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AS ÁRVORES IAM se alternando do lado de fora da janela do trem, brincando com o céu que ia clareando aos poucos. Ao meu redor algumas pessoas acordavam vagamente, olhando para o vidro temperado tentando identificar onde estavam.
        Estou me mudando, sozinha, para a movimentada e desenvolvida Magnólia. Consegui uma bolsa de estudos para a renomada Fairy Tail que é considerada, atualmente, uma das melhores escolas de todo o Reino de Fiore! Então com o propósito de estudar consegui permissão de meu pai, Jude Heartfilia; um doce, bondoso, e às vezes sério, fazendeiro. Nossa fazenda tem prosperado bastante nos últimos tempos, assim ele possui dinheiro de sobra para pagar o aluguel de um pequeno apartamento e a passagem do trem. É claro, não o deixarei pagar meu aluguel para sempre. Pretendo arranjar um emprego pouco depois que me acostumar com o movimento de uma cidade tão desenvolvida.
        Uma mulher trajando um vestido azul escuro passou por entre as divisórias do trem, avisando que em breve chegaríamos ao destino. Marquei a página do livro que estava lendo e o fechei, guardando-o na bolsa que estava encostada no banco ao lado. Cheguei mais perto da janela, queria ver se Magnolia era tão maravilhosa quanto imaginara e não fiquei decepcionada. Mesmo sendo bem cedo, perto das seis horas, acho, o lugar já estava tão movimentado quanto deveria ser às seis da noite! E o melhor: haviam árvores! Podia reconhecer as folhagens altas brincando entre os picos dos prédios e conjuntos habitacionais. Havia também um rio, límpido e brilhante, cortando algumas ruas, com arbustos e flores de todos os tipos ao seu lado. Mesmo estando muito mais a frente, as construções como casas e apartamentos lembravam as da época vitoriana. Era tudo tão lindo!
        Logo entramos na estação e despedi-me do lugar que viajei por quase três dias seguidos. Desci no galpão de desembarque, e procurei pela minha única mala. Meu pai já havia mandado minhas outras coisas anteriormente para o apartamento aonde ficarei instalada. Procurei então a locatária que avisou-me que me buscaria dias antes através do telefone. Logo vi meu nome escrito em um cartaz chamativo, segurado por uma senhora baixa e extremamente gorda — sem querer ofendê-la. Ela usava um cachecol de raposa roxo sobre os ombros e um vestido amarelo que não fora uma boa escolha, pois deixava a mostra seus tornozelos inchados. Corri até ela e apresentei-me formalmente.
        Ela me encarou, analisando-me. Não entendo o motivo, porém corei. Lançou-me um olhar reprovador e pediu que a seguisse. Fiquei ofendida. Não havia nada de errado com minha roupa. Estava trajando uma camisa polo rosa claro com as bordas brancas, um jeans cinza e all stars brancos. Podia não ser exatamente o que as adolescentes costumavam usar ali, mas certamente não dizia: ''olhem para mim, sou uma caipira''.
        Entramos dentro de seu carro negro, nem muito grande, nem muito pequeno, e partimos em direção ao lugar onde viveria a partir deste dia. Observando as ruas passarem apressadamente ao meu lado e ouvindo as conversas animadas típicas de uma segunda-feira de manhã dos adolescentes que eram apenas borrões ao meu ver, lembrei-me de algo que meu pai avisou antes de partir.
        “Escute Lucy: tome muito cuidado ao chegar a Magnólia. Esses lugares guardam muitas surpresas, assim como situações vergonhosas e perigosas”, dissera. Eu então acenei e então parti para a estação, onde peguei o trem que me levaria ao meu destino rapidamente... Ou nem tanto — três dias foi muito para mim.
        — Chegamos — avisou Tara, estacionando o carro em uma vaga próxima da calçada.
        Desci do automóvel e fiquei maravilhada. A estrutura era toda branca, com uma escada no meio, levando até o portão decorado com várias formas ondulantes que possuíam a cor prateada. A rua era calma. Poucas pessoas passavam por ali, pelo visto.
        Tara abriu o portão rapidamente e guiou-me através de um lance de escadas, também prateadas, até a frente de uma porta de MDF, clara e polida. Ela pegou um molho de chaves de seu bolso e encaixou uma delas na fechadura, virando sem nenhuma pressa e me mostrando um quarto espaçoso. As paredes eram de um tom creme, havia uma abertura lateral em que podia se ver uma pequena cozinha totalmente mobiliada, uma porta a esquerda que claramente era o banheiro, o piso era de madeira corrida. As janelas eram grandes e a estrutura de madeira que as ligava eram brancas. Podia ver uma cama grande e espaçosa em um dos cantos, com um criado mudo feito de mogno em cada lado. No canto esquerdo, mais próximo de mim, estavam empilhadas várias caixas de papelão, que reconheci como as que mandamos com minhas coisas. Uau! Chegaram rápido!
        A arroxeada Tara me entregou uma cópia das chaves e se retirou, dizendo para aproveitar a estadia ali e avisando que em breve me passaria as informações como, por exemplo, quando o aluguel era cobrado, etc.
        Joguei-me na cama pesarosamente. Após esses três dias de viagem, estava exausta. Sem perceber, acabei adormecendo.
        Quando acordei, olhei para o pequeno relógio de cabeceira que se encontrava em cima de um dos criados-mudos. Dormi muito. Muito mesmo. Eram dez horas... da noite. Quando cheguei no apartamento, estava para dar sete horas da manhã ainda. Não daria para arrumar nada.
        Suspirei derrotada. Teria que organizar meu apartamento outra hora. Afinal, tinha que ir à escola no dia seguinte, e seria terrível eu não poder aproveitar o tão comentado Colégio Fairy Tail por causa da fadiga.
        Tomei um banho demorado, relaxando assim todos os meus músculos e nervos que estavam enrijecidos por causa da viagem e o mau jeito que dormi. Fui até a cozinha, almejando algo para beliscar pois estava faminta, entretanto esqueci que havia acabado de me mudar para o apartamento e não havia feito as compras ainda. Outro item nas minhas coisas a fazer.
        Arrastei-me até a cama, deitei no colchão macio, arrumei meu despertador para tocar às cinco em ponto da manhã e puxei o pesado e cheiroso cobertor sobre minha cabeça. Adormeci
instantaneamente.

Meu Estranho MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora