Emily estava sentada à mesa da varanda, esperando que a sombra proporcionada pelo guarda-sol disfarçasse o leve inchaço que podia sentir ao redor da boca.
Do outro lado da mesa, Ethan West mexia em sua xícara de café, e com os nervos de Emily. Ele também estava sentado na sombra, mas por um motivo diferente. Ao levar a bandeja, a sra. Cooper colocou a cadeira favorita de Ethan sob o guarda-sol.
- Ele se queima facilmente - explicou para Emily, colocando o prato de bolinhos sobre a mesa. - Ethan é muito sensível.
- Posso ver - zombou Emily. - Ele tem um contato tão maravilhoso com o lado feminino.
Ethan passou a mão pelo maxilar, escondendo um sorriso enquanto a sra. Cooper voltava para dentro da casa.
- Ela está se referindo apenas aos efeitos do sol - esclareceu ele. - Herdei essa suscetibilidade da minha mãe. Ela era uma verdadeira ruiva... tanto na aparência quanto no temperamento.
Isso explicava as mechas avermelhadas nos cabelos dele e a falta de bronzeado num homem que passava muitas horas ao ar livre.
Emily sabia que os pais dele haviam morrido num acidente de avião muitos anos atrás, mas recusou-se a deixar o comentário suavizar suas defesas.
- Então, você herdou traços leves do lado materno, e traços fortes do outro - murmurou ela, deixando-o pensar no significado daquilo.
-Na verdade, tenho a cabeça fria e uma personalidade estável - disse ele, e passou uma das mãos pelos cabelos. - Mas se você quiser que eu lhe prove que sou um ruivo natural, ficarei feliz em fazê-lo.
Emily quase se levantou de raiva.
- Isso não será necessário.
- Uma pena.
- Você sempre tem de levar tudo para o lado sexual? - Ela pegou um bolinho e deu uma mordida.
- Eu estava falando sobre sexo? - disse Ethan inocentemente. - Pensei que estivéssemos discutindo genética, eu me referia a mostrar as fotografias das gerações de ruivos West. O que achou que eu quis dizer?
Ele também pegou um bolinho e mordeu de forma sensual, prendendo o olhar dela enquanto mastigava.
O lábio inferior de Emily tremeu de leve com a lembrança daquela boca habilidosa na sua.
- Seu irmão também tem mechas vermelhas nos cabelos?
- Nem um traço. Ele é loiro, a cópia perfeita do meu pai, e parece ter uma filosofia de vida muito similar.
- E qual seria?
Ethan deu um sorriso irônico.
- Viva como se não houvesse amanhã, morra jovem.
Emily suspirou. Malcolm West tinha apenas quarenta e poucos anos quando morrera no seu avião pessoal.
Antes do falecimento, ele ganhara... e perdera... diversas fortunas, dirigindo companhias áreas de baixo custo ao redor da região do Pacífico Sul, e Emily imaginou se a rigidez e a natureza desconfiada de Ethan eram uma reação natural contra os efeitos devastadores de uma infância sofrida.
- E qual é a sua filosofia pessoal? - perguntou ela, vendo a chance de penetrar um pouco na mente dele.
Mas Ethan não estava cooperando.
- Viver um dia de cada vez e morrer velho - replicou ele. Comeu o bolinho em duas mordidas, deu um gole no café, então pegou outro.
- E quanto a seus pais? - Ethan virou o jogo para ela. - Com qual dos dois você se parece mais?
A pergunta parecia inocente, mas Emily já estava ciente dos truques verbais dele. Inclinou-se sobre a mesa para se servir de água, enquanto pensava numa resposta segura.
- Com nenhum dos dois. Ambos são muito altos e loiros. E extremamente magros - acrescentou, desejando que não o tivesse feito quando o olhar de Ethan foi direto para seus seios. - Mas isso pode ter sido o resultado de muita generosidade, em vez de genética - finalizou Emily. - Eles tendem a dar tudo o que possuem e viver com migalhas.
A curiosidade o fez erguer os olhos para o rosto dela.
- Por quê? Onde eles moram?
- Em todos os lugares e em lugar algum.
- O que isso significa?
- Significa que nunca param muito tempo em lugar algum. No momento, estão na África, em uma de suas missões.
-Seus pais são missionários! —A incredulidade dele foi a recompensa de Emily.
No momento em que Ethan colocou a xícara no pires, uma gota de café espirrou sobre o topo de vidro da mesa. Emily observou, com malícia silenciosa, quando o punho da camisa azul impecável foi manchado pelo líquido preto.
Por um instante, pensou em fazê-lo acreditar que era filha de um vigário, mas foi impedida pela chegada de Peter, que estava ansioso para participar da conversa.
-Não missionários, embora eles pareçam ir ao extremo do altruísmo com o mesmo fervor - disse Peter, explicando o trabalho dos pais de Emily enquanto se aproximava, mancando levemente, e se sentava com os dois.
- Como foi a conversa com Robinson? Resolveu as coisas que precisava? - Ethan perguntou ao tio.
A mudança repentina de assunto pareceu confundir Peter.
- O quê? Oh, sim. Apenas um probleminha trivial.
- Nenhuma tentativa de conseguir os serviços mais baratos? Você sempre disse que detestava gastar dinheiro com advogados - persistiu Ethan. - Confiava em mim para lidar com a parte legal de seu trabalho.
