Flores Selvagens

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Há vinte e nove anos

Seus olhos esverdeados em um tom escuro observaram sua filha sentada na mesa redonda enquanto rabiscava em algum caderno de desenho, os diversos papéis espalhados pela mesa. Sorriu, ali estava a sua esperança de continuar tentando, por ela não desistiria. Por isso, batalhou por aquele emprego, não era errado, atendia pessoas, anotava pedidos e limpava a lanchonete. Agradecia tanto ao seu patrão que deixava levar sua filha de apenas três anos para o serviço, visto que, não tinha condições de pagar ninguém para ficar com ela.

Fazia quase dois anos que seu marido infelizmente faleceu, porém, mesmo sentindo saudades não iria deixar seu bem mais precioso longe de si e de seus cuidados. Iria continuar trabalhando.

— Querida tome seu leite.- Disse Natalie, alto. Estava quase no fim do expediente, não tinha mais clientes na lanchonete, logo poderia fechar tudo e ir para casa.

— Sim, mamãe.- Murmurou Lydia, sorrindo. Deixando de lado seus lápis de pintar e pegando com as duas mãos o copo de plástico que continha seu leite noturno.

Natalie sorriu, voltando a terminar de limpar as mesas.

Ouviram o sino avisando que um cliente havia entrado na lanchonete, Natalie automaticamente olhou para porta, visualizando o homem lindo vestido um terno caro e impecável. Aproximou-se.

— Boa noite senhor, gostaria de algo? - Perguntou ela, educadamente.

Os olhos azuis do homem lhe fitaram por alguns segundos.

— Oh, sim. Um café.- Respondeu-lhe. Então, andou sentando-se em uma mesa qualquer, tinha escolhido o lugar ideal para pensar, a proposta que havia recebido era tentadora, trair alguém que sempre cuidou de si parecia errado para pessoas honestas, bem, ele não se achava honesto mesmo.

Então, o barulho de algo caindo ao chão chamou sua atenção, seus olhos observaram uma criança se levantando da cadeira para pegar o lápis. Observou os fios ruivos presos em um rabo de cavalo e o vestido combinando com a cor de seus cabelos.

— Aqui está.- Disse Natalie, colocando o café sobre a mesa.- Mas, alguma coisa?

— Não.- Respondeu.

Natalie automaticamente foi até a criança dizendo algo sobre terem que ir embora, ajudou-a guardar tudo dentro da mochila. Então, observou a mulher ir terminar seus afazeres, porém, seus olhos não desviaram da criança.

Após alguns minutos a garçonete sem jeito avisou que iriam fechar, ele pagou e deu-lhe uma gorjeta.

— Obrigada.- Agradeceu ele, vendo Natalie assentir.- Qual é o seu nome? - Questionou.

— Natalie e o seu? - Retrucou por educação.

— Louis.- Respondeu, então, saiu da lanchonete.

Atualmente

O reflexo que olhava não parecia consigo, era estranho, não transmitia paz e nenhuma sensação de segurança. Era apenas o sinal que sua vida iria mudar para sempre, estaria ligada a uma pessoa que mal conhece, porém, imaginava que não seria pior do que passar o resto da sua vida vendendo seu corpo porque não tinha como se sustentar, porque não tinha para onde ir.

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