26- Quem está aqui?

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Assim que a vi, imediatamente me demonstrei surpresa mas, logo em seguida, relaxei minha expressão em um sorriso, deixando evidente o quão feliz eu estava por ela ter aparecido ali. Sinceramente, mesmo depois de tudo o que aconteceu, não esperava vê-la... Me visitando, talvez?! E sua presença me alegrava...

-Então realmente aconteceu... – Sem dar atenção as outras pessoas da sala, ela se aproximou rapidamente de mim.

Armin foi quase que empurrado por minha mãe, que ocupou o seu lugar enquanto levava as mãos ao meu rosto, o segurando fortemente.

-Esses machucados... Estão horríveis! O que aconteceu com sua pele?... Arranhões... E seu braço, essas manchas roxas... Quem te deixou em um estado tão deplorável? – Seu tom era de uma possível repugnância.

Era difícil saber se ela se preocupava mais comigo, ou com minha aparência. Pisquei algumas vezes enquanto a encarava e manti o silêncio, desviando o olhar para as outras pessoas presentes, que se mostravam confusas e incomodadas com as falas de minha mãe. Eu sabia que isso poderia acabar mal, por isso, me decidi a imaginar que Adélaide ainda tinha dificuldades em demonstrar carinho/preocupação normalmente, afinal, por mais que ela tenha passado tempos desejando fazer algo para ajudar seus filhos, aquilo não significava que sua personalidade era uma farsa... Não é? Eu posso lidar com isso, assim como lidei a vida toda...

-Ninguém... – Murmurei com um fraco sorriso, enquanto me recordava de Debrah no momento.

"Eu mal sei o que aconteceu, não posso culpa-la assim..."

-Está me dizendo que fez isso sozinha? Como conseguiu se deixar levar por uma queda?

-B-bom, eu só... senti a vista escurecer quando estava perto da escada, e-

-Como pode se descuidar tanto? – Fui interrompida. - Sempre te eduquei para ser cautelosa, e ensinei a manter a postura para se afastar de desastres... Oh, céus, onde errei?

Ela baixou a cabeça, suspirando. Sem saber o que responder, como sempre, abaixei o rosto um tanto sentida, tendo a sensação de culpa por sua bronca poucos segundos depois.

-Ei, isso não foi culpa dela! – Armin afirmou firme.

-O quê?... – Minha mãe virou o rosto em sua direção. – Você não tem nada a ver com isso, garoto! Fique quieto!

-MAS E-

-... – Vitória colocou a mão no ombro do filho e negou com a cabeça, o impedindo de continuar logo tomando a frente de uma forma paciente. – Meu filho tem razão... A garota não tem culpa. É normal ter desmaios e tonturas repentinas durante a gravidez.

-Oh, então a senhora é uma médica? Deveria estar diagnosticando seus outros pacientes ao invés de se intrometer assim numa conversa entre mãe e filha. – Ironizou, de forma debochante.

A morena suspirou, mantendo a calma como podia.

-Não, 'dama', não sou médica. Mas essas foram as palavras do próprio doutor que a tratou! Além do mais, sem querer tirar sua razão, acho que temos todo o direito de nos envolvermos nessa conversa ou, pelo menos, defender a menina!

-E o que dá esse direito a vocês?

-Talvez o fato do meu filho ser pai do bebê da sua filha seja o bastante pra você?!

-... – Adélaide lançou um olhar julgador a Armin. – Então, esse é o tal 'pai do bebê'...

-Sim, há algum problema com isso?

O clima ficou tenso.

Nessa hora, me lembrei do dia em que fui expulsa de minha casa, e sobre o que Félix disse a mim. Minha mãe ainda tinha uma personalidade difícil; orgulhosa, um tanto esnobe e até mesmo vaidosa demais, sempre possuindo o complicado problema da ignorância ao interagir com pessoas que não se assemelhassem a si (em sua cabeça). Era uma mulher presunçosa, que pensava que a razão estava sempre em suas palavras, sem erros, e que dava um extremo valor ao 'superficial'. Alguém que qualquer um apontaria com um caráter horrível. Uma pessoa de quem eu era uma fraca réplica... Por mais que ela tenha sido, e ainda se demonstre ser assim, eu tenho fresco em minha memória a descrição que me revelava o outro lado da moeda: o lado que mostrava sua força e preocupação, mesmo que mínimas. No fundo, no fundo, ela ainda era uma mãe! E se sentia na obrigação de agir como tal... Quanto a sua personalidade, se eu mudei, por que ela também não pode tentar mudar? Ainda não está tarde... E, assim como as pessoas confiaram em mim e me deram uma chance, quero confiar nela e lhe dar essa chance também! Não posso negar que algumas de suas acusações me machuquem, mas se for preciso aguentar isso para depositar um pouco de esperança em sua mudança, eu suportarei o máximo que puder. Mesmo que eu esteja completamente só nessa decisão...

Eu, um gamer e um bebêOnde histórias criam vida. Descubra agora