- Se essa é sua idéia de diversão, você precisa ir a um psicólogo - disse Emily três noites depois, observando Dylan e Carly mo vendo-se na pequena pista de dança. Na luz parca, o vestido branco de Carly parecia quase luminoso em contraste com o terno preto de seu parceiro.
- Pensei que você estivesse se divertindo, Emily
- murmurou Ethan, sentado a seu lado, observando-lhe o rosto à luz das velas, enquanto o garçom removia os pratos da maravilhosa refeição.
- Estou, mas não sei quanto a eles - replicou ela, vendo Carly ficar tensa no momento em que Dylan colocou os braços ao redor dela e começou a girá-la no ritmo da música.
Carly e Dylan haviam discutido a noite inteira, revelando opiniões opostas em quase todos os assuntos, ignorando as tentativas de Emily para amenizar o clima, enquanto Ethan parecia contente, quase encorajando a disputa sutil.
- Por que você não está lá dançando com ela? - perguntou Emily.
- Porque Dylan a convidou primeiro.
- Ela estava esperando que você a convidasse.
- Ela sabe que não danço muito bem.
- Então, por que nos trouxe a um restaurante com música e dança?
- A comida? - murmurou ele. O status e a exclusividade daquele restaurante tinham sido os motivos pelos quais o jantar deles fora adiado.
- Sim, a comida é fabulosa - admitiu Emily. A comida italiana 'estivera impecável, assim como os vinhos, embora Ethan, alegando que ia dirigir, se mantivesse abstêmio.
Com um sinal, ele pediu que o garçom servisse mais vinho na taça de Emily.
- Oh, eu não acho que deveria - começou ela, mas o garçom já tinha enchido a taça.
Ethan inclinou-se sobre ela.
- Por que não aproveitar? Você passou o dia fechada no estúdio, apenas com um sanduíche. Merece uma noite de prazeres.
Uma noite inteira? Emily afastou o pensamento errante.
- Acho que já tive prazeres demais por hoje - murmurou ela sorrindo. - Comida boa e vinho.
- Notei que você limpou o prato com o pão - provocou ele, e a viu corar lindamente.
- Não pude evitar, aquele molho estava divino. Acho que fui meio gulosa.
- Gosto de vê-la comer com tanta entrega - disse ele. - Parecia em êxtase com cada garfada. O jantar foi uma experiência muito sensual.
Ela riu, incerta se devia se sentir embaraçada ou lisonjeada.
- E pedi aquela sobremesa de chocolate. Sei que deveria ter feito como Carly e comido fruta.
Ethan acariciou-lhe o ombro, tocando a alcinha do vestido sensual.
- Você nunca poderia ser como Carly - sussurrou.
- Ela tem ângulos, você tem curvas... macias, bonitas e arredondadas. -A mão quente subiu para o pescoço de Emily, sentindo a pulsação acelerada ali. - Sabe, esse vestido tem quase a mesma tonalidade dos seus olhos.
- Eu... Foi por isso que eu o comprei - gaguejou Emily, colocando as mãos no colo e tentando controlar a excitação crescente. - É um dos meus favoritos. Espero que você não sinta o cheiro de fumaça nele.
Como uma distração, aquilo foi um desastre. Ethan inclinou a cabeça para o vale entre os seios e inalou profundamente, os cabelos roçando o queixo de Emily.
Ela viu um casal de meia-idade em outra mesa observando-os com olhos arregalados.
- Ethan, pelo amor de Deus! Ele ergueu a cabeça.
- O aroma é absolutamente sexy e maravilhoso.
- E você está passando dos limites - disse ela, trêmula. - Deveria estar aqui com Carly. Como ela se sentiria se o visse...
- Cheirando você? - zombou ele com voz rouca.
- Ela não vai ver. Está muito preocupada em humilhar meu irmão.
Emily olhou para a pista de dança, onde Carly fitava Dylan com petulância, enquanto ele a puxava mais para si.
- Ele está apaixonado por ela - disse Emily, tendo percebido, durante a noite, que eles não se comportavam como se sentissem indiferença um pelo outro. O par tinha uma história juntos, e a atitude teimosa de Dylan era como a de uma criança agredindo sua garota favorita para chamar-lhe a atenção.
Ethan seguiu-lhe o olhar.
- Está? - perguntou, nem um pouco alarmado. - Ou será que Dylan só quer o que não pode ter?
- Como você? Ele a fitou e sorriu.
- Por quê? Quem você acha que quero e que não posso ter, Emily?
Ela cruzou os braços e olhou para os dançarinos, recusando-se a responder.
- A mulher que eu quero posso ter em qualquer lugar, a qualquer hora, e ela sabe muito bem disso. -Emily sentiu uma mão quente em seu joelho, deslizando por baixo do vestido, enviando tremores por todo o seu corpo. Nervosa e excitada, olhou-o. Como ele podia parecer tão calmo e distinto no terno cinza impecável, enquanto ela nutria pensamentos tão indecentes e se sentia descomposta?
- Na verdade, eu estava pensando em Anna, sua ex-noiva - murmurou ela, pondo a mão embaixo da mesa para remover os dedos tentadores de sua perna e cruzando-as firmemente, a fim de recobrar a compostura. - Dylan me contou sobre o rompimento de seu noivado.
