Capítulo 15

56 2 3
                                    

Na manhã seguinte, cai neve pela primeira vez no ano. Flocos grades e fininhos flutuam do lado de fora da sala H-5.

O Freddy corre com a cadeira e põe a mão na janela.

- Legal - diz ele.

A sra. Shannon leva todo mundo mais pra perto das janelas, pra gente conseguir ver a neve se acumulando na grama e nas árvores. É muito lindo. Parece que até a Jill relaxa.

- A gente vai brincar na neve? - pergunta a Maria.

- Não, Maria. Está muito frio para brincar lá fora, mas adivinha! O Natal está chegando!

Minha colega fica toda animada.

- Ouvi dizer que tem uma certa tradição por aqui, de decorar um velho boneco de neve de isopor - continua a sra. Shannon. Ela faz uma careta quando tira a cabeça do Sydney da caixa.

A Maria dá um abraço nele, mas a sra. Shannon faz com que ela pare e diz:

- Acredito que a época das festas tem que ter cheiro de pinheiro fresco, bengalinhas de açúcar de verdade e festões de pipoca. Amanhã eu vou trazer uma árvore de verdade, e a gente vai deixar ela bem bonita!

O Freddy e o Carl fazem um "toca aqui". A Maria fica desapontada por um instante, mas esquece completamente do boneco de neve quando a sra. Shannon dá um pedaço de chocolate molinho pra todo mundo. E, muito sabidamente, põe o Sydney de volta na caixa.

Enquanto a professora ensina o pessoal a fazer flocos de neve de papel, a Catherine e eu sentamos juntas na frente do único - e esculhambado - computador da sala e pesquisamos na internet sobre diversos dispositivos de comunicação. A máquina é tããããão leeeeenta. Às vezes trava, e a gente tem que desligar da tomada e começar tudo de novo. A sala H-5 sempre fica com os computadores que as outras classes não querem mais.

A gente pesquisa sobre todo tipo de dispositivos de fala e de comunicação que já foram projetados pra pessoas como eu. Muitos deles são tão esquisitos e desengonçados quanto o computador da nossa sala. Alguns parecem bem complicados. Todos são caros. Ridiculamente caros. Alguns sites nem informam o preço. Parece que têm medo de dizer quanto é que esses negócios custam.

Os dispositivos que usam teclados normais de computador não me adiantam. Não consigo acertar só uma tecla por vez. Preciso de alguma coisa que funcione usando apenas os dedões.

Encontramos computadores adaptados, painéis de fala que dizem as palavras, sistemas de botões e até uns negócios que funcionam com piscadas e movimentos da cabeça. Finalmente, encontramos uma coisa chamada Medi-Talker, que parece promissora. Tem espaços grandes, pros meus dedões entrarem, e milhões de palavras e expressões armazenadas.

Assisti a um vídeo na internet de um menino da minha idade usando um Medi-Talker e, mesmo ficando óbvio que a voz não é dele, a caixinha possibilita que o garoto conte todos os detalhes da sua última festa de aniversário! Fico tão animada que minhas pernas saem chutando, os braços começam a sacudir, e eu fico parecendo um helicóptero humano muito louco.

A Catherine imprime as informações e guarda na mochila, que tá presa atrás da minha cadeira.

- Boa sorte, Melody! - sussurra ela, quando vai embora.

Quando eu saio do ônibus, depois da aula, a sra. V. está me esperando como sempre. Eu quase caio da cadeira tentando apontar pra mochila, pra dizer que eu tenho algo importante lá dentro.

- Calma, calma! - diz ela. - Desde quando você fica animada para fazer a lição de casa? Que siricotico é esse?

Eu só dou um sorriso e chuto o ar. Depois de chupar bala de caramelo (primeiro) e sanduíche de atum com queijo derretido (por último), e depois de a Penny - que tinha acabado de acordar - comer a papinha de maçã dela, a sra. V. finalmente tira os papéis da minha mochila.

Fora De Mim Onde histórias criam vida. Descubra agora