Subitamente, um brilho de lantejoula lhe chamou a atenção e ela notou, pela primeira vez, a mulher que seguira Ethan para dentro da sala. Para seu desgosto, era ainda mais bonita do que Dylan falara. Muito magra e alta, os cabelos loiros presos num penteado, usava um vestido longo elegante, verde e brilhante.
Emily imediatamente se sentiu como uma mendiga em seu simples vestido de verão e suas sandálias com sola de corda.
Ethan notou-lhe o olhar e fez uma apresentação rápida, impaciente para voltar ao assunto em questão.
- Carly Foster, essa é Emily Quest, de quem lhe falei.
Eles haviam conversado sobre ela?
A mulher estendeu a mão e Emily a apertou com um sorriso educado. A voz de Carly era suave como a pele lindamente bronzeada.
- E, é claro, Dylan você já conhece. - Ethan gesticulou para o irmão encostado em um dos pilares decorativos.
- Muito bem - murmurou Carly docemente, enquanto Dylan apenas assentia com um gesto de cabeça.
- Então, vocês estavam sentados aqui conversando, quando ele de repente engasgou? - Ethan voltou ao assunto. - Isso não se parece com tio Peter. Ele geralmente mastiga muito bem.
- Não aqui, nós estávamos na mesa de jantar, conversando e vendo fotografias...
- Fotografias do quê?
- De pessoas. Família. Apenas... fotos antigas - Emily gaguejou. Eles haviam deixado as fotos sobre a mesa quando Peter engasgara e ela o socorrera. Ethan notaria aquela fotografia anônima no meio das outras, ou veria a semelhança que Emily ainda tentaria convencer Peter de que era apenas uma coincidência?
- E sobre o que vocês conversavam? Estavam tendo algum tipo de discussão?
Emily engoliu em seco.
- Não estávamos discutindo... - Ela parou quando Ethan se aproximou e parou na sua frente, olhando-a com intensidade.
- Mas estavam discordando em alguma coisa- afirmou ele. - O que era?
Enfrentada com uma pergunta direta, Emily hesitou. Se começasse a mentir para ele agora, perderia toda a confiança que ganhara naquela manhã. Mas, se falasse, estaria se aprofundando mais num problema familiar, e não tinha esse direito.
Sua hesitação pareceu durar uma eternidade, e de repente sentiu os dedos gelados de Peter segurando-lhe a mão e apertando-a de leve, e virou-se para ver um apelo aberto nos olhos dele. Estava suplicando para que ela não expusesse seu segredo vergonhoso para a família, antes que ele estivesse pronto para fazê-lo.
- Lamento, mas não posso lhe contar - disse ela, apertando a mão de Peter antes de colocá-la de volta embaixo do cobertor. - É uma coisa particular entre Peter e eu.
Ethan observara o aperto de mão dos dois, e então segurou o cotovelo de Emily.
- Podem nos dar licença por um minuto? - falou para os outros e conduziu-a para a sala de jogos. - Certo... o que está realmente acontecendo?
Ela encostou-se contra a mesa de bilhar.
- Já disse que não posso falar sobre isso. Ele arqueou as sobrancelhas e se aproximou.
- Peter não pode ouvi-la daqui - sussurrou. - Eu não vou dizer a ele que você me contou.
- Não tem nada a ver com isso - replicou Emily com firmeza, percebendo a tentativa de Ethan de subornar-lhe a lealdade. - Não adianta, Ethan, eu não vou lhe contar. Essa tarefa dolorosa deve ser de Peter.
Ela cometeu o erro de fitar os olhos azuis, e seu coração se amaciou com o conflito que viu neles. Como poderia condená-lo por amar o tio e preocupar-se com a saúde dele?
- Ele não está gravemente doente ou morrendo, Ethan, se é isso que o preocupa. Apenas tem alguns problemas... com o passado. E isso é o máximo que vai tirar de mim. Se tem mais perguntas, terá de questionar seu tio. Mas, se eu fosse você, o deixaria fazer isso em seu próprio tempo.
- Você é especialista em família, agora?
Ela baixou a cabeça, mas Ethan ergueu-lhe o queixo, obrigando-a a encará-lo.
