Capítulo 1.

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No momento em que Emily Quest percebeu que tipo de festa era aquela, era tarde demais para partir.
Afinal, tinha mentido e trapaceado a fim de ir àquele lugar promíscuo, com objetivos não tão honestos, portanto seria hipocrisia condenar os convidados pelo comportamento imoral deles.
E, vestida de maneira tão provocante, era difícil culpar alguém pelo tipo de atenção ofensiva que estava recebendo. Fingir-se de mulher fatal tinha sido parte essencial de seu plano, mas infelizmente tal plano a levara a uma situação com a qual não se sentia preparada para lidar.
Pelo menos, estava usando roupas íntimas, consolou-se, o que era mais do que podia dizer sobre algumas garotas que haviam sido convidadas para a festa!
Emily pegou os drinques no bar, desviando os olhos de uma travessa de cristal cheia de pílulas sendo oferecidas de maneira imprudente por um jovem com um brinco de diamante na orelha. Ela não podia negar que estava chocada pela sordidez das coisas que aconteciam lá. Se aquele era o modo como os ricos e não famosos se divertiam atrás de portas fechadas, não era de se admirar que a sociedade estivesse corrompida!
Duvidava de que os donos ausentes da luxuosa mansão na praia, no bairro dos milionários de Auckland, tivessem dado permissão ao filho para fazer uma festinha agitada, enquanto estavam num cruzeiro pelo Mediterrâneo. Mas, considerando o esnobismo deles, provavelmente ficariam mais desgostosos pelo status social duvidoso dos convidados do que pelo álcool e pela promiscuidade sexual. Michael e seus amigos obviamente gostavam de temperar a vida privilegiada escolhendo um caminho perigoso. Alguns seguranças da festa tinham tatuagens e usavam jeans rasgados e jaquetas de couro. Tudo que acontecia ali deu a Emily um sentido de urgência renovado sobre a sua missão. Precisava apenas controlar os nervos por mais um tempinho...
Forçando um sorriso, foi para o salão de bilhar, segurando dois copos cheios acima da cabeça enquanto se espremia entre pessoas que tentavam falar umas com as outras apesar da música alta.
Suas esperanças de uma rápida escapada haviam desaparecido, e a cabeça começava a doer com o barulho e a tensão de fingir estar se divertindo, os cachos castanhos que normalmente emolduravam-lhe o rosto em formato de coração murchavam com o calor claustrofóbico. A fumaça fazia arder os olhos azuis e tirava-lhes o brilho. A única coisa que queria agora era voltar para o anfitrião semi-incoerente, fazer o que tinha ale fazer e partir.
Michael lhe oferecera um tour ao redor de uma área privada da casa, longe dos convidados, e no exato momento em que Emily finalmente colocou os olhos em seu objetivo, foi enviada de volta para atuar como garçonete!
Ela passou pela porta do banheiro, onde antes tinha encontrado duas garotas que tiravam um conteúdo suspeito da bolsa e ouvira ruídos de um casal anônimo em um dos cubículos. Mentalmente afastando a lembrança sórdida, Emily seguiu para a entrada do salão, onde um DJ estava aumentando o volume da música. Um cotovelo perdido golpeou-a no rim e ela tropeçou, colidindo com um homem suado, que aproveitou a oportunidade para tocá-la.
Com as mãos carregadas, Emily ficou momentaneamente indefesa pelo ataque. Virou a cabeça de lado quando o estranho tentou beijá-la, emitindo um grito de protesto enquanto tentava se desvencilhar. Ninguém parecia notar o que estava acontecendo e, por um terrível momento, Emily pensou que não conseguiria sair dali.
Medo e raiva a colocaram em ação, e ela ergueu um dos joelhos, satisfeita em atingir o ponto mais sensível do homem com força total. No momento em que recuou, diversos cubos de gelo caíram dos copos em cima da cabeça das pessoas ao redor, incluindo a do homem atrevido.
- Desculpem - gritou Emily, aliviada por ser tirada da confusão por uma grande mão que a envolveu pela cintura e levou-a para um canto menos congestionado do corredor.
Ela abaixou os braços doloridos e sorriu agradecida para seu salvador, agarrando os copos junto ao peito parcialmente exposto, longe do impecável terno preto e da camisa branca do homem. Com 1,70 metro de altura, Emily não se considerava baixa, mas, mesmo de salto alto, tinha de erguer o pescoço para ver além do maxilar bonito e barbeado acima do colarinho imaculado.
- Obrigada - disse ela ofegante, ainda abalada pela recente luta; por causa da fumaça, teve de piscar para poder focá-lo apropriadamente.
Conseguiu, um segundo antes de ele virar-se e partir, e, chocada, registrou a expressão de desprezo nas feições do homem. Foi um balde de água fria, tirando-lhe o sorriso do rosto e fazendo Emily sentir-se embaraçada.
Por alguns minutos depois que ele desapareceu, ela ficou parada no lugar, tentando se convencer de que não lera corretamente a expressão do homem, mas o desdém revelado nos olhos azuis permaneceu vivo em sua memória.
As faces de Emily queimavam como se tivesse levado um tapa. Ele não esperara nem o bastante para reconhecer o agradecimento dela. Talvez tivesse se arrependido de tê-la salvado. Ou talvez concluísse que ela provocara o homem até fazê-lo perder o controle. Provavelmente achara que o fato de Emily piscar e estar ofegante fazia parte de algum jogo sexual.
Mas essa não sou realmente eu!, ela queria correr atrás dele e gritar.
Então, repreendeu-se. Que importância tinha o que qualquer pessoa daquela festa desprezível pensasse sobre sua aparência do momento? Afinal, nunca mais as veria.
Emily agarrou os copos escorregadios com renovada determinação e foi em direção aos fundos da casa. Certo, talvez tivesse exagerado um pouco com sua meia preta, seus saltos altos e finos e seu vestido curto e justo, mas sabia que não podia confiar em sua aparência comum e suas maneiras antiquadas para conseguir o que necessitava naquela noite. Já havia tentado a aproximação refinada e não obtivera sucesso. Não podia esperar mais tempo.
Aquela noite era literalmente sua última chance de pagar o enorme débito de gratidão ao avô. Se tivesse sucesso, a humilhação temporária valeria a pena, e se não tivesse... bem, pelo menos saberia que tinha tentado.
 
EMILY NA CAPA.

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