Capítulo 8.

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Emily não era totalmente inocente em relação ao sexo, mas sua experiência era restrita às apalpações exploratórias de um rapaz cheio de lábia, e, nos últimos dois anos, estivera muito ocupada, tentando evitar que os negócios afundassem, para pensar em sexo. Na verdade, nunca havia encontrado nada que pudesse se comparar com a emoção física e a felicidade que sentia quando manuseava uma peça rara, uma porcelana chinesa que sobrevivera mais de quatrocentos anos em mãos humanas!
Ela tentou liberar a mão, mas Ethan não estava cooperando agora, e em vez de entrar numa luta que perderia, ergueu o queixo e deu-lhe um olhar desdenhoso.
-Bem, qualquer que tenha sido a circunstância desagradável em que se conheceram, isso acabou sendo uma feliz coincidência, certo? - disse Peter, enquanto os dois travavam uma batalha sem palavras.
Emily tinha outro nome para aquilo.
- Telefone, sr. Nash! - O chamado da governanta ecoou ao longo do hall.
Peter pôs a cabeça para fora da porta.
- Pegue o recado para mim, por favor.
- É o sr. Robinson, advogado. Disse que está retornando a sua ligação - avisou a sra. Cooper.
- Oh! - Peter hesitou por um momento antes de se virar, um sorriso nervoso nos lábios quando deliberada-mente evitou o olhar do sobrinho e falou com Emily: - Preciso atender a ligação, querida. Por que você e Ethan não vão sentar na varanda, onde é mais confortável? Mandarei Coop com mais um prato de bolinhos e café preto para você, é claro, Ethan, já sei que você prefere.
Em outras palavras, Peter não queria que eles'ouvissem sua conversa ao telefone, pensou Emily.
Ethan obviamente estava pensando a mesma coisa, e olhou para Emily com expressão desconfiada.
- O que ele quer de repente com o advogado da família?
- Como eu vou saber? Não é problema meu - replicou ela, tentando puxar o braço.
- Não é? Parece que você fez um bom trabalho para ficar íntima dele, querida. -A imitação parecia conter uma ameaça. - Talvez possa ver algum lucro nisso.
Ela jogou a cabeça para trás e o encarou.
- Não gosto do que você está sugerindo.
- Nem eu. - Sua voz era hostil. - Não gosto da idéia de que você está usando um velho vulnerável pelas costas da família dele.
-Não sei do que está falando - disse Emily, na defensiva.
Ele a puxou para mais perto.
- Você o persuadiu a gastar uma grande quantia de dinheiro rio seu chamado estúdio, segundo a sra. Coo...
- Não fiz isso! Seu tio me preparou uma surpresa porque tem bom coração - interrompeu ela, aumentando o tom de voz.
- Estranho para alguém que sempre foi extremamente cauteloso com o dinheiro. Tio Peter nunca foi dado a caridade antes.
- Não é caridade - protestou Emily. - Farei meu trabalho de restauração aqui. Eu me ofereci para pagar-lhe de volta.
- E aposto que ele recusou.
- Por pena da minha situação - murmurou ela. - A sra. Cooper deve ter mencionado o incêndio...
- Ah, sim, sua história triste.
- Não é uma história. Aconteceu. Apareceu nos jornais. Procure saber, se quiser. E como amigo, Peter ofereceu-se para me ajudar.
- E é claro que você não recusaria ajuda de seu novo amigo muito generoso.
- Não tão novo. Nós nos conhecemos há alguns anos.
- Estranho não ter visto você no funeral de Rose, então.
- Eu... infelizmente não pude comparecer - começou ela, gaguejando sob a bateria de acusações dele. - Meu avô estava muito doente na época.
- Não tão doente que a impediu de ir a uma festa alguns dias antes.
- Ele teve uma queda - foi tudo o que Emily falou, erguendo o queixo, recusando-se a dar-lhe explicações sobre a enfermidade que tornara os últimos anos da vida de James Quest difícil para ambos. - Vovô e eu mandamos flores e um cartão. Peter entendeu. E mais tarde, eu vim visitá-lo.
- E começou a conquistar-lhe a confiança.
- Não foi assim. - Sob a pressão da grande mão controladora, Emily apertou-lhe o braço. Foi como apertar uma barra de ferro. - Pode soltar a minha mão, por favor?
- Por quê? O que quer fazer com ela?
- Não me provoque - respondeu Emily, olhando para o rosto arrogante.
- Por que não? Está começando a pensar que posso ser um investimento mais atraente do que meu tio? Sou tão rico quanto ele, e certamente mais capaz de lhe dar prazer na cama.
- Não seja repulsivo! Eu lhe disse, somos apenas amigos.
- Então por que meu tio nunca mencionou essa "amizade" antes? Falei com Dylan no caminho para cá, e ele também nunca ouviu falar em você. Se esse relacionamento é tão inocente, por que Peter a escondia como um segredo sujo?
- Não sei! - gritou Emily. - Talvez porque saiba que você é um homem desconfiado e de visão limitada.
- É visão limitada preocupar-me quando encontro meu tio idoso no quarto, beijando e abraçando uma jovem sexy com grandes olhos azuis e seios...
- Como ousa? - interrompeu ela, enquanto suas emoções vacilavam entre raiva e descrença. Sexy? Como Ethan podia achá-la sexy numa camiseta larga, cabelos sujos de cinzas e nenhuma maquiagem no rosto? Ela não sabia se ria ou chorava. Obviamente nunca apagaria a primeira impressão que ele tivera dela em meias arrastão pretas e vestido curto e colado ao corpo.
- Você está negando isso?
