Capítulo 20.

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- Se essa é sua idéia de diversão, você precisa ir a um psicólogo - disse Emily três noites depois, observando Dylan e Carly mo vendo-se na pequena pista de dança. Na luz parca, o vestido branco de Carly parecia quase luminoso em contraste com o terno preto de seu parceiro.
- Pensei que você estivesse se divertindo, Emily
- murmurou Ethan, sentado a seu lado, observando-lhe o rosto à luz das velas, enquanto o garçom removia os pratos da maravilhosa refeição.
- Estou, mas não sei quanto a eles - replicou ela, vendo Carly ficar tensa no momento em que Dylan colocou os braços ao redor dela e começou a girá-la no ritmo da música.
Carly e Dylan haviam discutido a noite inteira, revelando opiniões opostas em quase todos os assuntos, ignorando as tentativas de Emily para amenizar o clima, enquanto Ethan parecia contente, quase encorajando a disputa sutil.
- Por que você não está lá dançando com ela? - perguntou Emily.
- Porque Dylan a convidou primeiro.
- Ela estava esperando que você a convidasse.
- Ela sabe que não danço muito bem.
- Então, por que nos trouxe a um restaurante com música e dança?
- A comida? - murmurou ele. O status e a exclusividade daquele restaurante tinham sido os motivos pelos quais o jantar deles fora adiado.
- Sim, a comida é fabulosa - admitiu Emily. A comida italiana 'estivera impecável, assim como os vinhos, embora Ethan, alegando que ia dirigir, se mantivesse abstêmio.
Com um sinal, ele pediu que o garçom servisse mais vinho na taça de Emily.
- Oh, eu não acho que deveria - começou ela, mas o garçom já tinha enchido a taça.
Ethan inclinou-se sobre ela.
- Por que não aproveitar? Você passou o dia fechada no estúdio, apenas com um sanduíche. Merece uma noite de prazeres.
Uma noite inteira? Emily afastou o pensamento errante.
- Acho que já tive prazeres demais por hoje - murmurou ela sorrindo. - Comida boa e vinho.
- Notei que você limpou o prato com o pão - provocou ele, e a viu corar lindamente.
- Não pude evitar, aquele molho estava divino. Acho que fui meio gulosa.
- Gosto de vê-la comer com tanta entrega - disse ele. - Parecia em êxtase com cada garfada. O jantar foi uma experiência muito sensual.
Ela riu, incerta se devia se sentir embaraçada ou lisonjeada.
- E pedi aquela sobremesa de chocolate. Sei que deveria ter feito como Carly e comido fruta.
Ethan acariciou-lhe o ombro, tocando a alcinha do vestido sensual.
- Você nunca poderia ser como Carly - sussurrou.
- Ela tem ângulos, você tem curvas... macias, bonitas e arredondadas. -A mão quente subiu para o pescoço de Emily, sentindo a pulsação acelerada ali. - Sabe, esse vestido tem quase a mesma tonalidade dos seus olhos.
- Eu... Foi por isso que eu o comprei - gaguejou Emily, colocando as mãos no colo e tentando controlar a excitação crescente. - É um dos meus favoritos. Espero que você não sinta o cheiro de fumaça nele.
Como uma distração, aquilo foi um desastre. Ethan inclinou a cabeça para o vale entre os seios e inalou profundamente, os cabelos roçando o queixo de Emily.
Ela viu um casal de meia-idade em outra mesa observando-os com olhos arregalados.
- Ethan, pelo amor de Deus! Ele ergueu a cabeça.
- O aroma é absolutamente sexy e maravilhoso.
- E você está passando dos limites - disse ela, trêmula. - Deveria estar aqui com Carly. Como ela se sentiria se o visse...
- Cheirando você? - zombou ele com voz rouca.
- Ela não vai ver. Está muito preocupada em humilhar meu irmão.
Emily olhou para a pista de dança, onde Carly fitava Dylan com petulância, enquanto ele a puxava mais para si.
- Ele está apaixonado por ela - disse Emily, tendo percebido, durante a noite, que eles não se comportavam como se sentissem indiferença um pelo outro. O par tinha uma história juntos, e a atitude teimosa de Dylan era como a de uma criança agredindo sua garota favorita para chamar-lhe a atenção.
Ethan seguiu-lhe o olhar.
- Está? - perguntou, nem um pouco alarmado. - Ou será que Dylan só quer o que não pode ter?
- Como você? Ele a fitou e sorriu.
- Por quê? Quem você acha que quero e que não posso ter, Emily?
Ela cruzou os braços e olhou para os dançarinos, recusando-se a responder.
- A mulher que eu quero posso ter em qualquer lugar, a qualquer hora, e ela sabe muito bem disso. -Emily sentiu uma mão quente em seu joelho, deslizando por baixo do vestido, enviando tremores por todo o seu corpo. Nervosa e excitada, olhou-o. Como ele podia parecer tão calmo e distinto no terno cinza impecável, enquanto ela nutria pensamentos tão indecentes e se sentia descomposta?
