Capítulo 12.

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Ele massageou-lhe os ombros, para aliviar os pontos de tensão.
- Eu só ia rodear o exterior da casa, longe de possíveis quedas sobre a cabeça - continuou em tom firme.
- Eu não teria rompido as fitas de segurança. Não assumo riscos estúpidos no trabalho, e estou só satisfazendo uma curiosidade profissional aqui, certo?
Ela assentiu, os cílios ainda baixos contra as faces translúcidas.
-De qualquer forma, se alguma coisa caísse na minha cabeça, achei que você ficaria feliz em se livrar de mim - brincou ele.
Isso a fez erguer a cabeça.
- Eu ficaria - murmurou ela, a voz trêmula revelando um traço de raiva. - Mas o que eu diria a Peter? Ele não superou a perda de Rose ainda. Como ficaria se perdesse você também?
Os olhos azuis de ambos se encontraram, as mãos de Ethan ainda nos ombros dela.
- Você tem razão, ele se faz de forte, mas ainda está mais vulnerável do que as pessoas pensam. - Os dedos longos desceram pelos braços de Emily, então ele a soltou, mas os olhos mantiveram o contato hipnótico.
- Quanto tempo faz que seu avô morreu... um ano?
- Dez meses.
- E por quanto tempo morou nesta casa com ele?
- Desde que eu tinha sete anos.
- E quanto a sua avó?
Ela desviou o olhar, quebrando o encanto.
- Morreu quando eu tinha 16 anos. - Erica Quest fora uma mulher sensata e enérgica, mas conhecia o valor de um simples abraço. Quando ela saíra da vida deles, Emily e o avô tinham passado cada vez mais tempo no estúdio e menos tempo se socializando. A sugestão dos pais dela para que se juntasse a eles no exterior e trabalhasse ajudando o próximo fora rejeitada sem arrependimentos. - Foi quando comecei meu treinamento verdadeiro - lembrou. - Não existe um aprendizado formal, você só aprende assistindo e fazendo.
Emily respirou fundo, forçando-se a descruzar os braços e fingir um relaxamento que não sentia.
- Perdoe minha atitude rebelde. Não sei o que deu em mim.
- Não sabe? - O tom de Ethan implicava ciência das inseguranças mais profundas dela. Ele não tinha o direito de entrar em sua cabeça e ler suas emoções privadas. A empatia encorajadora era provavelmente só um truque para ganhar-lhe a confiança. Tentara usar sexo para intimidá-la, e agora estava usando psicologia.
Ela meneou a cabeça.
- Geralmente não tenho explosões de raiva por pouca coisa.
- Você chama isso de pouca coisa? - Ethan pareceu incrédulo quando gesticulou em direção à casa.
- Eu quis dizer a possibilidade de você desaparecer da face da Terra - disse ela, tentando recompor seu estado emocional. - Se quer dar uma olhada em volta, vá em frente. Caia e quebre o pescoço, que não ligo!
Para irritação de Emily, ele apenas sorriu.,
- Acha que vai ser tão fácil assim se livrar de mim, Emily? Pense bem.
Havia uma satisfação sardônica nas palavras dele, e, quando Ethan saiu andando, ocorreu a Emily que ele estava fazendo o que sempre pretendera, provavelmente desde o momento em que lhe oferecera ajuda. Tudo o que ela fizera com sua explosão emocional tinha sido adiá-lo por alguns minutos. Ele nunca questionara o resultado. Ela fora "manipulada" com habilidade, e acabara lhe dando permissão para o que tentara negar!
Quando Ethan reapareceu na frente da casa, Emily estava discutindo com um homem barbudo, que colocava um maço de papéis em sua mão relutante.
- Problemas?
Ela ficou aliviada ao vê-lo.
- Esse é o sr. Tremaine, da companhia de seguros - começou Emily.
- Ethan West. - Ethan se aproximou e estendeu a mão para cumprimentá-lo.
Os olhos do homem se arregalaram ao reconhecer o nome, mudando a atitude de presunçosa para respeitadora.