- Sim, bem... - Peter sorriu com timidez. - Sei como anda ocupado ultimamente, e não quis lhe dar mais trabalho.
- Nunca estou ocupado demais para você, tio Pete.
- O tom de Ethan era tão sério que fez o tio pigarrear.
- Eu sei, meu garoto, mas não é necessário que desperdice seu tempo valioso comigo.
- Família é sempre minha prioridade. Então, qualquer coisa que precisar, a qualquer momento, conte comigo. Você tem meu celular e sabe que meu escritório pode me localizar pelo rádio se eu estiver no ar, ou por telefone via satélite se eu estiver num local de construção afastado.
- Sim, é claro que sei. - Peter olhou para Emily, que respondeu instintivamente com um sorriso. Ela estava recebendo claramente a mensagem de Ethan: Peter podia morar sozinho, mas não estava desamparado.
- Seu sobrinho obviamente tem muita responsabilidade - comentou ela.
- Sim, ele tem - concordou Peter com orgulho.
- Ele também tem bastante apetite - continuou ela.
- Eu teria guardado um bolinho para você se Ethan não tivesse comido tanto. Esse é o terceiro dele.
- Mentirosa - brincou Ethan. - Você também estava comendo.
- Comi meio bolinho - disse, apontando para um pedacinho no prato.
- E quanto a todas aquelas crianças desnutridas na África? - disse ele em tom de acusação.
Mas Emily havia muito convivia com as pressões de culpa.
- Os bolinhos teriam mofado até que chegassem lá, de qualquer forma. Faço o bem com minhas doações para o fundo internacional de caridade para crianças.
Aquilo deveria tê-lo calado, mas Ethan cruzou os braços sobre o peito, inclinando a cabeça para estudá-la com expressão arrogante.
- Aposto que você é filha única. Foi a vez de ela ficar desconfiada.
- O que o faz pensar assim?
- Porque se tivesse irmãos, saberia que se vangloriar não é bom, e que é a melhor maneira de procurar uma briga.
- Então, por que tenho a impressão de que você é campeão em se vangloriar? - devolveu ela, e Peter riu.
-Ele não chama isso de se vangloriar. Chama de vitória saboreada.
- Traidor! - exclamou Ethan com um sorriso, desviando os olhos do tio para Emily. - Mas acertei, não acertei? Você é filha única.
Emily tinha de admirar a persistência do homem.
- Sim, e se eu já não soubesse, teria apostado que você era o primogênito.
Ele ergueu as mãos.
- Acho que não vou perguntar por quê.
- Eu vou - disse Peter.
- Mais dominador socialmente - respondeu Emily. - Os primeiros filhos são menos agradáveis e mais fechados a novas idéias do que os que nascem por último.
- Ah, mas você nasceu primeiro, também - apontou Ethan, achando um furo na teoria dela.
- E eu a acho maravilhosamente agradável - disse Peter para Emily, mostrando que estava ciente das dúvidas e, talvez, da animosidade do sobrinho.
Ocorreu a Emily que era irônico o fato de ela e Ethan estarem se comportando como cúmplices para evitar aborrecer Peter. Na presença dele, o relacionamento dos dois se tornara neutro.
- Tenho certeza de que você acha, ou não teria dado a ela uma oportunidade tão maravilhosa - comentou Ethan friamente. - Emily disse que vai se sentir levando uma vida de rainha no quarto de Rose.
Peter começou a franzir o cenho, e os dedos de Emily se apertaram ao redor do copo de água. Ela deu um gole para umedecer a boca enquanto pensava numa resposta inteligente que obscurecesse o significado das palavras de Ethan.
Mas era tarde demais.
- Emily? -A expressão de Peter agora era de prazer. - Isso significa o que estou pensando? Que você mudou de idéia?
-Eu... hum... - Ela detestava o pensamento de voltar atrás na frente de Ethan. Não refletira com clareza quando lhe dissera aquelas coisas com raiva. Agora, se não cumprisse sua ameaça, passaria por mentirosa, e Ethan a consideraria ainda mais desleal.
- Ela disse que se mudaria hoje.
- Eu me confundi, então? - disse Peter alegremente. - Pensei que você estivesse inflexível quanto a isso, decidida a ficar com sua amiga Julie...
- Sim, eu estava... Estou... Isto é... - Emily gaguejou, ciente do olhar de Ethan e de como se divertia com seu desconforto.
- Você pensou melhor e decidiu que eu tinha razão - ajudou Peter. - Eu sabia que acabaria vendo as vantagens práticas. Não faz sentido complicar as coisas quando está sendo oferecida ajuda. - Ele inclinou-se sobre a mesa e deu-lhe um tapinha carinhoso na mão.
- Depois de tudo o que você passou ultimamente, minha querida, merece ura pouco de mimo. E será meu privilégio dar-lhe isso. Sei que assim que a companhia de seguros pagar, você vai querer fazer outros planos, mas por enquanto sinta-se em sua própria casa aqui.
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AMANTE ACIDENTAL
RomanceAs coisas que ela teve de fazer para salvar os negócios de sua família! Naquela noite, Emily Quest se arrumou de modo especial. Com um vestido justo ao corpo e saltos altíssimos, partiu para uma festa perigosa num bairro sofisticado de Auckland, de...