Capítulo 18.

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- Nossa, parece eu quando tinha essa idade! - exclamou Emily rindo enquanto estudava a fotografia desbotada de uma adolescente de cabelos cacheados, parada ao lado de uma árvore florida, os braços cruzados sobre o peito, meio sorriso nos lábios. O formato do rosto e dos lábios era tão parecido que era como se olhar num espelho.
Ela virou a foto, mas não havia nenhuma identificação, diferente das outras fotos de Rose, todas identificadas com nomes e datas.
Peter olhou para a fotografia, enquanto mexia nas outras fotos .espalhadas sobre a mesa de jantar. O encontro de Emily com Ethan tinha tirado o apetite dela, mas esforçara-se para comer alguma coisa, e concordara em se juntar a Peter para recordar o passado.
- Impressionante - disse ela, estudando o rosto da garota novamente. - Quem é essa?
Peter pigarreou, mexendo na xícara de café.
- Minha filha.
- Sua filha? Mas pensei...
- Que eu e Rose não podíamos ter filhos? Não podíamos, não juntos. Rose fez uma histerectomia com vinte e poucos anos.
Emily esforçou-se para esconder o choque.
- Perdoe-me. Não é da minha conta...
- Nós passamos por uma fase terrível - continuou ele, os olhos fixos no rosto envergonhado de Emily. - Rose estava obcecada por não poder me dar filhos e me mandou embora de casa. Eu estava magoado, e tive um caso com minha secretária. Durou poucos dias, porque quando Rose mudou de idéia e me chamou de volta, fui correndo. Ofereci a Maria um emprego em outra parte da companhia, mas ela se demitiu. - Peter deu de ombros. - Envergonho-me por ter ficado feliz com a partida dela. Tive medo de que se Rose descobrisse, eu pudesse perdê-la para para sempre. Rose foi a única mulher que amei.
- Todos sabem disso - murmurou Emily, acariciando-lhe a mão. - Por quanto tempo você e Rose foram casados?
- Teria completado cinqüenta anos se ela não tivesse morrido. E aquela foi a única vez que a traí.
- Mas... houve uma criança? - Emily olhou para a fotografia sobre a mesa. - Tem certeza de que o bebê era seu?
Peter pareceu ainda mais envergonhado.
- Foi a primeira vez de Maria. Ela tinha quase quarenta anos, dez a mais que eu. Não me ocorreu que pudesse engravidar.
Emily estava abismada.
- De qualquer forma - continuou ele -, Maria nunca me contou que estava grávida. Pediu demissão e desapareceu. Então, vinte anos depois, recebi uma carta dela, postada após a sua morte. Ela me contou sobre Carol, minha filha, e me mandou essa foto. Disse que lamentava, mas que não queria destruir meu casamento, ou arriscar que eu tentasse lhe tirar o bebê e entregá-lo a Rose.
- Então, como é sua filha? - perguntou Emily. -Não sei - replicou ele, amargamente. - Essa é a única foto que tenho. Ela envolveu-se com drogas e morreu aos 19 anos em circunstâncias terríveis na Indonésia, enquanto estava morando com o namorado.
- Meu Deus, Peter! Então, você nunca a conheceu? Isso é tudo o que tem dela, uma fotografia e uma carta?
Ele assentiu.
-Mandei meus advogados investigarem, mas eu não podia trabalhar com as informações enquanto Rose estava viva... seria como traí-la novamente. Mas agora que ela faleceu, posso tentar compensar o tempo perdido. Carol estava grávida quando foi para a Indonésia. Morreu não muito depois de ter o bebê.
- Você tem um neto ou uma neta!
Peter assentiu, a voz tremendo.
- Uma neta. Da qual me orgulho muito.
Emily sentiu um nó na garganta, emocionada.
- Isso é maravilhoso. Fico feliz por você.
- É claro, ninguém sabe ainda, exceto você e os advogados - prosseguiu ele, nervoso. - Eu não saberia como contar aos garotos. Eles adoravam a tia Rose.
- Entendo - murmurou ela. - Sua neta vive na Indonésia?
Peter a olhou intensamente.
- Não, ela foi adotada por um casal da Nova Zelândia.
Parecendo precisar de algo para aliviar a tensão, ele pegou uma fatia do bolo de chocolate que Emily fizera para acompanhar o café, enquanto lhe contava a história de sua investigação.
