Capítulo 23.

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Após deixar as sacolas de compras no quarto, viu que a porta onde ficava a coleção de Rose estava entreaberta, e, pensando que Peter poderia estar lá, entrou, encontrando Ethan em roupas de trabalho, olhando dentro de um dos gabinetes.
Sem olhar para trás, Ethan murmurou:
- É esse, não é?
Com o coração disparado, Emily aproximou-se e pegou-se olhando para um objeto muito familiar.
- Sim, o frasco peregrino.
- Bonito. Posso pegá-lo, ou preciso de luvas? Ela deu de ombros.
- Pode pegar, contanto que suas mãos estejam limpas.
Ethan mostrou-lhe as mãos para que ela as inspecionasse, então pegou a porcelana, manuseando-a com delicadeza.
- Que detalhe incrível. O que é isso, um dragão?
- Um dragão da água. Há um de cada lado - apontou ela, mostrando-lhe a pintura azul no lado oposto. - E esse padrão representa ondas estourando. E tem as nuvens e os arbustos.
- Muita história em um pequeno espaço.
- Isso mostra o talento do artista, uma das razões pelas quais a peça é tão valiosa. Não é apenas história, é uma grande arte. - Ela o observou devolver o frasco cuidadosamente à prateleira. - Às vezes não acredito no que ousei fazer. Alguma coisa poderia ter acontecido.
- Alguma coisa aconteceu - disse Ethan, virando-se. - Você assumiu um risco e valeu a pena.
- Geralmente não corro riscos. Os olhos dele brilharam.
- Não acho que você se conheça muito bem, Emily. Se ele soubesse quanta verdade estava dizendo!
Engolindo em seco, Emily focou sua atenção nas prateleiras e fez comentários sobre as peças.
O celular de Ethan tocou e, após atender, ele pediu licença, dizendo que precisava dar alguns telefonemas.
Decidindo que estava com fome, Emily foi comer um sanduíche na cozinha, e estava atravessando o corredor quando encontrou Peter saindo do escritório seguido por um homem baixo de óculos, que ele apresentou como Andrew Robinson, seu advogado.
O advogado trocou a maleta de mão para cumprimentá-la, os olhos verdes e frios quando murmurou seu nome.
Emily descobriu por que no momento em que Peter contou que acabara de alterar seu testamento, adicionando o nome de Emily.
Ela empalideceu, o sanduíche revolvendo no estômago. Primeiro o carro, agora o testamento.
- Peter, você não pode fazer isso.
- Posso e fiz - replicou ele orgulhosamente. - Eu gostaria de que todos parassem de me dizer que não sei o que estou fazendo - acrescentou, lançando um olhar de condenação para o advogado.
- Mas... pelo amor de Deus! Não sabemos de nada ainda - disse ela freneticamente. Tudo o que podia pensar era na reação de Ethan. - Nada foi provado, Peter, e talvez nunca seja.
- Eu o aconselhei a fazer um teste de DNA antes de tomar decisões precipitadas - murmurou Robinson -, mas ele insistiu em não esperar.
- E se eu morrer amanhã, e deixar você sem nada? - perguntou Peter.
- Mas eu não espero nada. Não quero mais nada além do que você já me deu. Mesmo que tenha acontecido uma coincidência fantástica e eu seja sua neta, você não precisa fazer isso.
Ela só queria ser a simples Emily Quest, artista restauradora, alguém que Ethan pudesse respeitar, confiar e amar.
- Não seria tanta coincidência como você pensa - replicou Peter. - Quando o nome Quest surgiu e descobri o que você fazia, fui eu quem sugeriu a Rose que começasse a usar os serviços da Quest Restorations.
A manipulação dele às escondidas parecia piorar as coisas. Tantos segredos da esposa!
- Peter, você ainda nem contou para sua família. Se tem tanta certeza disso, por que ainda não contou aos seus sobrinhos? Não é justo enganá-los. Como espera que entendam?
- Eles não precisam entender, apenas aceitar.
- Entender o quê? O que está acontecendo? - Ethan entrou na sala, franzindo o cenho com a visão do advogado e com a figura congelada de Emily. - Tio Peter?
- Ele olhou para o advogado. - Andrew, o que foi?
Ninguém falou, então Emily não podei mais se conter:
- Seu tio decidiu alterar o testamento em meu favor. Você está fora e eu estou dentro! - anunciou ela furiosa. - E porque sou uma "caçadora de fortunas", estou radiante com isso!
- Mudou o testamento? - A voz dele era neutra quando acrescentou: - Bem, se esse é o desejo dele...
- Você não vai perguntar por quê? - interrompeu Emily. Ele a culparia, ela sabia disso!
- Não tenho de...
Emily deu uma risada sardônica.
- Oh, sim, tem. Acredite em mim, você vai querer saber. - Ela olhou para Peter, pela primeira vez zangada com as manipulações dele. - Conte a Ethan - ordenou. - Conte-lhe quem realmente sou, ou eu contarei. Estou cansada de ser uma peça de um jogo do qual nunca posso participar. Não vou mais guardar os segredos de ninguém. Não sei a que lugar pertenço, mas, no momento, certamente não é a esta casa!
E com isso, ela se virou e foi para o estúdio, mas não entrou. Com os olhos marejados, encostou-se contra a porta, cruzou os braços sobre o peito, tentando proteger-se contra a dor de ver seus sonhos se destruindo.

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