Capítulo 6.

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Não era de admirar que tivera uma recepção tão fria à porta, pensou Emily, dando uma última olhada no quarto. A sra. Cooper devia ter presumido que ela sabia de tudo aquilo, que talvez até tivesse manipulado Peter para oferecer-lhe. Devia ter pensado que Emily virará uma parasita, aproveitando-se da compaixão de um senhor de idade.
- Bem, obrigada de qualquer forma... vi alguns itens aqui que não teriam ocorrido a um homem.
- Que mulher não gosta de um creme para as mãos?
- disse a sra. Cooper, com simpatia agora.
- Então, viu o bastante para fazê-la mudar de idéia?
- Peter Nash apareceu à porta, esfregando as mãos em antecipação a uma resposta afirmativa.
- Ah... - Emily detestava desapontá-lo, mas sabia que já aceitara muito da generosidade dele.
A sra. Cooper assentiu, encorajando-a, e discretamente saiu do quarto.                                              
- Esta era a parte da casa favorita de Rose depois que ela adoeceu. Gostava de sentar na cadeira de balanço perto das portas francesas, tomando sol, lendo livros e revistas, e fazendo uma lista de desejos nos seus panfletos de leilão.
- Peter... - As palavras de Emily foram interrompidas por um súbito barulho que fez ambos irem para fora através das portas francesas. Centenas de flores nos jardins ao longo da parte traseira da casa subiam num louco redemoinho de pétalas multicoloridas, enquanto um helicóptero amarelo pairava sobre a casa, descendo e aterrissando na pista de decolagem circular atrás da piscina, no fundo dos jardins.
- Parece que você tem outro visitante - murmurou Emily quando os motores diminuíram para uma parada e o piloto abriu a porta e saltou, os cabelos pretos com mechas avermelhadas no forte sol da manhã. Ele inclinou-se para puxar uma mala com rodinhas do assento de passageiro e rodeou a cerca de ferro em volta da piscina, dando passos largos ao longo do jardim e subindo os degraus de dois em dois.
- E ele parece estar com pressa.
O homem alto estava vestindo terno, mas movia-se de forma relaxada, revelando graça e força no corpo atlético.
- É Ethan - disse Peter. - Está sempre com pressa. O que será que ele quer?
- Você não o esperava? - perguntou Emily, olhando para a ponta dos óculos de sol que mascaravam o rosto do homem, ciente de alguma coisa familiar quando notou os ombros largos. No exato momento em que ele ergueu os olhos para a casa, desapareceu atrás de uma roseira alta que levava ao terraço dos fundos.
- Não - murmurou Peter. - Ele geralmente liga para avisar quando vem. De onde será que está vindo dessa vez?
Emily sabia que Ethan West tinha sido engenheiro de grandes estruturas antes de se aventurar no mundo refinado de casas luxuosas feitas sob medida, e que a especialidade dele era construir em áreas distantes da Nova Zelândia.
- Quando você disse que ele fazia visitas "voando", não pensei que falasse literalmente - disse Emily, virando-se da janela. A casa principal de Ethan era na ilha Waiheke, então ela supôs que fazia sentido que ele se transportasse pelo ar para seus escritórios em Auckland quando o carro ou os serviços de balsa não se encaixavam em sua agenda de negócios.
- Bem, enquanto você recebe seu sobrinho, eu vou me organizar, pegar uma caixa com alguns objetos que pude salvar no estúdio, depois guardar minhas coisas pessoais no armário que você pediu para Jeff esvaziar na garagem. Terei de fazer uma outra viagem para casa, porque nem tudo coube no carro. Em seguida, devolverei o carro de Julie, portanto só poderei começar a trabalhar no estúdio amanhã.
- Mas você não pode sair antes de conhecer Ethan - disse Peter, segurando-lhe o ombro. - Já está na hora de eu apresentar vocês dois.
Emily o fitou.
- Tive a impressão de que você preferia que eu não conhecesse sua família. - Ela não pudera deixar de notar que os convites que recebia de Peter nunca coincidiam com as visitas dos sobrinhos, e que ele nunca sugerira que deveriam coincidir.
Peter apertou-lhe o ombro.
- Você pode culpar um velho egoísta que quer receber a atenção toda para si - murmurou. - É por isso que não vai aceitar meu convite para ficar? Porque acha que tenho vergonha de sua amizade?
- É claro que não - Emily apressou-se em dizer.
- Então, você vai pensar nisso? Ela suspirou.
