Peter olhou do sobrinho para Emily com uma expressão intrigada.
- Então, eu nem precisava apresentar vocês dois.
- Na verdade, precisava. Emily e eu não chegamos a trocar nomes - Ethan falou, ainda prendendo o olhar dela.
A imagem da maneira como o provocara naquela noite surgiu na mente de Emily, fazendo-a enrubescer.
- Não era o tipo de festa que encorajava apresentações - apontou ela. - A música estava tão alta que era difícil ouvir o que as pessoas diziam.
Ethan não contradisse suas palavras. Não a chamou de mentirosa ou acusou-a de ladra, mas, em vez de alívio, Emily sentiu a ansiedade aumentar.
- Oh, entendo - murmurou Peter. - Por isso você não mencionou nada sobre Ethan quando eu lhe falei do meu sobrinho.
- Até onde eu sabia, eu não o conhecia. Não há fotos da família espalhadas por aqui, exceto por aquelas de Rose em seu escritório. E talvez eu não p reconhecesse por uma fotografia, de qualquer forma. Faz tanto tempo, e nos encontramos tão brevemente.
- Sim, eu era apenas mais um homem naquela noite - provocou ele, recebendo um olhar apavorado de Emily.
Mas Peter não percebeu o verdadeiro sentido daquelas palavras e riu.
- E você não deve ter gostado disso - falou para o sobrinho. Então, voltou-se para Emily: - Ethan não está acostumado a ser apenas mais um entre a multidão. Sempre foi um grande conquistador. Desde criança, costumava se impor metas impossíveis.
- O que acontecia quando ele não as alcançava? -perguntou Emily.
Peter passou um braço pelos ombros do sobrinho.
- Pelo que me lembro, ele nunca chorou. Erguia o queixo e continuava tentando até conseguir.
Emily olhou para o maxilar rígido de Ethan e notou uma pequena incisão sob o queixo. O sr. Perfeito tinha se cortado ao barbear-se naquela manhã. Ele tinha algumas mechas grisalhas nos cabelos escuros, também, e a pele era relativamente pálida para um homem com a reputação de possuir tanta energia. Não usava gravata, e a abertura na parte superior da camisa revelava a pele surpreendentemente lisa. Um homem que exalava tanta testosterona certamente teria um peito peludo. Ele devia depilar-se, decidiu ela. Vaidoso, assim como arrogante.
- Então, você nunca teve um fracasso? - perguntou Emily, gostando de instigá-lo.
Ethan lhe deu um olhar gelado.
- Não se eu queria muito alguma coisa.
- Aposto que você era divertido no playground.
- Sempre lutei justo.
- Só bate em quem é do seu tamanho? - disse ela. - É bom saber.
O olhar dele foi para a camiseta de Emily, a qual marcava levemente as curvas abundantes, e demorou-se ali, como se estivesse mentalmente imaginando o volume de seus seios. Ela sentiu um arrepio em resposta e rapidamente cruzou os braços, estudando-o. Ele tinha ombros largos, quadris estreitos, e devia ter 1,90 metro de altura.
- Acho que tamanho é relativo - replicou ele. - Experiência é o grande nivelador.
- Sobre o que vocês estão falando? - perguntou Peter, parecendo confuso.
- Nós estamos relembrando - respondeu o sobrinho.
- Sobre a festa? Onde foi, a propósito?
- Na casa de seus amigos, os Webber.
- Não amigos, conhecidos. Sean Webber também foi a alguns dos leilões a que eu ia com Rose. Suponho que por isso você estava lá, Emily. Fez alguns trabalhos nas peças chinesas de Sean alguns anos atrás, não fez? Sob a recomendação de Rose.
Aquele era um terreno perigoso.
- A Quest Restorations fez - respondeu Emily, ciente dos olhos subitamente alerta de Ethan.
Felizmente, Peter continuou:
- Nunca gostei de Sean. Muito esnobe. Acha que o fato de ter recebido uma herança o torna melhor que aqueles que ganham dinheiro honestamente. Sei que você também não gosta dele, Ethan. Nunca imaginei que aceitaria um convite de Sean.
- Era a festa do filho dele, e não fui lá por escolha. Eu também não, pensou Emily.
