Eu, um gamer e um bebê

23-Consequências das circunstâncias

Permanecemos sorrindo, claramente ansiosos, enquanto encarávamos o médico esperando uma resposta. Aos poucos, nossa expressão animada foi se desfazendo, até se tornar uma completamente confusa. Ficamos quietos, olhando alternadamente entre o profissional e a tela até, enfim, eu perguntar.

-Hum... A-algum problema?

-Bem... – Finalmente pude ver um bico desapontado em seu rosto.- Como dizer...

-E-está tudo bem, curandeiro?

-Ham?- Olhei Armin estranhamente.

-D-desculpe, eu costumo falar muitas coisas misturadas quando estou nervoso e... E...

-Fique calmo... O doutor ainda não explicou... – Acariciei sua mão, o fazendo respirar fundo assentindo. Olhei novamente para o médico.- E então?

-Bom... Parece que seu bebê quer fazer uma surpresa...

-Como assim?...

-Ele acabou de ficar em uma posição onde é impossível conseguirmos ver alguma coisa... Não posso definir o sexo!

Nesses momento, senti um certo desânimo e suspirei desacreditada, logo levando uma mão a testa, fechando os olhos.

-Isso é verdade?...

-Sim...

Respirei fundo novamente e abri os olhos, deixando meu braço ao lado do corpo enquanto me sentia incomodada com as massagens e 'apertões' do médico na região da minha barriga. Olhei para cima, vendo a ficha do garoto cair aos poucos... Sua expressão logo ganhou um tom emburrado, e sua voz algo infantil.

-Heiin? Por que viemos aqui então?

-Não fale assim Armin...- Murmurei.

-Mas não é verdade? Tínhamos vindo para saber se ele era ele ou ela era ela...

-Estou tentando encontrar um jeito de ver... – O profissional prosseguiu.

"E me deixando desconfortável ao mesmo tempo... Por que isso, filho?"

-... Essa consulta vai ser mesmo em vão?...

Estava prestes a repreende-lo levemente, quando o observei com mais atenção, percebendo o quão desapontado ele estava no momento. Eu não podia deixar Armin sair dali assim... Comecei a olhar em volta, procurando algo que pudesse animá-lo e, já sem esperanças, levei meu olhar ao visor do exame, me deparando... Com a imagem do bebê. Não era nem um pouco nítida, mas estava bem mais fácil ver sua forma e movimentos desde a última vez que estive ali. Nesse instante, me lembrei da primeira vez que fiz o Ultrassom... Eu me senti tão feliz, e tudo por causa de uma 'manchinha' que mal conseguia ver... E agora? Eu não tinha palavras para descrever essa nova sensação... Minha mente se iluminou! Sorri, entrelaçando melhor meus dedos com os dele e joguei a cabeça para trás, o fazendo olhar pra mim. Estendi meu sorriso o transformando em algo meigo, e logo sussurrei.

-Não viemos aqui em vão... Olhe para a tela!

Ele se demonstrou meio atrapalhado mas, sem contrariar, levantou o rosto e encarou o visor; ficou fixado ali por um tempo. Aos poucos, seu olhar se amenizou para algo inocente, e ele foi tombando a cabeça de lado, como se estivesse pensativo várias vezes. Em certo ponto daquela 'análise', o garoto parou, e encarou seriamente a imagem, logo deixando um sorriso suave, e ao mesmo tempo maduro se formar em seu rosto. Senti sua mão acariciando a minha. Não se eram necessárias palavras! Eu entendia seus sentimentos... Eu ouvia suas palavras, mesmo em silêncio... Eu compartilhava daquela mesma sensação... Aquele era o nosso bebê! E ter a chance de vê-lo, mesmo que assim... Com certeza, aquela consulta não fora em vão. E agora, tanto eu quanto ele sabíamos disso.