- Nossa, parece eu quando tinha essa idade! - exclamou Emily rindo enquanto estudava a fotografia desbotada de uma adolescente de cabelos cacheados, parada ao lado de uma árvore florida, os braços cruzados sobre o peito, meio sorriso nos lábios. O formato do rosto e dos lábios era tão parecido que era como se olhar num espelho.
Ela virou a foto, mas não havia nenhuma identificação, diferente das outras fotos de Rose, todas identificadas com nomes e datas.
Peter olhou para a fotografia, enquanto mexia nas outras fotos .espalhadas sobre a mesa de jantar. O encontro de Emily com Ethan tinha tirado o apetite dela, mas esforçara-se para comer alguma coisa, e concordara em se juntar a Peter para recordar o passado.
- Impressionante - disse ela, estudando o rosto da garota novamente. - Quem é essa?
Peter pigarreou, mexendo na xícara de café.
- Minha filha.
- Sua filha? Mas pensei...
- Que eu e Rose não podíamos ter filhos? Não podíamos, não juntos. Rose fez uma histerectomia com vinte e poucos anos.
Emily esforçou-se para esconder o choque.
- Perdoe-me. Não é da minha conta...
- Nós passamos por uma fase terrível - continuou ele, os olhos fixos no rosto envergonhado de Emily. - Rose estava obcecada por não poder me dar filhos e me mandou embora de casa. Eu estava magoado, e tive um caso com minha secretária. Durou poucos dias, porque quando Rose mudou de idéia e me chamou de volta, fui correndo. Ofereci a Maria um emprego em outra parte da companhia, mas ela se demitiu. - Peter deu de ombros. - Envergonho-me por ter ficado feliz com a partida dela. Tive medo de que se Rose descobrisse, eu pudesse perdê-la para para sempre. Rose foi a única mulher que amei.
- Todos sabem disso - murmurou Emily, acariciando-lhe a mão. - Por quanto tempo você e Rose foram casados?
- Teria completado cinqüenta anos se ela não tivesse morrido. E aquela foi a única vez que a traí.
- Mas... houve uma criança? - Emily olhou para a fotografia sobre a mesa. - Tem certeza de que o bebê era seu?
Peter pareceu ainda mais envergonhado.
- Foi a primeira vez de Maria. Ela tinha quase quarenta anos, dez a mais que eu. Não me ocorreu que pudesse engravidar.
Emily estava abismada.
- De qualquer forma - continuou ele -, Maria nunca me contou que estava grávida. Pediu demissão e desapareceu. Então, vinte anos depois, recebi uma carta dela, postada após a sua morte. Ela me contou sobre Carol, minha filha, e me mandou essa foto. Disse que lamentava, mas que não queria destruir meu casamento, ou arriscar que eu tentasse lhe tirar o bebê e entregá-lo a Rose.
- Então, como é sua filha? - perguntou Emily. -Não sei - replicou ele, amargamente. - Essa é a única foto que tenho. Ela envolveu-se com drogas e morreu aos 19 anos em circunstâncias terríveis na Indonésia, enquanto estava morando com o namorado.
- Meu Deus, Peter! Então, você nunca a conheceu? Isso é tudo o que tem dela, uma fotografia e uma carta?
Ele assentiu.
-Mandei meus advogados investigarem, mas eu não podia trabalhar com as informações enquanto Rose estava viva... seria como traí-la novamente. Mas agora que ela faleceu, posso tentar compensar o tempo perdido. Carol estava grávida quando foi para a Indonésia. Morreu não muito depois de ter o bebê.
- Você tem um neto ou uma neta!
Peter assentiu, a voz tremendo.
- Uma neta. Da qual me orgulho muito.
Emily sentiu um nó na garganta, emocionada.
- Isso é maravilhoso. Fico feliz por você.
- É claro, ninguém sabe ainda, exceto você e os advogados - prosseguiu ele, nervoso. - Eu não saberia como contar aos garotos. Eles adoravam a tia Rose.
- Entendo - murmurou ela. - Sua neta vive na Indonésia?
Peter a olhou intensamente.
- Não, ela foi adotada por um casal da Nova Zelândia.
Parecendo precisar de algo para aliviar a tensão, ele pegou uma fatia do bolo de chocolate que Emily fizera para acompanhar o café, enquanto lhe contava a história de sua investigação.
Houvera um grande ciclone e enchentes, e toda a região ficara um caos quando Carol tinha dado à luz. Ajudada por um casal de jovens idealistas que fizeram seu parto, foi escondida em um campo de refugiados, com outro nome, pois temia o que seus amigos drogados poderiam fazer com o bebê. Esse mesmo casal, mais tarde, a encontrou delirando e morrendo, e levou o bebê para fora do país. Carol só lhes deu o primeiro nome, dizendo que não tinha família, talvez com a esperança de encorajá-los a cumprir a promessa que lhe fizeram.
