Capítulo 19.

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Subitamente, um brilho de lantejoula lhe chamou a atenção e ela notou, pela primeira vez, a mulher que seguira Ethan para dentro da sala. Para seu desgosto, era ainda mais bonita do que Dylan falara. Muito magra e alta, os cabelos loiros presos num penteado, usava um vestido longo elegante, verde e brilhante.
Emily imediatamente se sentiu como uma mendiga em seu simples vestido de verão e suas sandálias com sola de corda.
Ethan notou-lhe o olhar e fez uma apresentação rápida, impaciente para voltar ao assunto em questão.
- Carly Foster, essa é Emily Quest, de quem lhe falei.
Eles haviam conversado sobre ela?
A mulher estendeu a mão e Emily a apertou com um sorriso educado. A voz de Carly era suave como a pele lindamente bronzeada.
- E, é claro, Dylan você já conhece. - Ethan gesticulou para o irmão encostado em um dos pilares decorativos.
- Muito bem - murmurou Carly docemente, enquanto Dylan apenas assentia com um gesto de cabeça.
- Então, vocês estavam sentados aqui conversando, quando ele de repente engasgou? - Ethan voltou ao assunto. - Isso não se parece com tio Peter. Ele geralmente mastiga muito bem.
- Não aqui, nós estávamos na mesa de jantar, conversando e vendo fotografias...
- Fotografias do quê?
- De pessoas. Família. Apenas... fotos antigas - Emily gaguejou. Eles haviam deixado as fotos sobre a mesa quando Peter engasgara e ela o socorrera. Ethan notaria aquela fotografia anônima no meio das outras, ou veria a semelhança que Emily ainda tentaria convencer Peter de que era apenas uma coincidência?
- E sobre o que vocês conversavam? Estavam tendo algum tipo de discussão?
Emily engoliu em seco.
- Não estávamos discutindo... - Ela parou quando Ethan se aproximou e parou na sua frente, olhando-a com intensidade.
- Mas estavam discordando em alguma coisa- afirmou ele. - O que era?
Enfrentada com uma pergunta direta, Emily hesitou. Se começasse a mentir para ele agora, perderia toda a confiança que ganhara naquela manhã. Mas, se falasse, estaria se aprofundando mais num problema familiar, e não tinha esse direito.
Sua hesitação pareceu durar uma eternidade, e de repente sentiu os dedos gelados de Peter segurando-lhe a mão e apertando-a de leve, e virou-se para ver um apelo aberto nos olhos dele. Estava suplicando para que ela não expusesse seu segredo vergonhoso para a família, antes que ele estivesse pronto para fazê-lo.
- Lamento, mas não posso lhe contar - disse ela, apertando a mão de Peter antes de colocá-la de volta embaixo do cobertor. - É uma coisa particular entre Peter e eu.
Ethan observara o aperto de mão dos dois, e então segurou o cotovelo de Emily.
- Podem nos dar licença por um minuto? - falou para os outros e conduziu-a para a sala de jogos. - Certo... o que está realmente acontecendo?
Ela encostou-se contra a mesa de bilhar.
- Já disse que não posso falar sobre isso. Ele arqueou as sobrancelhas e se aproximou.
- Peter não pode ouvi-la daqui - sussurrou. - Eu não vou dizer a ele que você me contou.
- Não tem nada a ver com isso - replicou Emily com firmeza, percebendo a tentativa de Ethan de subornar-lhe a lealdade. - Não adianta, Ethan, eu não vou lhe contar. Essa tarefa dolorosa deve ser de Peter.
Ela cometeu o erro de fitar os olhos azuis, e seu coração se amaciou com o conflito que viu neles. Como poderia condená-lo por amar o tio e preocupar-se com a saúde dele?
- Ele não está gravemente doente ou morrendo, Ethan, se é isso que o preocupa. Apenas tem alguns problemas... com o passado. E isso é o máximo que vai tirar de mim. Se tem mais perguntas, terá de questionar seu tio. Mas, se eu fosse você, o deixaria fazer isso em seu próprio tempo.
