Capítulo 5.

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Depois da morte de Rose, o avô de Emily previra que Peter venderia sua valiosa coleção de porcelana chinesa ou a doaria para um museu, uma vez que tinha pouco interesse em arte. Mas Emily acreditara que Peter não se desfaria de algo que significava tanto para a esposa. Assim tinha acontecido e, após emergir da tristeza do luto, Peter continuara mandando peças para a Quest Restorations, seguindo o plano de preservação que Rose tinha deixado anotado em seu caderno de coleções.                                                               
- Ainda acho que você gastou muito - disse ela sem graça.
- Tenho dinheiro, não tenho? Por que não gastá-lo em algo que quero? Não posso levá-lo comigo. E não tenho mais ninguém com quem gastar.
Emily sabia que o fato de Rose não ser capaz de conceber filhos tinha sido uma constante fonte de sofrimento para o casal.
- Há seus sobrinhos.
- O mais velho não precisa de dinheiro, e o mais novo o gastaria em bobagens. Eles receberão o bastante quando eu morrer... não se importam com o que faço enquanto isso.
Emily nunca encontrara os irmãos West, que eram filhos do irmão mais novo de Rose, mas sempre ouvira Peter falando deles com orgulho. Segundo a sra. Cooper, eles visitavam o tio com regularidade, principalmente Ethan, de 32 anos, cujo quarto estava sempre pronto à sua espera. O irmão mais novo, Dylan, só aparecia quando estava em intervalos entre empregos, ou para mostrar uma nova aquisição incrível.
- É claro que se importam - protestou Emily. - Você é o único parente vivo deles.
Peter lhe lançou um olhar estranho.
- Apenas de casamento, não de sangue - murmurou, surpreendendo-a. Peter nunca antes sugerira que aquilo fazia alguma diferença na força do elo. Teria discutido com um dos sobrinhos? Ela sentiu uma ponta de ansiedade, lembrando-se de como o avô fora ofensivo nos últimos anos de sua vida.
- Eles têm o sangue de Rose - ela o relembrou. -Eles são família, e família naturalmente gosta de saber o que se passa na vida dos outros membros.
- Isso é verdade. Então, você contou aos seus pais sobre a extensão do fogo? - perguntou Peter, mudando de assunto. - Disse que tentaria ligar para eles.
- Oh, sim. - Emily deu de ombros. - Contatei o escritório central da agência de ajuda humanitária, e eles prometeram passar o recado. Comunicação é difícil naquela parte da África. Só falei que houve um incêndio e que eu não estava ferida. Não faz sentido comentar sobre a perda do estúdio. Isso não é nada comparado aos problemas de vida e morte que eles enfrentam todos os dias.
Peter abriu a boca, mas então, fechou-a novamente. Encontrara os pais dela somente uma vez, quando haviam voado brevemente para o funeral de James. Ficara chocado ao vê-los partir quase imediatamente, para seu trabalho com os refugiados em Kashmir, mal perdendo tempo para reconhecer o sofrimento da filha.
Emily sabia que ele não respeitava muito Trish e Alan por terem abandonado a filha de sete anos com os pais de Alan, de modo que pudessem viajar pelo mundo como voluntários em trabalhos humanitários. Mas Emily havia preferido viver com seus avós a viagens constantes, dificuldades e privações que seus pais abraçavam com fervor de auto-sacrifício.
- De qualquer forma, eles não poderiam ter feito nada de onde estão - murmurou ela. - Fui eu quem herdou a casa e os negócios, portanto eles não têm responsabilidade legal para lidar.
Apenas uma responsabilidade emocional... a filha deles... Peter poderia ter dito, mas não o fez, assumindo o papel de apoio que impusera a si mesmo desde a morte do avô de Emily.
- Vamos tomar uma xícara de chá.
Os bolinhos estavam tão esplêndidos quanto qualquer coisa que saía do forno da sra. Cooper, e, depois do chá saboreado ao ar livre, Emily tentou novamente expressar tanto seu agradecimento quanto o desconforto pelo presente de Peter.
- Como você disse, seus pais não podem ajudá-la, mas eu posso - disse ele, recusando-se a discutir o pagamento dos materiais que comprara.