- Certo, vou pensar.
- Porque significaria muito para mim. Você significa muito para mim - acrescentou, os olhos castanhos intensos. - Somente tê-la por aqui é melhor que qualquer tônico. Gosto de conversar com você. E sabe que eu não confiaria em mais ninguém perto das coisas favoritas de Rose. Portanto, jamais pense que não é valorizada ou querida, Emily.
Incerta sobre o que causara aquele rompante de sentimentalismo em Peter, Emily sentiu os olhos marejados. Desde o incêndio, estava muito sensível. Recebera muita compaixão, mas não havia substituto para a saudade de sua família. Nunca sentira tanta falta do avô quanto nessa última semana, como Peter obviamente sabia. De modo impulsivo, deu-lhe um abraço forte, colocando-se na ponta dos pés para dar-lhe um beijo no rosto que o fez corar.
- Eu amo você - disse ela, piscando a fim de reprimir as lágrimas. Então, experimentou uma terrível sensação de déjà vu quando seu olhar encontrou um par de olhos azuis letais estudando-a da porta.
- Eu deveria ter batido?
Eles se separaram, os joelhos de Emily tão fracos que ela tropeçou e caiu na cama, enquanto Peter se virava, enrubescendo ainda mais.
- Ethan, meu garoto! - exclamou Peter animado. - Acabei de dizer a Emily que saíssemos para que eu pudesse apresentá-los.
- Saíssem do quarto? - Sobrancelhas escuras arquearam-se, contrastando com a voz seca. Os olhos dele percorreram o quarto, demorando-se brevemente nas estatuetas de Rose. Estaria checando se não sumira nada?
Oh, Deus, era ele. Não havia engano naquele semblante duro e nos olhos brilhantes.
O sobrinho mais velho de Peter era o altivo salvador de Emily... o Cavaleiro Sombrio da festa dos Webber. O homem que ela tinha provocado como uma prostituta barata!
Ele obviamente a reconhecera, também. Por um momento, Emily tinha visto uma explosão de descrença, seguida por surpresa, confusão e raiva.
Ele se virou para estudar o tio.
- Acabei de voltar de South Island ontem - disse abruptamente. - Quando lhe telefonei, você estava fora, mas a sra. Cooper tinha muitas novidades sobre sua jovem amiga, sem teto...
Ele a fez parecer uma mendiga, e Emily supôs que, no momento, fosse mesmo.
- Coop nunca sabe tanto quanto pensa que sabe - retorquiu Peter, recuperado do choque inicial. - Emily? - Ele pegou-lhe a mão trêmula e ajudou-a a levantar. Milagrosamente, os joelhos obedeceram e ela se aproximou para encontrar seu destino. - Esse é meu sobrinho Ethan - apresentou com formalidade. - Ethan, quero que conheça Emily Quest, que se tornou uma boa amiga nos últimos anos... assim como tem feito um trabalho habilidoso. Ela é uma restauradora talentosa de cerâmicas antigas.
- Verdade? - O tom de Ethan era levemente ácido. A mão fria de Emily foi completamente engolida
pela palma grande e quente, fazendo-a lembrar-se da última vez que eles tinham se tocado.
- Estou absolutamente fascinado em conHecê-la, Emily Quest - murmurou ele com entusiasmo, apertando-lhe a mão ainda mais e efetivamente prendendo-a. - Não tenho dúvidas de que é extremamente talentosa em qualquer coisa que faça.
Emily puxou o cotovelo num movimento brusco para tirar a mão da dele, sentindo-se uma completa tola quando ele deixou-lhe os dedos deslizarem facilmente, como se nunca tivesse pretendido outra coisa.
- Que curioso... meu tio nunca falou de você. O que será que isso significa?
- Talvez ele não tenha achado que valesse a pena falar sobre mim até agora. - Ela deu de ombros.
- Quanta modéstia! - Ethan inclinou a cabeça e olhou-a demoradamente do topo da cabeça até as meias brancas. - Sabe, tenho a impressão de que você me é familiar de uma forma indefinível - murmurou. -Acho que, se eu pensar bastante, vou descobrir por quê.
Peter ficou tenso, como se só agora tivesse percebido a atmosfera estranha, e disse:
- Você está imaginando coisas.
- Na verdade, ele não está - rebateu Emily, decidida a ser sincera. - Ethan e eu nos vimos antes... em uma festa, alguns anos atrás. Uma festa maluca de que, creio, nenhum de nós dois gostou muito. Comportei-me mal e flertei com ele, e Ethan me rejeitou sem rodeios.
Houve um pequeno silêncio, então Ethan sorriu. Friamente.
- Não é assim que me lembro disso - declarou ele.
E o coração de Emily disparou violentamente.

ETHAN NA CAPA.

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