Capítulo 23

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    O dia do campeonato de verdade amanheceu claro e gelado. Fiquei tremendo naquele ar do começo de março com a sra. V. enquanto esperava o ônibus vir me buscar. A minha jaqueta é gostosa. A gente decidiu usar minha cadeira manual hoje, porque a elétrica é meio pesada demais pra mamãe empurrar sozinha, mesmo com aquela rampinha do carro.

    — Preparada, Mello Yello? — perguntou a sra. V.

    — Com certeza!

    — Você não acha que a sua cabeça vai explodir de tanta informação guardada dentro dela?

    — Com certeza! — dou um sorriso pra ela.

    — Você se sairá bem. Muito bem. Muito mais do que nem. Provavelmente vai arrasar — diz a sra. V.

    — Com certeza! — aperto de novo o botão.

    — A gente vai estar lá na plateia, torcendo por você.

    — E a equipe?

    — Tem mais gente na equipe?  — diz ela, batendo na própria testa. — Achei que você era uma artista solo!

    — E as equipes das outras escolas?

    — Não se preocupa. Você é mais inteligente do que todas elas juntas! A gente vai ficar gritando o mais alto que puder, eu, a sua mãe, o seu pai e a Penny.

    — Tô bem?

    A sra. Valência me olha de cima a baixo e diz:

    — Tá parecendo uma estrela da TV! A sua mãe colocou mais uma blusa na mochila, só por precaução. A Catherine sabe o que ela tem que fazer.

    Tô feliz que a Catherine vai com a gente, e acho que o sr. Dimming também.

    — Repassa o plano comigo.

    — A sua mãe vai te buscar na escola, te dar uma coisinha pra comer e te levar pro estúdio de TV quinze minutos antes de os outros competidores chegarem. Eu, a Penny e o seu pai vamos te encontrar lá.

    — Os caras da TV não vão pirar quando me virem?

    — Eles se prepararam bem pra te receber. Para falar a verdade, talvez alguns repórteres que estiverem por lá venham falar com você.

    — Comigo? Por quê?

    Não posso nem imaginar por que algum jornalista ia querer conversar com alguém que só consegue falar usando uma máquina. Que chato.

    — Você é uma pessoa maravilhosa "reportagem de interesse humano", como eles dizem. Outras pessoas podem se interessar em saber mais sobre você.

    — Eles não vão me zoar?

    Só de pensar nisso já começo a suar nas mãos.

    A sra. V. segura a minha mão e diz:

    — Nem um pouco. Eles vão te admirar, com certeza. Você é o Stephen Hawking da Escola de Ensino Fundamental da Rua Spaulding! Eles tem sorte!

    — Tomara.

    — O seu ônibus chegou. Tenha um dia maravilhoso, Melody. Te vejo à noite.

    Dei um jeito de passar o dia sem derramar nada na minha roupa, e fiquei aliviada de ver a mamãe quando o último sinal tocou. Depois de comer macarrão com molho de queijo e purê de maçã rapidinho no carro — que esperta a mamãe, nada de vermelho — pegamos a direção do centro da cidade.

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