na vida, eu podia ficar mudando de sala pra ter aulas de outras matérias!

    Agora, quando o sinal toca, em vez de ficar imaginado o que deve estar acontecendo pelos corredores, eu posso ver com os meus próprios olhos. É demais. Vou tirando as pessoas da minhas frente com a cadeira elétrica como se ela fosse um cortador de grama.

    Tem horas que os outros abanam ou dizem "Beleza?". De vez em quando, alguém vai caminhando comigo até a próxima sala. Legal.

    Mas "inclusão" não significa que eu seja incluída em tudo. Normalmente, eu sento no fundo da sala, pirado porque sei as respostas das perguntas que os professores fazem e não posso dizer pra ninguém.

    — Qual é a definição da palavra "dignidade"? — perguntou um outro dia.

    É claro que eu sabia e levantei a mão, mas a professora não percebeu o meu movimento sutil. E, mesmo que ela tivesse me chamado, o que aconteceria? Eu não consigo sair falando as respostas. É muito frustante.

    No começo do mês, teve uma série de reuniões com os pais. Os meus vieram conhecer a sra. Shannon e os outros professores. Em vez de me deixar sozinha em algum canto, ela me puxou pra dentro do círculo dos professores envolvidos no programa de inclusão. A sra. Shannon é tão incrível!

    Ela deu uma batidinha no braço da minha cadeira e sorriu.

    — Essa menina é muito inteligente! Vai ser a estrela do nosso programa.

    Eu fiz os meus barulhos e dei os meus chutes de sempre. Eu teria dado um beijo nela, se eu pudesse. Mas acho que seria um beijo bem melado.

    — Bom, já era hora de mais alguém reconhecer o que a gente sempre soube - disse o meu pai. — Agradecemos muito a oportunidade que estão dando pra Melody mostrar o que é capaz de fazer.

    A minha mãe ficou especialmente feliz quando descobriu que tinham designado um "assistente de mobilidade" pra mim. Eu ia ter meu próprio cuidador!

    — Até que enfim — falou a mamãe, aliviada. — Faz anos que a gente pede isso.

    — É que tem toda aquela papelada do orçamento. O sistema só funciona no grito, não com bom senso. Sinto muito — respondeu a sra. Shannon, sacudindo a cabeça. — Estou tentando conseguir os serviços que os alunos da turma H-5 precisam. Mas coloquei o cuidador da Melody bem no topo da minha lista, então vamos ver no que dá. Acho que este ano letivo vai ser maravilhoso!

    — Tão legal — bati no meu painel.

    Um cuidador! Uau. Essa pessoa ia me levar pras aulas, sentar comigo e me ajudar a participar. Como será que ela é? Ou será que é ele? Jovem e bonitinho ou melhor e rabugento?

    No dia seguinte, minha cuidadora já estava na escola. Chegou antes de mim e, quando a gente entrou, estava conversando com a sra. Shannon na sala H-5. Ela veio direto na minha site e segurou minha mão.

    — Oi, Melody. Prazer em conhecê-la. Eu sou a Catherine. Estou na faculdade e vou te dar aquele empurrãozinho sempre que você precisar.

    A moça falou comigo como se eu fosse uma aluna igual às outras, não uma crianças que usa cadeira de rodas. Tentei não dar chutes, mas foi difícil controlar minha animação.

    — Que camiseta fofa — disse ela, quando viu que aminha blusa cor de lavanda tinha um Piu-Piu.

    Eu apontei o obrigada no meu painel.

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