Ele massageou-lhe os ombros, para aliviar os pontos de tensão.
- Eu só ia rodear o exterior da casa, longe de possíveis quedas sobre a cabeça - continuou em tom firme.
- Eu não teria rompido as fitas de segurança. Não assumo riscos estúpidos no trabalho, e estou só satisfazendo uma curiosidade profissional aqui, certo?
Ela assentiu, os cílios ainda baixos contra as faces translúcidas.
-De qualquer forma, se alguma coisa caísse na minha cabeça, achei que você ficaria feliz em se livrar de mim - brincou ele.
Isso a fez erguer a cabeça.
- Eu ficaria - murmurou ela, a voz trêmula revelando um traço de raiva. - Mas o que eu diria a Peter? Ele não superou a perda de Rose ainda. Como ficaria se perdesse você também?
Os olhos azuis de ambos se encontraram, as mãos de Ethan ainda nos ombros dela.
- Você tem razão, ele se faz de forte, mas ainda está mais vulnerável do que as pessoas pensam. - Os dedos longos desceram pelos braços de Emily, então ele a soltou, mas os olhos mantiveram o contato hipnótico.
- Quanto tempo faz que seu avô morreu... um ano?
- Dez meses.
- E por quanto tempo morou nesta casa com ele?
- Desde que eu tinha sete anos.
- E quanto a sua avó?
Ela desviou o olhar, quebrando o encanto.
- Morreu quando eu tinha 16 anos. - Erica Quest fora uma mulher sensata e enérgica, mas conhecia o valor de um simples abraço. Quando ela saíra da vida deles, Emily e o avô tinham passado cada vez mais tempo no estúdio e menos tempo se socializando. A sugestão dos pais dela para que se juntasse a eles no exterior e trabalhasse ajudando o próximo fora rejeitada sem arrependimentos. - Foi quando comecei meu treinamento verdadeiro - lembrou. - Não existe um aprendizado formal, você só aprende assistindo e fazendo.
Emily respirou fundo, forçando-se a descruzar os braços e fingir um relaxamento que não sentia.
- Perdoe minha atitude rebelde. Não sei o que deu em mim.
- Não sabe? - O tom de Ethan implicava ciência das inseguranças mais profundas dela. Ele não tinha o direito de entrar em sua cabeça e ler suas emoções privadas. A empatia encorajadora era provavelmente só um truque para ganhar-lhe a confiança. Tentara usar sexo para intimidá-la, e agora estava usando psicologia.
Ela meneou a cabeça.
- Geralmente não tenho explosões de raiva por pouca coisa.
- Você chama isso de pouca coisa? - Ethan pareceu incrédulo quando gesticulou em direção à casa.
- Eu quis dizer a possibilidade de você desaparecer da face da Terra - disse ela, tentando recompor seu estado emocional. - Se quer dar uma olhada em volta, vá em frente. Caia e quebre o pescoço, que não ligo!
Para irritação de Emily, ele apenas sorriu.,
- Acha que vai ser tão fácil assim se livrar de mim, Emily? Pense bem.
Havia uma satisfação sardônica nas palavras dele, e, quando Ethan saiu andando, ocorreu a Emily que ele estava fazendo o que sempre pretendera, provavelmente desde o momento em que lhe oferecera ajuda. Tudo o que ela fizera com sua explosão emocional tinha sido adiá-lo por alguns minutos. Ele nunca questionara o resultado. Ela fora "manipulada" com habilidade, e acabara lhe dando permissão para o que tentara negar!
Quando Ethan reapareceu na frente da casa, Emily estava discutindo com um homem barbudo, que colocava um maço de papéis em sua mão relutante.
- Problemas?
Ela ficou aliviada ao vê-lo.
- Esse é o sr. Tremaine, da companhia de seguros - começou Emily.
- Ethan West. - Ethan se aproximou e estendeu a mão para cumprimentá-lo.
Os olhos do homem se arregalaram ao reconhecer o nome, mudando a atitude de presunçosa para respeitadora.
- Nenhum problema - disse ele apressado. - Eu estava apenas dando à srta. West alguns formulários que esqueci de entregar-lhe mais cedo.
