Ela se levantou e o olhou. Ele parecia ter envelhecido anos.
- Sinto muito, Peter. Sei o quanto você queria isso, mas definitivamente não sou a filha de Carol. Não sou a pessoa que você está procurando.
- Mas foi você que encontrei - murmurou ele, sumamente puxando-a para um abraço forte. - Nossa amizade ainda é verdadeira, mesmo que o resto não seja. Sou eu quem lamento, Emily, por ter sido um velho tão teimoso e me recusado a ouvir a voz da razão. Se eu não tivesse ficado tão obcecado em perseguir o passado, você não estaria passando por toda essa angústia agora. Ainda estaria na ignorância abençoada sobre sua descendência. Eu não tinha o direito de brincar de Deus com sua vida.
Foi a vez dela de tentar encontrar palavras para consolá-lo.
- Dizem que a verdade liberta uma pessoa - murmurou, mesmo sabendo que levaria um tempo para acreditar nisso.
Eles compartilharam mais algumas lágrimas, então, sentindo que Peter precisava ficar sozinho, Emily insistiu em voltar ao trabalho, m^s, uma vez no estúdio, ficou olhando para o espaço. Tudo estava igual, entretanto, tudo mudara. Peter dizia que aquilo não afetaria a amizade dos dois, mas isso era inevitável. Ele nunca desistiria. Em breve, começaria a procurar a neta perdida novamente. E talvez tivesse sucesso. Coisas estranhas aconteciam. Como Emily Quest, que acabara sendo Emily Sem-nome!
Por Peter, ela fingiu jantar com o mesmo entusiasmo, mas notou que ambos só estavam beliscando, enquanto conversavam, tentando evitar o único assunto que estava em suas mentes. Ela sabia que ele estava infeliz com a notícia que acabara de receber, mas também sabia que era a coisa certa a fazer.
Na tarde seguinte, estava no quarto guardando os livros em uma sacola quando uma súbita mudança na atmosfera fez sua pele arrepiar.
Ethan estava parado às portas abertas da varanda, observando-a seriamente.
- Ethan...
- Tio Peter me ligou para contar o que aconteceu.
- Ele o tirou do trabalho...
- Eu ia voltar esta noite, de qualquer forma. - Ele entrou no quarto e olhou para os livros. - Peter falou que você vai voltar para sua casa meio-construída. Planejava partir antes de eu chegar?
Ethan queria culpá-la por estar fugindo.
- Não, Ethan, não é assim...
- Como é, então?
Emily deu um sorriso trêmulo.
- Pior, na verdade.
Ele estendeu os braços e ela correu para eles, enterrando o rosto no peito sólido. Ethan a abraçou.
- Isso era exatamente o que eu temia.
- O quê? Que eu fosse uma impostora?
- Não. Que essa história acabaria machucando alguém.
Ela ergueu a cabeça.
- Acho que Peter precisa de sua compaixão tanto quanto eu. Ele se sente péssimo.
- Por isso não quer que você vá embora.
Emily saiu dos braços dele com relutância e deu um passo atrás.
- Não posso ficar, entenda. Peter só me convidou para morar aqui porque pensou que eu fosse sua neta. Minha estada só vai dificultar uma aceitação da verdade... para nós dois. Não quero estragar minha amizade com Peter. Não vou desaparecer. Vou continuar vindo trabalhar todos os dias até que meu estúdio seja reconstruído. Mas agora que tenho dinheiro para me sustentar, não há razão para que eu não volte para casa. A limpeza foi feita e meu quarto está perfeitamente habitável, a eletricidade e o encanamento funcionando.
- Habitável, mas dificilmente confortável.
- Não me, importo com um pouco de desconforto até que a obra termine - disse ela, pegando um outro livro, tentando soar forte e independente. Ethan a olhou de modo intenso.
- Se seus escrúpulos não permitem que fique aqui, por que não vem comigo para Waiheke? - disse ele abruptamente. - Poderia vir trabalhar de balsa todos os dias.
O livro caiu dos dedos trêmulos de Emily.
- Está me convidando para morar com você? Houve um profundo silêncio, e ela ouviu o próprio
coração disparado. Oh, meu Deus! Tinha perguntado como se o tivesse pedido em casamento.
- Bem, fique lá até que sua casa termine, pelo menos - murmurou Ethan, a cautela nos olhos disfarçada por um sorriso sexy.
Emily enrubesceu enquanto a esperança se esvaía. Devia saber que era bom demais para ser verdade. E claro que ele não estava sugerindo nada permanente.
Simplesmente queria tornar o caso deles mais conveniente, seguro de que ela partiria em algumas semanas, quando eleja estivesse cansado da convivência diária.
- Obrigada, mas acho que prefiro me instalar em minha própria casa. - Ela pegou o livro do chão. - Sempre planejei voltar para lá assim que possível. Nunca quis atrapalhar ninguém.
- Você não estaria atrapalhando. - Ethan franziu o cenho. - Não quer ir? Pensei que tivesse gostado do lugar.
-Gostei. - Gostava do lugar, amava o dono. E detestava que ele não quisesse um futuro com ela.
Emily guardou o livro na sacola e se virou. Ethan aproximou-se, colocando os dedos sob as alcinhas da blusa dela.
- Eu poderia convencê-la a dizer sim - sussurrou sedutoramente, e abaixou a cabeça para roçar-lhe o pescoço. - Acho que você sabe que eu poderia fazê-la
mudar de idéia.
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AMANTE ACIDENTAL
RomantikAs coisas que ela teve de fazer para salvar os negócios de sua família! Naquela noite, Emily Quest se arrumou de modo especial. Com um vestido justo ao corpo e saltos altíssimos, partiu para uma festa perigosa num bairro sofisticado de Auckland, de...