Alvo

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Analisou seu reflexo no espelho do banheiro, os cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo, o rosto livre de qualquer maquiagem, os lábios finos ressecados, analisava as manchas roxas embaixo de seus olhos de íris escuras

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Analisou seu reflexo no espelho do banheiro, os cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo, o rosto livre de qualquer maquiagem, os lábios finos ressecados, analisava as manchas roxas embaixo de seus olhos de íris escuras. A face estava inexpressiva, respirou fundo, sabendo que seria a melhor opção que poderia fazer em pleno aos seus treze anos. Duvidava que alguém sentiria falta da sua pessoa, seria até engraçado tal coisa.

A casa estava silenciosa tirando apenas o som baixo que provinha da televisão que estava na sala, até visualizava em sua mente o seu avô deitado naquele sofá dormindo de forma profunda sem ao mesmo se arrepender de tê-la machucado profundamente naquele dia. Nada poderia fazer para mudar tal situação, sentia falta dos pais. Mas, não seria escrava dos progenitores de sua mãe.

Por isso, saiu do banheiro usando uma roupa escura e longa apenas para se esquentar quando as temperaturas caíssem drasticamente depois de algum tempo sem um teto sob a sua cabeça. Havia planejado aquele momento por muitos meses, não era burra em sair daquela casa em um impulso. Assim, seguiu para o seu quarto onde pegou as duas mochilas que tinha acessórios e comida, fez um limpa da geladeira e no armário deixando seus queridos avós sem nada. Ou quase nada. Estava levando algo que não apodrecesse, não estava nem um pouco com pena deles.

Aqueles que foram tudo menos avós.

Tinha esvaziado toda a conta bancária deles, dois aposentados, não seria problema. Eles não teriam nada, ficariam apenas com o dinheiro que iria receber mês que vem. Sorte deles; além; de uma casa quentinha com tudo dentro. Estava sendo até bondosa, porém, não sabia se aguentaria mais um dia naquele lugar. Poderia aguentar tudo apenas para futuramente colocá-los em um asilo sem se preocupar com nada.

Mas, ali estava o problema.

Não queria ter conexão nenhuma com eles. Ambos deveriam morrer sem ao mesmo saber onde estaria andando, onde estaria dormindo, com quem estava falando. Eles nunca foram avós, duvidava que poderiam fazer aqueles tipos de questionamentos. Assim, era melhor ainda. Viveria da sua forma, do seu jeito.

Era sua escolha, afinal.

Pegou as duas mochilas, onde tinha todas as suas roupas e acessórios. Noutra continha lençóis, edredons e levada dentro de um saco preto até seu travesseiro.  Uma pessoa em sua opinião deveria saber fugir de um lá, para que nada acontecesse após essa decisão. Conduto, já havia pesquisado um lugar para onde poderia ir. Um lugar onde ninguém lhe faria perguntas e muito menos questionaria sua presença. O lugar onde havia outras pessoas sem teto.

Seguiu para fora do quarto em passos silenciosos dentro daquela bota sem salto, seguiu o corredor até chegar na sala onde seu avô estava dormindo no sofá em uma posição desconfortável. Andou até a cozinha onde estava minutos antes para guardar tudo dentro da mochila, pegou uma faca de cozinha enorme, assim como o canivete de seu avô que estava na gaveta. Guardou tudo dentro da mochila, ela saberia se virar se fosse possível. Senão, torceria que nada pior acontecesse.

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