- Fui tentar achar Dylan. - Ethan deu de ombros. - Ele estava fazendo relações públicas para algum show que Michael estava vendendo. Não que tenha acontecido naquela noite, afinal, Michael acabou numa delegacia de polícia. Os Webber tiveram de colocá-lo numa clínica de reabilitação, para abafar o caso da imprensa e tentar livrá-lo de algumas acusações sérias...
Ele parou quando viu Emily boquiaberta, os olhos azuis arregalados.
- Você não foi levada pela polícia também, foi, Emily?
- Eu... saí cedo. - Ela engoliu em seco, pensando no que teria acontecido se tivesse sido presa e sua bolsa vasculhada. O frasco fora o último trabalho que a Quest tinha executado para Sean Webber, e Emily desencorajara futuros contatos para evitar problemas.
- Então, você estava segura embaixo dos lençóis quando a invasão da polícia aconteceu? - Pelo tom cínico, era óbvio que ele acreditava que ela estava com um homem.
Emily baixou os olhos, velando a fúria ao lembrar-se da realidade dolorosa do resto daquela noite, e dos dias e noites de ansiedade que se seguiram: horas que passara no estúdio em intensa concentração, a fim de restaurar a magnífica peça rachada.
- Alguma coisa assim - replicou ela, distraidamente massageando os músculos tensos do pescoço.
- Vocês, jovens, têm vidas emocionantes - comentou Peter.
- Não sou tão jovem assim - disse Ethan. E voltou-se para Emily: - Mas você certamente não tem mais de trinta anos.
- Tenho 26 - replicou ela, e viu, pelo sorriso de Ethan, que ele pretendera insultá-la.
- Espero que você tenha encontrado Dylan antes que ele caísse no caminho do mal - disse Peter.
- Ele não caiu, mergulhou - disse Ethan. - Michael tinha emprestado a Ferrari dos Webber para Dylan sair com uma garota. Felizmente, consegui que a polícia o pegasse.
- Seu próprio irmão? Isso não foi um pouco exagerado? - perguntou Emily. Até Peter parecia atônito.
- Foi uma noite de extremos - comentou Ethan, e olhou para o tio. - Foi a noite em que você me ligou do hospital, dizendo que tia Rose havia subitamente piorado.
Peter piscou, lembrando.
- Isso mesmo... e ela morreu alguns dias depois. - Ele sorriu com tristeza. - Lembro quando você e Dylan chegaram e conversaram conosco... você, num terno elegante porque estivera em algum evento... Foi naquela noite, não?
- Sim. No fim dela, pelo menos.
- Oh, Deus - murmurou Emily, impulsivamente pondo a mão no braço de Ethan. - Sinto muito. - Não era de admirar que ele tivesse parecido tão sério e frio na festa, quando soubera que a tia estava lutando por preciosos momentos extras de vida. Devia estar profundamente preocupado, e Emily escolhera aquele momento para tentar seduzi-lo de modo vulgar!
Ele olhou para a mão dela sobre a manga de seu paletó. Uma mão delicada e forte, ao mesmo tempo, contendo pequenas cicatrizes, as unhas bem cortadas e sem esmalte, mas sujas de tinta preta. Não mãos típicas de uma sedutora. Entretanto...
- Que terrível para você - ela estava dizendo. - Se eu soubesse na época... - Emily parou quando a mão máscula cobriu a sua.
- O que você teria feito, me oferecido conforto? -Ele desviou o olhar das mãos e sussurrou no ouvido dela: - Um colo macio para chorar? Você não me pareceu o tipo de mulher que estava procurando pelo lado sensível de um homem.
- Pelo que você acha que eu estava procurando? Os olhos dele brilharam.
- Disciplina.
Sem poder evitar, Emily visualizou-se à mercê da disciplina de Ethan, e ficou excitada. Ele saberia dar ordens na cama e receber obediência, enquanto enlouquecia uma mulher de prazer. Os dedos de Emily se apertaram involuntariamente no braço forte enquanto tentava, em vão, afastar as fantasias proibidas.
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AMANTE ACIDENTAL
RomanceAs coisas que ela teve de fazer para salvar os negócios de sua família! Naquela noite, Emily Quest se arrumou de modo especial. Com um vestido justo ao corpo e saltos altíssimos, partiu para uma festa perigosa num bairro sofisticado de Auckland, de...