Capítulo 16

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Espero até a volta das férias de fim de ano e finalmente levo a máquina pra escola. Treinei com a sra. V. todos os dias do feriado de Natal. Aprendi a apertar os botões certos, a mudar de nível direito, a fazer elisões. Tive que dar um jeito de dizer "né" em vez de "não é", ou "tá" em vez de "está". Foi difícil. Eu continuo confundindo, mas a sra. Valência não me deixa desistir. E eu nem quero.

Então, na primeira segunda-feira​ depois do recesso, a Elvira é a estrela do dia, e eu, o centro das atenções. E nem foi por que fiz alguma coisa vergonhosa, tipo vomitar ou me sujar toda comendo, mas por uma coisa bem legal. Inacreditável!

Até os professores ficam impressionados.

- Se segura, minha gente! - anunciou a sra. Shannon quando me viu no corredor. - A Melody chegou pra abalar, pessoal!

Eu dou um sorriso bem grande, aperto um botão e uma canção do mais novo musical adolescente começa a tocar.

- Menina, você tá com tudo mesmo. Tem até música!

A sra. Shannon foi anexado pelo corredor no ritmo da música. Morri de rir.

Na sala H-5, a Maria fica colada em mim a manhã inteira.

- Da hora, Melly Belly - ela fica repetindo. - Da hora. Posso brincar?

Ela que pôr a mão nas luzes que acendem e nos botões brilhantes, mas a sra. Shannon vem e a distrai com um joguinho novo de computador que tinha salvado na máquina da nossa sala.

Quando a Catherine chegou, um pouquinho antes de tocar o sinal pra aula de Artes da Linguagem, eu já tava pronta. Ela estava de camisa xadrez verde, saia azul e meia laranja até o joelho. Eu já tinha planejado a primeira coisa que eu queria dizer pra ela, e a sra. V. deixou programado.

- Vamos fazer compras.

A Catherine dá um suspiro de espanto e morre de rir. Quase fica sem fôlego. Aí chega perto de mim e me dá um abraço.

- Tô tão feliz por você, Melody! Você precisava mesmo disso! E, sim, a gente tem que marcar um dia pra você me ensinar umas noções de moda.

- A gente precisa rápido - digito. Tô super de bom humor.

- Você é uma mulher sem coração!- declarou a Catherine, ainda dando risada. - Bom, por enquanto, vamos pras aulas inclusivas exibir essa sua máquina nova toda descolada!

Eu tremia de tanta animação. Quando cheguei na sala da srta. Gordon, ninguém olhou pra mim, como sempre. Com exceção da Rose, que me deu um sorriso.

Aí eu aumentei bem o volume e apertei um botão:

- Oi, pessoal! Eu tenho um computador novo!

Vi cabeças se virando e ouvi os outros cochichando.

- E fazem computador pra gente retardada?

- Ele fala? O meu não faz isso.

- Você não precisa que um computador fale por você!

- A voz dele é esquisita.

- A sua também.

- E ela tem o que dizer?

Mas aí o Connor deu um pulo, ficou de pé e - com aquele cabelo louro todo bagunçado caindo no olho - disse, bem alto:

- Que demais, Melody!

Ele é um dos garotos populares e deve ser o menino maior e mais alto do quinto ano. Acho que, porque o Connor curtiu meu computador, o resto da turma resolveu deixar o assunto pra lá.

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