Emily ouviu a história com ar intrigado, até que Peter mencionou a data do nascimento da neta. Ela bebeu o café já frio, tentando ignorar a verdade. Tinha a terrível sensação de que os estranhos olhares de Peter estavam agora explicados, e que a bondade dele não fora uma simples demonstração de amizade.
- Que coincidência. Foi quando eu nasci - murmurou ela, tentando soar alegre. - E meus pais estavam na Indonésia, trabalhando nas enchentes.
- Não é coincidência, Emily. - Peter obviamente tinha decidido que era hora da verdade. - Foram seus pais que adotaram o bebê de Carol. Você é minha neta.
- Mas não pode ser! - negou ela, olhando-o com compaixão. - Lamento, mas você está enganado. Eu não sou adotada.
- Tem certeza? Porque tenho relatórios. - Ele pigarreou. - Oh, querida, pensei que seus pais tivessem lhe contado.
- É claro que tenho certeza - interrompeu ela. - Possuo certidão de nascimento. E você tem razão, eles teriam me contado.
E se Peter era o seu avô, então James Quest não tinha sido... Entretanto, ele sempre falara sobre a continuação de sua habilidade na linha familiar, da satisfação de passar a herança para a filha de seu filho. James não colocaria a mesma ênfase no relacionamento deles se Emily fosse adotada.
- A menos que eles tivessem uma razão para não fazer isso.
Como uma promessa para uma mulher morrendo?
Peter estava ficando agitado demais, mas ela não podia deixá-lo acreditar em algo que não era verdade só para não aborrecê-lo.
Uma hora depois, suas emoções ainda estavam abaladas quando Ethan entrou pela porta, aproximando-se do tio, que estava deitado no sofá, um cobertor sobre o colo.
- O que aconteceu? Você está bem? - Ele olhou para o médico. - Foi um ataque cardíaco, Mike? Por que ele não está no hospital?
Emily o olhou enquanto Ethan tirava o paletó e a gravata, e o médico explicava que não havia necessidade de hospitalização, que o sr. Nash havia apenas engasgado e agora estava tudo bem.
- Se foi tão simples, o que você está fazendo aqui? - perguntou Ethan. - E por que perdi o último ato?
Emily virou-se e olhou para Dylan de maneira acusadora, que confessou, na defensiva:
- Você chamou o médico. Eu precisava fazer alguma coisa, então enviei uma mensagem de texto a Ethan. Ele teria me matado se eu não o informasse o que estava acontecendo.
Ethan olhou para o irmão.
- O celular vibrou e li a mensagem: "Tio passa mal. Médico a caminho." Você acha que eu conseguiria ter ficado lá e assistido ao resto do balé? Tentei ligar, mas só dava ocupado, e você não atendia o celular - ele acusou Dylan.
- Devo ter deixado no outro quarto, e talvez o telefone tenha ficado fora do gancho depois do telefonema para Mike. Houve um pouco de pânico - defendeu-se Dylan. - Você conhece tio Peter. Ele insistia que estava tudo bem, mas Emily ficou preocupada. Ele estava muito pálido e respirando com dificuldade. Emily disse que ficou assustada.
- Então, você não estava aqui quando isso aconteceu? - Ethan desviou o olhar para Emily, que se sentia culpada. Mas por que Dylan fizera aquilo? Fora ele quem dissera a Emily que estava exagerando.
- Eu estava no quarto, dando alguns telefonemas -disse Dylan, quando Peter interrompeu fracamente:
- Pelo amor de Deus, Ethan, acalme-se e deixe Mike voltar para sua família.
- Sim, obrigado, doutor. Mande a conta depois. - Dylan sorriu e bateu no ombro do médico.
- Ele está ótimo para a idade e condição, Ethan, mas foi bom eu ter vindo para me certificar. É melhor que ele não fale muito por um dia ou dois. Acabou de tomar um susto.
- E de nos dar um - murmurou Ethan, e olhou para Emily. - Com o que ele engasgou?
Emily se aproximou do sofá.
- Com um pedaço de bolo de chocolate.
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AMANTE ACIDENTAL
RomanceAs coisas que ela teve de fazer para salvar os negócios de sua família! Naquela noite, Emily Quest se arrumou de modo especial. Com um vestido justo ao corpo e saltos altíssimos, partiu para uma festa perigosa num bairro sofisticado de Auckland, de...