Houvera um grande ciclone e enchentes, e toda a região ficara um caos quando Carol tinha dado à luz. Ajudada por um casal de jovens idealistas que fizeram seu parto, foi escondida em um campo de refugiados, com outro nome, pois temia o que seus amigos drogados poderiam fazer com o bebê. Esse mesmo casal, mais tarde, a encontrou delirando e morrendo, e levou o bebê para fora do país. Carol só lhes deu o primeiro nome, dizendo que não tinha família, talvez com a esperança de encorajá-los a cumprir a promessa que lhe fizeram.
Emily ouviu a história com ar intrigado, até que Peter mencionou a data do nascimento da neta. Ela bebeu o café já frio, tentando ignorar a verdade. Tinha a terrível sensação de que os estranhos olhares de Peter estavam agora explicados, e que a bondade dele não fora uma simples demonstração de amizade.
- Que coincidência. Foi quando eu nasci - murmurou ela, tentando soar alegre. - E meus pais estavam na Indonésia, trabalhando nas enchentes.
- Não é coincidência, Emily. - Peter obviamente tinha decidido que era hora da verdade. - Foram seus pais que adotaram o bebê de Carol. Você é minha neta.
- Mas não pode ser! - negou ela, olhando-o com compaixão. - Lamento, mas você está enganado. Eu não sou adotada.
- Tem certeza? Porque tenho relatórios. - Ele pigarreou. - Oh, querida, pensei que seus pais tivessem lhe contado.
- É claro que tenho certeza - interrompeu ela. - Possuo certidão de nascimento. E você tem razão, eles teriam me contado.
E se Peter era o seu avô, então James Quest não tinha sido... Entretanto, ele sempre falara sobre a continuação de sua habilidade na linha familiar, da satisfação de passar a herança para a filha de seu filho. James não colocaria a mesma ênfase no relacionamento deles se Emily fosse adotada.
- A menos que eles tivessem uma razão para não fazer isso.
Como uma promessa para uma mulher morrendo?
Peter estava ficando agitado demais, mas ela não podia deixá-lo acreditar em algo que não era verdade só para não aborrecê-lo.
Uma hora depois, suas emoções ainda estavam abaladas quando Ethan entrou pela porta, aproximando-se do tio, que estava deitado no sofá, um cobertor sobre o colo.
- O que aconteceu? Você está bem? - Ele olhou para o médico. - Foi um ataque cardíaco, Mike? Por que ele não está no hospital?
Emily o olhou enquanto Ethan tirava o paletó e a gravata, e o médico explicava que não havia necessidade de hospitalização, que o sr. Nash havia apenas engasgado e agora estava tudo bem.
- Se foi tão simples, o que você está fazendo aqui? - perguntou Ethan. - E por que perdi o último ato?
Emily virou-se e olhou para Dylan de maneira acusadora, que confessou, na defensiva:
- Você chamou o médico. Eu precisava fazer alguma coisa, então enviei uma mensagem de texto a Ethan. Ele teria me matado se eu não o informasse o que estava acontecendo.
Ethan olhou para o irmão.
- O celular vibrou e li a mensagem: "Tio passa mal. Médico a caminho." Você acha que eu conseguiria ter ficado lá e assistido ao resto do balé? Tentei ligar, mas só dava ocupado, e você não atendia o celular - ele acusou Dylan.
- Devo ter deixado no outro quarto, e talvez o telefone tenha ficado fora do gancho depois do telefonema para Mike. Houve um pouco de pânico - defendeu-se Dylan. - Você conhece tio Peter. Ele insistia que estava tudo bem, mas Emily ficou preocupada. Ele estava muito pálido e respirando com dificuldade. Emily disse que ficou assustada.
- Então, você não estava aqui quando isso aconteceu? - Ethan desviou o olhar para Emily, que se sentia culpada. Mas por que Dylan fizera aquilo? Fora ele quem dissera a Emily que estava exagerando.
- Eu estava no quarto, dando alguns telefonemas -disse Dylan, quando Peter interrompeu fracamente:
- Pelo amor de Deus, Ethan, acalme-se e deixe Mike voltar para sua família.
- Sim, obrigado, doutor. Mande a conta depois. - Dylan sorriu e bateu no ombro do médico.
- Ele está ótimo para a idade e condição, Ethan, mas foi bom eu ter vindo para me certificar. É melhor que ele não fale muito por um dia ou dois. Acabou de tomar um susto.
- E de nos dar um - murmurou Ethan, e olhou para Emily. - Com o que ele engasgou?
Emily se aproximou do sofá.
- Com um pedaço de bolo de chocolate.

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