Pontas amarradas

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Há vinte anos

Lágrimas escorriam por seu rosto ao tentar não gemer de dor, mesmo com a visão embaçada por causa das lágrimas conseguia observar os machucados espalhados pelo seu corpo. Novamente ele lhe bateu tão fortemente que causou ferimentos graves demais para serem suportados sem um remédio ingerido de hora em hora. Passou a mão por sua face se encolhendo na cama de solteiro, iria fingir que dormia para que aquele monstro não viesse lhe perturbar.

Afinal, já bastava o “aviso” que ele lhe deu pela manhã,  saberia que seria tratada da mesma forma se fosse encontrada acordada naquele horário da noite, tentou segurar o choro que sufocava sua garganta, não conseguia viver mais naquele lugar, com aquele homem. Vivia um inferno acordada e sonhava com outro quando dormia, a morte de sua mãe repassando por sua mente diversas vezes.

Era um círculo tão vicioso e doloroso.

Louis era um demônio dentro de um homem bonito, ele causava tanta dor em seu corpo e mente que tinha medo de morrer à cada segundo. Afinal, sabia que um dia morreria da mesma forma que sua mãe. Encolheu-se mais na sua cama quando ouviu a porta da casa abrindo e barulhos ecoando.

Puxou a coberta até cobrir o seu pescoço, fechou os olhos mordendo seu lábio inferior impedindo seus soluços altos, então, ouviu vozes altas e risadas, soube que Louis estava com companhia. Alisou sua face quando escutou a voz feminina falando enquanto ria até a porta do quarto ao lado ser aberta e fechada logo em seguida.

Lydia só queria sair daquele lugar e não ser agredida novamente por aquele homem, ele lhe causava tanto medo que viver na rua poderia ser uma boa idéia, por isso, saiu de cima da cama, deu passos silenciosos até seu guarda-roupa e apenas vestiu roupas confortáveis por cima do seu pijama.

Não esperou muito tempo para sair do seu quarto quando ouvia gemidos altos do cômodo ao lado, enxugando seu rosto, prometendo a si mesma que um dia iria acertar suas dívidas com aquele homem caminhou em passos silenciosos pela casa, então, saiu pela porta destrancada. Sabendo, Louis estava embriagado o bastante para ir conferir se estava em seu quarto, era sua única chance.

Caminhou para o lado de fora daquela noite fria, chorando, a garota de quatorze anos apenas desejava que aquela casa pegando fogo com tudo o que tinha dentro, o rosto daquele monstro estava gravada em sua mente, não poderia esquecê-la em nenhum momento, um dia iria desfigurar-la brutalmente.

Deu vontade de rir enquanto virava a esquina da rua da sua antiga casa, saiu daquele lugar tão facilmente que poderia ter feito isso antes, contudo, a coragem nunca foi destacada daquela maneira. Então, começou a cantar uma das músicas que ouvia sua mãe cantarolar enquanto cozinhava.

— Hoje eu acordei tarde de novo
    E eu estou com medo de tudo
   Não me atrevo a sonhar
   Eu tenho uma imaginação sombria

Atualmente

Itália


Bebeu um gole do vinho suave enquanto observava as diversas pessoas espalhadas pelo salão enorme decorado em um cor dourada. Mulheres trajando vestidos elegantes, por isso, escolheu aquele preto longo, deixando suas costas nuas com seus cabelos soltos, então, seus olhos focaram nos homens desfilando em ternos caros. Havia tanto poder naquele ambiente que sabia que apenas pessoas da alta sociedade estava por ali, porém, deu apenas mais um gole do seu vinho.

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