- Emily, você é tão teimosa - murmurou ele. - E leal. Excessivamente. Primeiro com seu avô, agora com tio Peter. Quando vai chegar a minha vez?
A súbita gentileza de Ethan era ainda mais perigosa para as defesas dela do que as acusações. Ele soltou-lhe o queixo e deslizou a mão para suas costas.
- Vamos voltar para a sala? - sugeriu Emily. - Carly deve estar impaciente.
- Carly pode cuidar de si mesma.
- Isso não é muito elegante.
- Ela não sai comigo pela minha elegância. Emily sentiu o peito comprimir.
- Isso soa tão passivo. Pensei que vocês saíssem juntos.
- Temos um acordo antigo.
- Então, agora não é um namoro, é um acordo - disse ela com sarcasmo. - Suponho que poderíamos ficar aqui discutindo semântica a noite toda, mas não quero que você perca sua festa que acontecerá depois do bale.
- A festa não é minha. Carly é a patrocinadora da companhia.
- Que generosa. - Emily tentou passar por ele, mas Ethan pôs as mãos sobre a mesa, de cada lado dos quadris dela.
- Emily, você não precisa se preocupar com Carly.
- Não é amanhã ainda — murmurou ela, nervosa com a proximidade do corpo másculo. - Ainda tenho alguma horas para fugir do assunto, então, se não se importa, eu gostaria de me juntar a eles.
Ethan vibrou de frustração, então suspirou para recuperar o controle.
- O que você realmente quer de mim, Emily? - Fez a pergunta e virou-se, sem esperar resposta. - E, a propósito - acrescentou -, em minha pressa de culpá-la esqueci de agradecer por ter salvado a vida do meu tio esta noite.
Ele virou-se novamente, puxou-a para perto e deu-lhe um beijo rápido nos lábios.
- Obrigado. Você é uma heroína. - Sua gratidão sincera derreteu a fúria de Emily. - Eu gostaria de ter estado aqui para vê-la em ação.
Emily também gostaria. Se Ethan estivesse lá, ela ainda estaria numa ignorância confortável.
- O quê? E perder os homens de malha justa?
- Você está passando muito tempo com Dylan. - Ele começou a conduzi-la para a sala. - Mas posso ter um remédio para isso.
Quando eles entraram na sala, Peter lançou-lhes um olhar apreensivo, enquanto Dylan e Carly conversavam casualmente num canto.
Emily sorriu e meneou a cabeça para Peter, que pareceu aliviado, tirando o cobertor e anunciando que ia para a cama, recusando todas as ofertas de ajuda.
- Vou dar uma olhada em você durante a noite - disse Ethan, e Emily concluiu, aliviada, que ele não ia ficar com Carly depois que a levasse para casa.
Assim que Peter se retirou, Ethan voltou-se para os dois outros protagonistas.
- Sinto muito, Carly. - Ele sorriu. -Você devia ter aceitado minha sugestão e ficado no teatro sem mim.
Ela olhou para o relógio de diamantes.
- Bem, ainda poderíamos ir à festa, mas acho que você não vai querer sair de novo. Como patrocinadora, no entanto, devo voltar ao teatro, então, por que não chama um táxi para mim e poupa sua viagem?
Emily quase gostou dela, por ter consideração quando, secretamente, devia estar aborrecida pela noite arruinada.
Ethan fez uma rápida ligação do celular, e enquanto esperavam o táxi falou para Carly:
- Talvez você me deixe compensar o imprevisto com um jantar amanhã à noite? - Emily assistiu ao sorriso da loira em graciosa aceitação, mas ficou atônita quando Ethan acrescentou: - Pensando bem, por que não vamos jantar os quatro? - Virou-se para incluir o irmão perplexo no convite. - Dylan e Emily podem ir conosco. Faz tempo que não saio com meu irmão, e nós quatro somos tão diversos que certamente será fascinante.
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AMANTE ACIDENTAL
RomanceAs coisas que ela teve de fazer para salvar os negócios de sua família! Naquela noite, Emily Quest se arrumou de modo especial. Com um vestido justo ao corpo e saltos altíssimos, partiu para uma festa perigosa num bairro sofisticado de Auckland, de...