Capítulo 32

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    Hoje é segunda-feira, então preciso voltar pra aula. A temperatura despencou, e o sol britha, parecendo uma joia de ouro congelada. Mas, apesar disso, parece que tá tudo diferente e errado.
 
     Minha mãe passou o fim de semana no hospital com a Penny, dormindo numa caminha no quarto dela. Não vejo a mamãe desde que... bom, desde que tudo mudou. Será que ela tá brava comigo?

    A sra. V. vem aqui em casa e me ajuda a me vestir e a comer. Parece que até a Toffee tá sentindo falta da Penny. Ela põe a cabeça no meu colo e me olha com um cara de solidão. Não tenho como ajudar.

    O papai tá todo zoado. Fica derrubando as coisas, tipo garfos e as chaves dele. Começa a falar e esquece o que ia dizer. E não fez a barba.

    — Vai se arrumar, Chuck — diz a sra. Valência. — Você não quer assustar a Penny quando for visitá-la agora de manhã, quer?

    —Ahn, você tem razão — responde ele. — Você cuida da Melody?

    — Pode deixar que eu a coloco no ônibus. Agora se mexa!

    Ele corre escada acima e vai pro banheiro.

    — Penny melhor?— bato no meu painel.

    — Sim, tá sim! Quando falei com a sua mãe hoje de manhã, ela me disse que já tinham tirado ela do soro. A Penny tava comendo papinha de maçã, reclamando do gesso e querendo saber do Peludo, que já tá limpo, esperando por ela. A Penny vai ficar bem, Melody, bem mesmo.

    Eu inspiro profundamente. A sra. V. coloca uma colherada com ovo na minha boca, mas o meu estômago queima de tanta de preocupação.

    — A perna dela?

    — A perna dela está engessada. É um negócio grande, meio desengonçado, e vai incomodar pra caramba. Mas os médicos disseram que, quando ela ficar um pouquinho mais forte, vai conseguir andar com ele.

    Fico feliz que a sra. Valência é sempre direta comigo.

    — Cadeira de rodas?

    Não consigo pensar em nada pior do que uma cadeirinha de rodas pra bebê.

    — Não, eles querem que ela se movimente o máximo possível.

    Dou um suspiro de alívio e pergunto:

    — A cabeça dela?

    A sra. V. entende e responde:

    — Nenhum dano cerebral, Melody. Nenhum mesmo.

    Eu expiro bem devagar e digito:

    — Tem certeza?

    — Absoluta. Eu vi a Penny ontem à noite. Ela bateu a cabeça quando caiu, mas o carro pegou a perna dela. Nem encostou na cabeça.

    O ônibus da escola buzina, e a sra. V. empurra a minha cadeira até lá.

    Ela confere a minha mochila, ajusta as tiras dos meus pés e me dá um abraço bem grande.

    — Tá preparada, Melody? Pronta pra encarar a equipe de quiz?

    Eu balanço a cabeça. Depois do que quase aconteceu, encarar um bando de alunos arrogantes do vai ser moleza.

    O Gus baixa o elevador do ônibus e me olha com uma cara de preocupado.

    — Como é que tá sua irmãzinha? — pergunta ele. — Aquilo foi tão assustador.

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