O quê? Ser jovem, ter grandes olhos azuis e seios que eram maiores do que a média... ou ser sexy?, perguntou-se ela, confusa. Então percebeu que ele estava falando do abraço e do beijo.
- Nós... eu... - Mas era tarde demais. Ethan entendera seu breve momento de confusão como admissão de culpa.
Com uma exclamação de desgosto, ele soltou-lhe o braço como se estivesse contaminado, mas liberdade não era mais a principal preocupação de Emily, que foi para a porta mas não saiu. Não podia, não com sua reputação pessoal e profissional em risco.
E Peter ficaria chocado e magoado. Não apenas com a sugestão de que era um velho namorador, mas também com a implicação de que estava sendo usado. Pela segurança de Peter, e pela sua própria, Emily deveria pelo menos esforçar-se para explicar.
- Ouça - começou ela, procurando pela paciência que a fazia tão boa em seu trabalho -, seu tio e eu gostamos de conversar, isso é tudo. Ele tem sido muito gentil. O que você viu... foi completamente inocente... uma expressão casual de gratidão que interpretou mal.
A boca de Ethan se comprimiu.
- É o que eu a ouvi dizendo a Peter? "Eu amo você" - imitou ele em tom adocicado, fazendo-a imaginar como seria ouvi-lo dizer aquelas palavras com ardente sinceridade.
Nem pense nisso, Emily!
- Não é possível interpretar isso mal, a menos que, é claro, você estivesse mentindo... dizendo o que ele queria ouvir - acrescentou Ethan com um cinismo detestável.
- Você está tirando isso do contexto - disse ela, controlando a irritação. - Lamento se teve a impressão
errada, mas certamente teve. - Fitando-lhe as feições atraentes, ela sentiu uma onda de apreensão e, de súbito, parecia imperativo tirá-lo do quarto. - Talvez você me ouça melhor quando estiver tomando um café.
Emily virou-se para liderar o caminho, mas ele rapidamente colocou a mão na maçaneta da porta, criando uma barreira com o braço.
- Qual é o seu jogo, exatamente?
Ela apoiou os ombros na moldura da porta aberta, meneando a cabeça, os cachos balançando em negação. -Não faço jogos. Ethan sorriu com ironia.
- Oh, Emily, ambos sabemos que isso é mentira!
Ele ergueu uma das mãos subitamente em direção ao rosto dela, e Emily recuou, batendo a cabeça contra a madeira.
- Ai!
Os olhos de Ethan escureceram enquanto a mão continuava a subida ameaçadora, até que o dedo do meio tocou na pele abaixo da sobrancelha dela. Esfregou o ponto com firmeza e retirou a mão, mostrando-lhe o dedo manchado de preto.
- Você tinha uma manchinha no rosto - disse ele.
- Caiu de seus cabelos quando balançou a cabeça.
- Deve ser fuligem - disse ela, limpando melhor o local que ele tocara, o qual agora estava formigando.
- Estive na minha casa esta manhã, a casa que pegou fogo - enfatizou. Então esfregou o ponto dolorido na nuca. - Ai!
- Não precisava ficar tão assustada. O que pensou que eu fosse fazer? - questionou ele, mostrando que estava se divertindo pela primeira vez... à custa dela.
- Oh, não sei. Seus olhos estavam cruéis. Estrangular-me, talvez?
- Isso seria muito mundano da minha parte. E onde eu colocaria seu corpo?
Emily olhou para a cama e enrubesceu. Virando a cabeça, Ethan seguiu-lhe o olhar e arqueou as sobrancelhas quando voltou a fitá-la com um sorriso atormentador.
- Embaixo da cama... ou em cima? - A pergunta a fez corar ainda mais. - Esse é um dos jogos que você gosta de brincar? Ser dominada por seu amante? Entendo que isso pode aumentar o prazer de alguém viciada em sexo.
- Eu nunca... Você tem uma mente imoral - Emily gaguejou, tentando afastar a imagem mental de Ethan West tocando-a por toda parte, segurando-a na cama, enquanto o corpo másculo encaixava-se no meio dela, levando-a ao mais bonito paraíso.
- E você não tem? Está rubra como uma "Segredo Profundo".                                                             
- Não tenho segredos profundos - mentiu Emily.
- É uma mistura de dois tipos de rosas - explicou ele. - Um dos vermelhos mais escuros que uma flor pode ter. 
-Interessante. - Enquanto Emily se perguntava como um homem daqueles conhecia alguma coisa sobre flores, ele inclinou-se para a frente, um braço  ainda estendido ao longo da entrada da porta, o outro deslizando para sua nuca.
- Deixe-me ver se você se machucou.
- Não, eu...
Ethan já estava deslizando os dedos pela sua nuca, pelos seus cabelos, procurando algum inchaço. Ela se contorceu contra a superfície da porta. -Não...
- Fique parada - murmurou ele. Emily se irritou.
- Não me dê ordens.
- Então, pare de agir como uma criança.
- Primeiro, sou uma mulher fatal, e agora uma criança. Decida-se!
- Oh, eu vou decidir - prometeu ele, com tanta segurança que a fez tremer e disfarçar isso com outra reclamação:
- Ai!
- É só um galo. – A mão grande continuou descansando em sua nuca.
- Eu sei, por isso não preciso que me toque! Houve um momento de silêncio.
- Meu toque a perturba tanto assim? - Seu polegar começou a traçar pequenos círculos na área sensível.
- Não - respondeu ela rapidamente.
- Oh, verdade? Devemos colocar isso em teste?
Ele a puxou para seus braços, encostando os seios generosos contra o peito sólido, o braço que balançava a porta descendo para os quadris arredondados e trazendo-a mais para si.

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