Capítulo 7.

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Peter olhou do sobrinho para Emily com uma expressão intrigada.
- Então, eu nem precisava apresentar vocês dois.
- Na verdade, precisava. Emily e eu não chegamos a trocar nomes - Ethan falou, ainda prendendo o olhar dela.
A imagem da maneira como o provocara naquela noite surgiu na mente de Emily, fazendo-a enrubescer.
- Não era o tipo de festa que encorajava apresentações - apontou ela. - A música estava tão alta que era difícil ouvir o que as pessoas diziam.
Ethan não contradisse suas palavras. Não a chamou de mentirosa ou acusou-a de ladra, mas, em vez de alívio, Emily sentiu a ansiedade aumentar.
- Oh, entendo - murmurou Peter. - Por isso você não mencionou nada sobre Ethan quando eu lhe falei do meu sobrinho.
- Até onde eu sabia, eu não o conhecia. Não há fotos da família espalhadas por aqui, exceto por aquelas de Rose em seu escritório. E talvez eu não p reconhecesse por uma fotografia, de qualquer forma. Faz tanto tempo, e nos encontramos tão brevemente.
- Sim, eu era apenas mais um homem naquela noite - provocou ele, recebendo um olhar apavorado de Emily.
Mas Peter não percebeu o verdadeiro sentido daquelas palavras e riu.
- E você não deve ter gostado disso - falou para o sobrinho. Então, voltou-se para Emily: - Ethan não está acostumado a ser apenas mais um entre a multidão. Sempre foi um grande conquistador. Desde criança, costumava se impor metas impossíveis.
- O que acontecia quando ele não as alcançava? -perguntou Emily.
Peter passou um braço pelos ombros do sobrinho.
- Pelo que me lembro, ele nunca chorou. Erguia o queixo e continuava tentando até conseguir.
Emily olhou para o maxilar rígido de Ethan e notou uma pequena incisão sob o queixo. O sr. Perfeito tinha se cortado ao barbear-se naquela manhã. Ele tinha algumas mechas grisalhas nos cabelos escuros, também, e a pele era relativamente pálida para um homem com a reputação de possuir tanta energia. Não usava gravata, e a abertura na parte superior da camisa revelava a pele surpreendentemente lisa. Um homem que exalava tanta testosterona certamente teria um peito peludo. Ele devia depilar-se, decidiu ela. Vaidoso, assim como arrogante.
- Então, você nunca teve um fracasso? - perguntou Emily, gostando de instigá-lo.
Ethan lhe deu um olhar gelado.
- Não se eu queria muito alguma coisa.
- Aposto que você era divertido no playground.
- Sempre lutei justo.
- Só bate em quem é do seu tamanho? - disse ela. - É bom saber.
O olhar dele foi para a camiseta de Emily, a qual marcava levemente as curvas abundantes, e demorou-se ali, como se estivesse mentalmente imaginando o volume de seus seios. Ela sentiu um arrepio em resposta e rapidamente cruzou os braços, estudando-o. Ele tinha ombros largos, quadris estreitos, e devia ter 1,90 metro de altura.
- Acho que tamanho é relativo - replicou ele. - Experiência é o grande nivelador.
- Sobre o que vocês estão falando? - perguntou Peter, parecendo confuso.
- Nós estamos relembrando - respondeu o sobrinho.
- Sobre a festa? Onde foi, a propósito?
- Na casa de seus amigos, os Webber.
- Não amigos, conhecidos. Sean Webber também foi a alguns dos leilões a que eu ia com Rose. Suponho que por isso você estava lá, Emily. Fez alguns trabalhos nas peças chinesas de Sean alguns anos atrás, não fez? Sob a recomendação de Rose.
Aquele era um terreno perigoso.
- A Quest Restorations fez - respondeu Emily, ciente dos olhos subitamente alerta de Ethan.
Felizmente, Peter continuou:
- Nunca gostei de Sean. Muito esnobe. Acha que o fato de ter recebido uma herança o torna melhor que aqueles que ganham dinheiro honestamente. Sei que você também não gosta dele, Ethan. Nunca imaginei que aceitaria um convite de Sean.
