28- Assuntos inacabados- parte final

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-Não quero!

Eu abraçava um travesseiro de modo rebelde, com um bico estampado no rosto, agindo totalmente como uma criança mimada (algo que nunca fui, claro! Só para os invejosos que achavam isso).

-Ambre... Dormir é essencial para sua recuperação. Vamos, não seja teimosa (de novo...)!

-Eu não quero! – Me virei de lado, de costas para ele.

Ouvi um suspiro.

- Você está estranha desse jeito desde que parou de chorar... Parece nervosa.

-... Eu estou!

-Com o que exatamente?

-É mais certo dizer 'com quem'...

-... – Ele apontou para seu peito. - É comigo?

-Não! – Me sentei, virando para ele expressando indignação. – Você nunca fez nada para me deixar brava (ainda)! Eu só...

Parei de falar como se a voz me faltasse e, pensativa, abaixei a cabeça. Ele se curvou, apoiando seu cotovelo em seu joelho e sua cabeça em sua mão e começou a me encarar curioso, apesar de sério.

-Você só?... – Insistiu que eu continuasse.

-... – Permanecei em silêncio, antes de confessar.- Só... Estou com raiva de mim mesma...

-De você mesma? Mas por que isso tão de repente?

-Não é de repente, Félix... Já faz um tempo que eu venho sentindo isso...

-E por que se sente assim? O que fizeste de tão ruim?

Quieta, olhei para ele e depois desviei o olhar para o chão, repetindo o processo umas duas vezes antes de surtar, sem muito escândalo.

-Ahh! A verdade é que eu não aguento mais!

-... Não aguenta mais o que?

-Não aguento mais ficar chorando por tudo!

-...

Esbravejei, logo desviando a atenção para o lado em meio a um suspiro. Com meu braço mais sã, acaricie o outro imobilizado e continuei.

-Ultimamente eu me sinto tão... Frágil! Sempre chorando, seja por estar alegre, ou por estar triste... Qualquer coisa que aconteça eu sinto que meu coração vai saltar pela boca, e junto a isso vem as lágrimas. Sem contar no dramalhão que vira os momentos em que quero desabafar ou contar algo a alguém... Me sinto tão desiquilibrada! Eu nunca fui assim... mesmo mal e mesmo animada, eu sempre soube controlar as emoções e guardar a maioria para mim, as manifestando só com minhas ações. Agora não... Parece que elas tem vontade própria e só querem se manifestar pelos olhos! Eu me vejo como uma pessoa frágil toda vez que isso acontece, e sinceramente, essa fragilidade me irrita!

Meus tons alternavam entre um estressado e um decepcionado. Era possível perceber a atenção e concentração que ele mantinha, até eu começar a falar de fragilidade.

-Você acha que ser delicada é tão ruim assim?

-Bom... Pra mim é! Talvez para outras pessoas não, mas fala sério, olha pra mim: eu não tenho cara nem jeito pra ser alguém assim...

-... Quer minhas palavras francas?

Assenti, me preparando para o que poderia ouvir.

-Eu acho que ser frágil em certos momentos da vida é algo normal, já que sempre conviveremos com horas em que nos sentiremos totalmente dependentes ou até fracos emocionalmente. Mas de modo algum isso deve ser visto como algo ruim... Afinal, é uma boa oportunidade para ter as pessoas mais próximas a você. E sabe, tenho certeza que no seu caso é algo passageiro, se isso te deixa mais aliviada...

Eu, um gamer e um bebêOnde histórias criam vida. Descubra agora