- Verdade? O que mais ele lhe contou sobre mim?
- Tudo. Ethan riu.
- Então você deve ter perguntado. Também o questionou sobre Carly? E ele falou que eles tiveram um caso no ano passado, mas que fugiu quando ela começou a querer um compromisso mais sério?
Os olhos de Emily se arregalaram e ele sorriu.
- Achei que não. Portanto, dessa vez, Dylan terá de se esforçar mais se quiser tirá-la de mim.
Ethan recostou-se e esperou que Emily ponderasse sobre as possibilidades.
- É por isso que vocês dois têm saído juntos? Para deixar Dylan com ciúme?
Ele deu de ombros.
- Você se sentiria melhor se eu dissesse que sim? Os olhos dela brilharam de raiva, e Ethan pareceu satisfeito.
- Isso não é agradável, é, Emily? Fazer perguntas que ninguém está disposto a responder.
Ela baixou os olhos para a taça de vinho. Peter lhe mostrara os relatórios do investigador, que pareciam mais especulações do que uma evidência comprovada. Os pais de Emily não tinham respondido aos interrogatórios, e ela vinha tentando se comunicar com eles a fim de provar que as suposições de Peter estavam ,erradas.
- Talvez Carly me responda - disse Emily com teimosia.
- Duvido. Eu disse a ela que você era uma moça atrevida e "caçadora de fortunas", e que se não conseguisse nada de Peter, tentaria pôr suas garras em Dylan ou em mim.
- Você não fez isso!
- Na época, pensei que você fosse - defendeu-se Ethan. - Na verdade, ainda estou em dúvida.
- Não sou "caçadora de fortunas"!
- Então admite que é uma moça atrevida?
Ele tinha todo o direito de pensar assim, pela maneira como ela vinha se comportando.
- Sou apenas uma mulher comum, tentando seguir com minha vida.
- Se você se acha comum, devia ir a um psicólogo - disse ele, mudando de assunto quando Dylan e Carly retornaram à mesa.
Emily pensou que o resto da noite seria tensa, mas, durante o café e os licores, Ethan manteve a conversa geral e agradável, até que Dylan questionou Emily sobre a história que soubera por Peter. Carly também parecia intrigada pela idéia.
- Você realmente cresceu em um campo de refugiados?
- Nem sempre moramos nos campos. Às vezes, alugávamos casas e morávamos em pequenos vilarejos.
- Eu não sabia que você viajava com seus pais. -Ethan franziu o cenho. - Não era perigoso levar um bebê em situações de emergência?
- Meus pais não começaram a fazer trabalho de emergência até que cheguei à idade de ir para a escola e voltei para viver com meus avós.
- Deve ter sido uma experiência fascinante tantas viagens e aventuras. E você não quis acompanhar seus pais no serviço de ajuda ao próximo? - perguntou Carly em tom de crítica, fazendo Emily lembrar que a mulher a considerava "caçadora de fortunas".
- Logo me cansei de viagens e aventuras - respondeu ela. - É necessário ter um tipo de personalidade especial para escolher viver da maneira que meus pais escolheram.
- Quer dizer, do tipo altruísta?
- Acho que ela se refere ao perigo desse tipo de vida - disse Ethan, mais uma vez confundindo Emily com sua intuição.
- Mas um perigo muito altruísta - apontou ela com um sorriso.
Carly obviamente não apreciava o humor deles.
- Acho que pessoas assim são maravilhosas!
- Sim, elas são. Apenas muito difíceis de acompanhar.
- Tenho certeza de que você faz o possível.
- Fui informada por alguém confiável de que fazer o possível não é bom o bastante.
- Que cruel!
- Concordo - murmurou Emily, dando uma olhada para Ethan. - De qualquer forma, prefiro estar em um único lugar hoje em dia.
- Na casa de Peter? - comentou Ethan.
- Por falar nisso - interferiu Dylan -, você teve notícias da companhia de seguros?
Emily suspirou.
-Agora eles estão admitindo que o incêndio foi causado por algum tipo de rojão que atingiu a janela do estúdio. A única pergunta é se foi acidental ou deliberado.
- Então, você logo vai receber o pagamento - disse Dylan.
- Espero que sim. - Sua voz revelava dúvida. Ainda teriam de decidir o valor da indenização. -A boa notícia é que minha casa não será inteiramente demolida, apenas partes dela. O restante poderá ser reconstruído.
- Por que não me deixa resolver isso para você? -sugeriu Ethan quando todos levantaram para partir. -Estou acostumado a lidar com problemas de seguro na indústria de construções. Ligarei para Tremaine e verei o que posso descobrir.
- Tudo bem - concordou ela, relutante.
Assim que eles entraram no carro, Emily descobriu que Ethan iria deixá-la com Dylan em casa antes de levar Carly. Durante o trajeto, Ethan contou piadas e todos riram num clima descontraído.
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AMANTE ACIDENTAL
RomanceAs coisas que ela teve de fazer para salvar os negócios de sua família! Naquela noite, Emily Quest se arrumou de modo especial. Com um vestido justo ao corpo e saltos altíssimos, partiu para uma festa perigosa num bairro sofisticado de Auckland, de...