- Na verdade, eu estava pensando em Anna, sua ex-noiva - murmurou ela, pondo a mão embaixo da mesa para remover os dedos tentadores de sua perna e cruzando-as firmemente, a fim de recobrar a compostura. - Dylan me contou sobre o rompimento de seu noivado.
- Verdade? O que mais ele lhe contou sobre mim?
- Tudo. Ethan riu.
- Então você deve ter perguntado. Também o questionou sobre Carly? E ele falou que eles tiveram um caso no ano passado, mas que fugiu quando ela começou a querer um compromisso mais sério?
Os olhos de Emily se arregalaram e ele sorriu.
- Achei que não. Portanto, dessa vez, Dylan terá de se esforçar mais se quiser tirá-la de mim.
Ethan recostou-se e esperou que Emily ponderasse sobre as possibilidades.
- É por isso que vocês dois têm saído juntos? Para deixar Dylan com ciúme?
Ele deu de ombros.
- Você se sentiria melhor se eu dissesse que sim? Os olhos dela brilharam de raiva, e Ethan pareceu satisfeito.
- Isso não é agradável, é, Emily? Fazer perguntas que ninguém está disposto a responder.
Ela baixou os olhos para a taça de vinho. Peter lhe mostrara os relatórios do investigador, que pareciam mais especulações do que uma evidência comprovada. Os pais de Emily não tinham respondido aos interrogatórios, e ela vinha tentando se comunicar com eles a fim de provar que as suposições de Peter estavam ,erradas.
- Talvez Carly me responda - disse Emily com teimosia.
- Duvido. Eu disse a ela que você era uma moça atrevida e "caçadora de fortunas", e que se não conseguisse nada de Peter, tentaria pôr suas garras em Dylan ou em mim.
- Você não fez isso!
- Na época, pensei que você fosse - defendeu-se Ethan. - Na verdade, ainda estou em dúvida.
- Não sou "caçadora de fortunas"!
- Então admite que é uma moça atrevida?
Ele tinha todo o direito de pensar assim, pela maneira como ela vinha se comportando.
- Sou apenas uma mulher comum, tentando seguir com minha vida.
- Se você se acha comum, devia ir a um psicólogo - disse ele, mudando de assunto quando Dylan e Carly retornaram à mesa.
Emily pensou que o resto da noite seria tensa, mas, durante o café e os licores, Ethan manteve a conversa geral e agradável, até que Dylan questionou Emily sobre a história que soubera por Peter. Carly também parecia intrigada pela idéia.
- Você realmente cresceu em um campo de refugiados?
- Nem sempre moramos nos campos. Às vezes, alugávamos casas e morávamos em pequenos vilarejos.
- Eu não sabia que você viajava com seus pais. -Ethan franziu o cenho. - Não era perigoso levar um bebê em situações de emergência?
- Meus pais não começaram a fazer trabalho de emergência até que cheguei à idade de ir para a escola e voltei para viver com meus avós.
- Deve ter sido uma experiência fascinante tantas viagens e aventuras. E você não quis acompanhar seus pais no serviço de ajuda ao próximo? - perguntou Carly em tom de crítica, fazendo Emily lembrar que a mulher a considerava "caçadora de fortunas".
- Logo me cansei de viagens e aventuras - respondeu ela. - É necessário ter um tipo de personalidade especial para escolher viver da maneira que meus pais escolheram.
- Quer dizer, do tipo altruísta?
- Acho que ela se refere ao perigo desse tipo de vida - disse Ethan, mais uma vez confundindo Emily com sua intuição.
- Mas um perigo muito altruísta - apontou ela com um sorriso.
Carly obviamente não apreciava o humor deles.
- Acho que pessoas assim são maravilhosas!
- Sim, elas são. Apenas muito difíceis de acompanhar.
- Tenho certeza de que você faz o possível.
- Fui informada por alguém confiável de que fazer o possível não é bom o bastante.
- Que cruel!
- Concordo - murmurou Emily, dando uma olhada para Ethan. - De qualquer forma, prefiro estar em um único lugar hoje em dia.
- Na casa de Peter? - comentou Ethan.
- Por falar nisso - interferiu Dylan -, você teve notícias da companhia de seguros?
Emily suspirou.
-Agora eles estão admitindo que o incêndio foi causado por algum tipo de rojão que atingiu a janela do estúdio. A única pergunta é se foi acidental ou deliberado.
- Então, você logo vai receber o pagamento - disse Dylan.
- Espero que sim. - Sua voz revelava dúvida. Ainda teriam de decidir o valor da indenização. -A boa notícia é que minha casa não será inteiramente demolida, apenas partes dela. O restante poderá ser reconstruído.
- Por que não me deixa resolver isso para você? -sugeriu Ethan quando todos levantaram para partir. -Estou acostumado a lidar com problemas de seguro na indústria de construções. Ligarei para Tremaine e verei o que posso descobrir.
- Tudo bem - concordou ela, relutante.
Assim que eles entraram no carro, Emily descobriu que Ethan iria deixá-la com Dylan em casa antes de levar Carly. Durante o trajeto, Ethan contou piadas e todos riram num clima descontraído.

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