- Quest. O nome dela é Quest, não West. O homem enrubesceu.
- Eu falei West? Foi... um lapso. A srta. Quest ainda precisa dar alguns detalhes para a reivindicação...
- Aquele é seu carro?
Tremaine olhou por sobre o ombro para o veículo azul parado do outro lado da rua.
- Sim, eu...
- Você estava lá quando nós chegamos.
Emily nem tinha notado. O fato de que ele não havia saído do carro imediatamente e os abordado deixava claro que ficara escondido para ver o que iam fazer.
Ele e Ethan dariam um bom par de espiões, pensou ela com desgosto.
- Eu sabia que a srta. Quest ia voltar - começou Tremaine -, e já que eu tinha um outro compromisso na área, decidi esperar.
Ethan pegou os papéis da mão de Emily.
- Você não podia ter enviado isso por fax? Tremaine lançou um olhar acusador para Emily.
- Não há um número de fax no endereço temporário que a srta. Quest nos deu.
- Bem, ela agora está morando em um lugar em que há. - Ethan ditou um número com tanta precisão que fez Tremaine apressar-se para pegar uma caneta do bolso da camisa. - Depois que ela mandar isso de volta por fax, o que acontece?
Em vez de falar de modo hesitante como sempre fazia com Emily, Tremaine deu detalhes da investigação, parecendo não notar que deixava escapar informações que favoreciam a cliente.
- Foi uma infelicidade que o falecido sr. Quest tenha esquecido de renovar sua apólice de seguros - concluiu ele -, e então assinou uma indenização em vez de substituir a apólice, sem avaliação própria...
- O que era certamente responsabilidade de sua companhia? - interrompeu Ethan suavemente.
Exceto pelo prazer de ver o pequeno homem derrotado, Emily estava irritada ao se descobrir uma mera espectadora de seus próprios assuntos. Resgatou seus papéis e estava pronta para dizer algo se Ethan tentasse discutir qualquer coisa que Tremaine tivesse dito, mas, quando eles voltaram a trabalhar, colocando o resto das coisas dela no porta-malas do carro, o silêncio dele foi quase pior que o costumeiro interrogatório.
Só quando estavam de volta à estrada, Ethan mencionou o encontro inesperado.
- Isso lhe acontece com muita freqüência? - perguntou ele.
Emily virou-se no assento, pronta para uma briga.
- O quê?
- Pessoas a chamando de West, em vez de Quest?
- Não! E nem Tremaine teria feito isso se você não o tivesse intimidado daquela forma. Não preciso usar o nome de outra pessoa. Tenho orgulho de ser uma Quest!
Ela ficou calada durante o resto do trajeto até a casa e, para seu alívio, Ethan parecia perdido em seus próprios pensamentos, aparentemente sem pressa de pressioná-la com mais perguntas.
Emily descobriu o motivo quando Peter os cumprimentou na volta e insistiu que Ethan almoçasse com eles, antes de voar. De volta a seu terno, agora com uma outra camisa sem mancha, Ethan foi educado durante a refeição, esperando até o último minuto de sua partida para perguntar a Peter se podia ficar por alguns dias.
- Por isso tentei lhe telefonar ontem. Terei alguns compromissos noturnos em breve, e não seria conveniente voltar para Waiheke todas as noites - disse ele casualmente. - É claro que isso foi antes de eu saber que você já tinha uma... hóspede.
Peter corou levemente.
- Bobagem! Nem precisa pedir, Ethan. Essa é a sua segunda casa. Fico sempre feliz em ver você ou Dylan. Permaneça quantos dias quiser! Quanto mais tempo melhor, certo, Emily?
Oh, muito melhor, pensou ela, o estômago se revolvendo quando encontrou o olhar triunfante de Ethan.
Ele pretendia trazer ainda mais tumulto para sua vida, e acabara de ganhar o privilégio de fazer isso quando quisesse.
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AMANTE ACIDENTAL
RomanceAs coisas que ela teve de fazer para salvar os negócios de sua família! Naquela noite, Emily Quest se arrumou de modo especial. Com um vestido justo ao corpo e saltos altíssimos, partiu para uma festa perigosa num bairro sofisticado de Auckland, de...