- Nenhum problema - disse ele apressado. - Eu estava apenas dando à srta. West alguns formulários que esqueci de entregar-lhe mais cedo.
- Quest. O nome dela é Quest, não West. O homem enrubesceu.
- Eu falei West? Foi... um lapso. A srta. Quest ainda precisa dar alguns detalhes para a reivindicação...
- Aquele é seu carro?
Tremaine olhou por sobre o ombro para o veículo azul parado do outro lado da rua.
- Sim, eu...
- Você estava lá quando nós chegamos.
Emily nem tinha notado. O fato de que ele não havia saído do carro imediatamente e os abordado deixava claro que ficara escondido para ver o que iam fazer.
Ele e Ethan dariam um bom par de espiões, pensou ela com desgosto.
- Eu sabia que a srta. Quest ia voltar - começou Tremaine -, e já que eu tinha um outro compromisso na área, decidi esperar.
Ethan pegou os papéis da mão de Emily.
- Você não podia ter enviado isso por fax? Tremaine lançou um olhar acusador para Emily.
- Não há um número de fax no endereço temporário que a srta. Quest nos deu.
- Bem, ela agora está morando em um lugar em que há. - Ethan ditou um número com tanta precisão que fez Tremaine apressar-se para pegar uma caneta do bolso da camisa. - Depois que ela mandar isso de volta por fax, o que acontece?
Em vez de falar de modo hesitante como sempre fazia com Emily, Tremaine deu detalhes da investigação, parecendo não notar que deixava escapar informações que favoreciam a cliente.
- Foi uma infelicidade que o falecido sr. Quest tenha esquecido de renovar sua apólice de seguros - concluiu ele -, e então assinou uma indenização em vez de substituir a apólice, sem avaliação própria...
- O que era certamente responsabilidade de sua companhia? - interrompeu Ethan suavemente.
Exceto pelo prazer de ver o pequeno homem derrotado, Emily estava irritada ao se descobrir uma mera espectadora de seus próprios assuntos. Resgatou seus papéis e estava pronta para dizer algo se Ethan tentasse discutir qualquer coisa que Tremaine tivesse dito, mas, quando eles voltaram a trabalhar, colocando o resto das coisas dela no porta-malas do carro, o silêncio dele foi quase pior que o costumeiro interrogatório.
Só quando estavam de volta à estrada, Ethan mencionou o encontro inesperado.
- Isso lhe acontece com muita freqüência? - perguntou ele.
Emily virou-se no assento, pronta para uma briga.
- O quê?
- Pessoas a chamando de West, em vez de Quest?
- Não! E nem Tremaine teria feito isso se você não o tivesse intimidado daquela forma. Não preciso usar o nome de outra pessoa. Tenho orgulho de ser uma Quest!
Ela ficou calada durante o resto do trajeto até a casa e, para seu alívio, Ethan parecia perdido em seus próprios pensamentos, aparentemente sem pressa de pressioná-la com mais perguntas.
Emily descobriu o motivo quando Peter os cumprimentou na volta e insistiu que Ethan almoçasse com eles, antes de voar. De volta a seu terno, agora com uma outra camisa sem mancha, Ethan foi educado durante a refeição, esperando até o último minuto de sua partida para perguntar a Peter se podia ficar por alguns dias.
- Por isso tentei lhe telefonar ontem. Terei alguns compromissos noturnos em breve, e não seria conveniente voltar para Waiheke todas as noites - disse ele casualmente. - É claro que isso foi antes de eu saber que você já tinha uma... hóspede.
Peter corou levemente.
- Bobagem! Nem precisa pedir, Ethan. Essa é a sua segunda casa. Fico sempre feliz em ver você ou Dylan. Permaneça quantos dias quiser! Quanto mais tempo melhor, certo, Emily?
Oh, muito melhor, pensou ela, o estômago se revolvendo quando encontrou o olhar triunfante de Ethan.
Ele pretendia trazer ainda mais tumulto para sua vida, e acabara de ganhar o privilégio de fazer isso quando quisesse.

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