- Você é especialista em família, agora?
Ela baixou a cabeça, mas Ethan ergueu-lhe o queixo, obrigando-a a encará-lo.
- Emily, você é tão teimosa - murmurou ele. - E leal. Excessivamente. Primeiro com seu avô, agora com tio Peter. Quando vai chegar a minha vez?
A súbita gentileza de Ethan era ainda mais perigosa para as defesas dela do que as acusações. Ele soltou-lhe o queixo e deslizou a mão para suas costas.
- Vamos voltar para a sala? - sugeriu Emily. - Carly deve estar impaciente.
- Carly pode cuidar de si mesma.
- Isso não é muito elegante.
- Ela não sai comigo pela minha elegância. Emily sentiu o peito comprimir.
- Isso soa tão passivo. Pensei que vocês saíssem juntos.
- Temos um acordo antigo.
- Então, agora não é um namoro, é um acordo - disse ela com sarcasmo. - Suponho que poderíamos ficar aqui discutindo semântica a noite toda, mas não quero que você perca sua festa que acontecerá depois do bale.
- A festa não é minha. Carly é a patrocinadora da companhia.
- Que generosa. - Emily tentou passar por ele, mas Ethan pôs as mãos sobre a mesa, de cada lado dos quadris dela.
- Emily, você não precisa se preocupar com Carly.
- Não é amanhã ainda — murmurou ela, nervosa com a proximidade do corpo másculo. - Ainda tenho alguma horas para fugir do assunto, então, se não se importa, eu gostaria de me juntar a eles.
Ethan vibrou de frustração, então suspirou para recuperar o controle.
- O que você realmente quer de mim, Emily? - Fez a pergunta e virou-se, sem esperar resposta. - E, a propósito - acrescentou -, em minha pressa de culpá-la esqueci de agradecer por ter salvado a vida do meu tio esta noite.
Ele virou-se novamente, puxou-a para perto e deu-lhe um beijo rápido nos lábios.
- Obrigado. Você é uma heroína. - Sua gratidão sincera derreteu a fúria de Emily. - Eu gostaria de ter estado aqui para vê-la em ação.
Emily também gostaria. Se Ethan estivesse lá, ela ainda estaria numa ignorância confortável.
- O quê? E perder os homens de malha justa?
- Você está passando muito tempo com Dylan. - Ele começou a conduzi-la para a sala. - Mas posso ter um remédio para isso.
Quando eles entraram na sala, Peter lançou-lhes um olhar apreensivo, enquanto Dylan e Carly conversavam casualmente num canto.
Emily sorriu e meneou a cabeça para Peter, que pareceu aliviado, tirando o cobertor e anunciando que ia para a cama, recusando todas as ofertas de ajuda.
- Vou dar uma olhada em você durante a noite - disse Ethan, e Emily concluiu, aliviada, que ele não ia ficar com Carly depois que a levasse para casa.
Assim que Peter se retirou, Ethan voltou-se para os dois outros protagonistas.
- Sinto muito, Carly. - Ele sorriu. -Você devia ter aceitado minha sugestão e ficado no teatro sem mim.
Ela olhou para o relógio de diamantes.
- Bem, ainda poderíamos ir à festa, mas acho que você não vai querer sair de novo. Como patrocinadora, no entanto, devo voltar ao teatro, então, por que não chama um táxi para mim e poupa sua viagem?
Emily quase gostou dela, por ter consideração quando, secretamente, devia estar aborrecida pela noite arruinada.
Ethan fez uma rápida ligação do celular, e enquanto esperavam o táxi falou para Carly:
- Talvez você me deixe compensar o imprevisto com um jantar amanhã à noite? - Emily assistiu ao sorriso da loira em graciosa aceitação, mas ficou atônita quando Ethan acrescentou: - Pensando bem, por que não vamos jantar os quatro? - Virou-se para incluir o irmão perplexo no convite. - Dylan e Emily podem ir conosco. Faz tempo que não saio com meu irmão, e nós quatro somos tão diversos que certamente será fascinante.

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