- Era a festa do filho dele, e não fui lá por escolha. Eu também não, pensou Emily.
- Fui tentar achar Dylan. - Ethan deu de ombros. - Ele estava fazendo relações públicas para algum show que Michael estava vendendo. Não que tenha acontecido naquela noite, afinal, Michael acabou numa delegacia de polícia. Os Webber tiveram de colocá-lo numa clínica de reabilitação, para abafar o caso da imprensa e tentar livrá-lo de algumas acusações sérias...
Ele parou quando viu Emily boquiaberta, os olhos azuis arregalados.
- Você não foi levada pela polícia também, foi, Emily?
- Eu... saí cedo. - Ela engoliu em seco, pensando no que teria acontecido se tivesse sido presa e sua bolsa vasculhada. O frasco fora o último trabalho que a Quest tinha executado para Sean Webber, e Emily desencorajara futuros contatos para evitar problemas.
- Então, você estava segura embaixo dos lençóis quando a invasão da polícia aconteceu? - Pelo tom cínico, era óbvio que ele acreditava que ela estava com um homem.
Emily baixou os olhos, velando a fúria ao lembrar-se da realidade dolorosa do resto daquela noite, e dos dias e noites de ansiedade que se seguiram: horas que passara no estúdio em intensa concentração, a fim de restaurar a magnífica peça rachada.
- Alguma coisa assim - replicou ela, distraidamente massageando os músculos tensos do pescoço.
- Vocês, jovens, têm vidas emocionantes - comentou Peter.
- Não sou tão jovem assim - disse Ethan. E voltou-se para Emily: - Mas você certamente não tem mais de trinta anos.
- Tenho 26 - replicou ela, e viu, pelo sorriso de Ethan, que ele pretendera insultá-la.
- Espero que você tenha encontrado Dylan antes que ele caísse no caminho do mal - disse Peter.
- Ele não caiu, mergulhou - disse Ethan. - Michael tinha emprestado a Ferrari dos Webber para Dylan sair com uma garota. Felizmente, consegui que a polícia o pegasse.
- Seu próprio irmão? Isso não foi um pouco exagerado? - perguntou Emily. Até Peter parecia atônito.
- Foi uma noite de extremos - comentou Ethan, e olhou para o tio. - Foi a noite em que você me ligou do hospital, dizendo que tia Rose havia subitamente piorado.
Peter piscou, lembrando.
- Isso mesmo... e ela morreu alguns dias depois. - Ele sorriu com tristeza. - Lembro quando você e Dylan chegaram e conversaram conosco... você, num terno elegante porque estivera em algum evento... Foi naquela noite, não?                                                 
- Sim. No fim dela, pelo menos.
- Oh, Deus - murmurou Emily, impulsivamente pondo a mão no braço de Ethan. - Sinto muito. - Não era de admirar que ele tivesse parecido tão sério e frio na festa, quando soubera que a tia estava lutando por preciosos momentos extras de vida. Devia estar profundamente preocupado, e Emily escolhera aquele momento para tentar seduzi-lo de modo vulgar!
Ele olhou para a mão dela sobre a manga de seu paletó. Uma mão delicada e forte, ao mesmo tempo, contendo pequenas cicatrizes, as unhas bem cortadas e sem esmalte, mas sujas de tinta preta. Não mãos típicas de uma sedutora. Entretanto...
- Que terrível para você - ela estava dizendo. - Se eu soubesse na época... - Emily parou quando a mão máscula cobriu a sua.
- O que você teria feito, me oferecido conforto? -Ele desviou o olhar das mãos e sussurrou no ouvido dela: - Um colo macio para chorar? Você não me pareceu o tipo de mulher que estava procurando pelo lado sensível de um homem.
- Pelo que você acha que eu estava procurando? Os olhos dele brilharam.
- Disciplina.
Sem poder evitar, Emily visualizou-se à mercê da disciplina de Ethan, e ficou excitada. Ele saberia dar ordens na cama e receber obediência, enquanto enlouquecia uma mulher de prazer. Os dedos de Emily se apertaram involuntariamente no braço forte enquanto tentava, em vão, afastar as fantasias proibidas.

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