Infelizmente, com poucas economias no banco e todos os seus planos dependendo do relatório do seguro, Emily podia somente oferecer uma alternativa para pagar.
- Se eu estivesse com problemas, sei que me ajudaria no que fosse possível. Na verdade, você fez isso... continuou vindo me alegrar depois que Rose morreu, encorajando-me a me interessar por alguma coisa além do meu próprio sofrimento. Eu não seria um bom amigo se não retribuísse o favor, seria?
"Diga-lhe para não ser teimosa, Coop", Peter apelou para a governanta, que aparecera para tirar as xícaras. "Emily está preocupada com o quanto gastei com minha surpresa e tentando me persuadir que deveria trabalhar de graça na lista de desejos de Rose para me reembolsar. Parece pensar que fiz uma bobagem."
Emily enrubesceu enquanto ajudava a sra. Cooper a colocar a delicada porcelana chinesa na bandeja.
- Não acho que é bobagem. Estou imensamente grata... mas sinto como se estivesse sendo paga duas vezes - defendeu-se ela, e viu aprovação e surpresa nos olhos da mulher mais velha.
- Acho difícil encontrar alguém mais teimoso do que ele - comentou a sra. Cooper, olhando para o patrão. - O velho tolo não cede quando enfia uma coisa na cabeça. Tem sido um ditador quanto ao estúdio, e me amolando para arrumar seus quartos, como se eu não mantivesse todos os quartos desta casa impecáveis.
- Meus quartos? - perguntou Emily, olhando confusa de um para outro.
Peter inclinou-se para a frente na cadeira, lançando um olhar contrariado para a governanta.
- Agora você estragou minha outra surpresa. Sei que não aceitaria uma ajuda financeira direta minha, Emily, mas achei que talvez gostasse de ficar aqui até que as coisas se resolvam e você encontre um local para alugar, ou volte para sua própria casa.
- Mas eu já tenho um lugar para ficar... com minha amiga Mie.
- Sim, mas ela mora com outra amiga e o apartamento só tem dois quartos, e você dormiria no sofá da sala.
- Eu não me importo, realmente - insistiu Emily.
- É só um arranjo temporário.
- Você não sabe quanto tempo pode durar. E fica do outro lado de Auckland... um longo trajeto para vir trabalhar aqui todos os dias. Sem carro, você teria de pegar metrô e ônibus, os quais não são muito freqüentes nesta área.
E ela recusara um chofer dirigindo um Rolls-Royce!
- Tenho certeza de que vou me acostumar com isso
- murmurou com fraqueza.
- Você está acostumada a trabalhar em casa, com a liberdade de entrar e sair do seu estúdio sempre que deseja. Tenho muito espaço vago, portanto não vamos atrapalhar um ao outro.
Quando Emily abriu a boca, ele ergueu uma das mãos.
- Antes que negue, por que não deixa Coop lhe mostrar seu quarto? Fica na ala leste, perto da garagem, e tem uma entrada separada, de modo que você pode pegar um atalho para o estúdio.
De alguma maneira, a sra. Cooper estava mais bem-humorada, e levou a relutante Emily para um luxuoso quarto branco, com uma pequena sala de estar adjacente, onde gabinetes antigos com portas de vidro e mesas orientais exibiam as estatuetas Meissen de Rose, aparelhos de jantar e sua última coleção, entre outros itens de porcelana chinesa.
- É maravilhoso e não quero ofender o sr. Nash, mas acho que é melhor eu ficar com minha amiga - murmurou Emily, passando a mão pela coberta de penas.
A larga cama de solteiro parecia tão convidativa comparada ao velho sofá de espuma de Julie que ela ficou tentada a deitar-se, mas então seria ainda mais difícil resistir à tentação.
- Mas obrigada por fazer tudo isso - disse ela, gesticulando para incluir o vaso de flores sobre a penteadeira, as toalhas felpudas dobradas ao pé da cama e a travessa de frutas frescas em cima da mesinha da sala de estar. Havia até mesmo uma cesta de artigos femininos ao lado do telefone sobre o criado-mudo.
- Ordens do sr. Nash. - A governanta deu de ombros.

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