Ir ao banheiro na escola é simplesmente um saco. Alguém precisa me tirar da cadeira, colocar na privada e me segurar pra eu não cair. Depois tem que me limpar.
Até que não é tão ruim quando a mamãe faz isso. Mas, quando tem que ser um cuidador, é horrível. Por lei, a pessoa tem que usar luvas descartáveis — acho que é para o caso de eu ter alguma infecção ou doença. É completamente constrangedor. Normalmente, eu não tenho vontade de ir ao banheiro logo que acordo, mas esta terça-feira tô tão nervosa que peço pra ir duas vezes.
Assisto a todas as aulas inclusivas. Os alunos que participaram da seleção para a equipe de quiz não param de tagarelar sobre a prova. Eu escuto cada palavra.
— Nem acreditei que tava tão fácil — o Connor conta vantagem.
— Aposto que fiz mais pontos do que você — diz a Claire, toda convencida.
— Não sei de que mapa eles tiraram aquelas questões de Geografia — completa a Rose. — Tem uns países que eu nunca ouvi falar.
A Jéssica sacode a cabeça:
— A parte de Matemática também não foi brincadeira.
— Nem acredito que a gente dá bola pra essa seleção idiota da equipe de quiz — comenta o Rodney.
— É por que o campeonato passa na TV, cara! — explica o Connor. — Dão destaque na cobertura da TV local e, se a gente chegar na final, a gente vai pra Washington, e vai passar no país inteiro. Se a gente ganhar, pode aparecer como convidado num dos maiores campeões de audiência de todos os tempos, o Bom dia, América. Minha avó da Filadélfia e a minha tia de São Francisco vão me assistir. Vou ficar famoso!
— Como assim se a gente ganhar, Connor? — pergunta a Claire. — Você não quis dizer quando a gente arrasar no campeonato?
— Sim, com certeza. Já até com uma roupa nova pra aparecer na TV.
A Rose revira os olhos e diz:
— Achei que era uma competição em equipe, Connor.
— Ei! Essa equipe não é nada sem mim! — responde ele, levantando a mão, pra todo mundo fazer um "toca aqui".
Eu só fico ouvindo em silêncio, lá no fundão. Quando o sinal toca pra aula do sr. Dimming, fico suando nas mãos.
A Catherine empurra a minha cadeira pra dentro da sala e sussurra no meu ouvido:
— Relaxa. Você arrasa.
O sr. D. pede pra turma ficar em silêncio e faz a chamada. Por que os professores vão tão devagar quando a gente tá ansioso pra eles fazerem alguma coisa?
Finalmente, ele tira uma folha de papel da pasta.
— Corrigi os testes de vocês ontem à noite e, já que muitos dos que participaram das eliminatórias estão aqui na sala, vou dizer os resultados agora. Os professores de outras turmas cujos alunos participaram da seleção também receberam esta lista e estão lendo os resultados neste exato momento.
— Lê logo a lista, então! — grita o Connor, levantando da cadeira.
— Se o comportamento em classe fosse um fator determinante para entrar na equipe, Connor, você se daria mal — disse o sr. Dimming. — Por favor, fique quieto por um momento.
Isso cala a boca do Connor, e ele se joga de volta na cadeira.
— Antes de mais nada, tenho muito orgulho de todos os participantes. Era um grande desafio, e vocês se saíram extremamente bem.
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Fora De Mim
RandomImagine-se cercado por palavras, palavras que descrevem emoções, sensações e pensamentos. Palavras que precisam de sua voz para ganharem vida, para dar contornos ao mundo exterior. Agora imagine-se sem voz. Esta é a história de Melody, uma garota...