Vinte e um

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LEVY RIU.
        — Natsu-kun, está com um pouco de creme bem aqui. — Apontou um ponto qualquer no próprio rosto e revirei meus olhos. Estávamos todos sentados em uma mesinha de uma das enormes varandas da mansão Dragneel. Aries havia se juntado a nós e mandado Virgo preparar um chá, mesmo que seja de noite...
        — Ah! Obrigado. — Agradeceu em toda sua educação, tentando tirar o pouco do creme de seu bolinho que ficara grudado em sua bochecha.
        Ele infelizmente não conseguiu achar o local e Levy riu novamente.
        — Eu tiro para você. — Ofereceu-se inclinando sobre mim, que estava no meio dos dois. — Lu-chan, você se importa?
        — Nem um pouco. — Respondi azeda.
        Ela e Natsu lançaram-me olhares surpresos.
        — C-certo. — Estendeu-se um pouco mais, limpando o dito cujo.
        — Obrigado.
        — Não foi nada. — Sorriu para ele, que retribuiu o gesto.
        — Por quanto tempo vai ficar em cima de mim, Levy-chan? — Interrompi.
        — Ah! Foi mal! — Ajeitou-se novamente na cadeira. — Então, Lu-chan... Pode começar a me explicar a situação?
        Tomei mais um gole do meu chá.
        — Claro... — Suspirei. — Tudo começou quando me mudei para Magnólia, Levy-chan.
        — Certo. — Meneou a cabeça em um aceno, mostrando que prestava atenção em minha explicação.
        — Bem, no meu primeiro dia de aula, esbarrei nesse estúpido ao meu lado... — Apontei para Natsu. — E depois disso ele começou a me torrar a paciência todo dia, basicamente. — Dei outro gole em minha xícara.
        — Quem é estúpido? — Enervou-se o rosado.
        — Incrivelmente, depois de ser alvo de um assassino... — Continuei, ignorando-o. — Descobri que esse ser aqui é líder da máfia do país!
        Encarou-me chocada.
        — Ah! Meu Deus! — Gritou, e logo me abraçou.
        — Levy-chan?
        — Lu-chan, você não se machucou? — Indagou desesperada.
        — Eh?
        — Ser alvo de um assassino... Que coisa terrível! O que direi ao seu pai?
        — É com isso que ficou surpresa? Não precisa dizer nada. Estou viva, não estou?
        — Mas... Lu-chan!
        — Levy-chan, já disse que está tudo bem. E o que acha que meu pai faria se ficasse sabendo a respeito disso?
        Afastou-se hesitante, ficando cabisbaixa.
        — Ele... Provavelmente lhe levaria embora.
        — Exato. — Confirmei, mas não pude deixar de notar Natsu e Aries surpresos. — É exatamente o que ele faria.
        — Mesmo assim, Lu-chan! Deixá-lo ficar sem saber de algo tão importante...
        — Está tudo bem. — Afirmei calma. — Afinal, tenho esse idiota aqui para me proteger.
        Encarou-me fixamente, enquanto Natsu ficada cada vez mais surpreso e Aries deixava escapar um sorriso.
        Certo... Acho que isso foi uma prova a Natsu que eu confiava nele. Mas do jeito que ele é...
        Espero que tenha captado, Natsu.
        Eu confio em você.
        Finalmente, diga-se de passagem.
        Pigarreei.
        — Continuando... — Disse. — Depois de superar o choque da descoberta tentei me afastar um pouco de Natsu, porém isso pareceu meio impossível... De qualquer forma, o destino decidiu em nos colocar no caminho um do outro. Foi assim quando me atrasei para a escola, quando tivemos uma excursão escolar às montanhas Sakura e ao monte Hakobe... E então, o aniversário de Natsu se aproximou...
        — E por causa da situação tive que lhe pedir algo bem... excêntrico. — Intrometeu-se o rosado.
        — Exato. — Concordei bebericando mais um pouco de chá. — E esse pedido, cara Levy-chan... Foi que eu fingisse ser sua namorada.
        — Entendo... — Murmurou a azulada. — Porém realmente pensei que vocês estavam namorando, Lu-chan.
        — Não brinque com isso, Levy-chan. — Debochei. — Quem iria querer namorar o Natsu?
        — Oe! — Berrou o dito cujo. — Luce! Você está sendo rude! Caso lhe interesse, há milhões de garotas que adorariam sair comigo. — Inflou o peito em um gesto convencido.
— E eu acho que elas adorariam ir ao médico também.
        Encaramo-nos com raiva.
        — Hum... — Balbuciou Levy, como se tivesse entendido algo. Lançou um olhar sugestivo na direção de Aries, que acenou positivamente. — Então é isso...
        — Sim... — Afirmei meio confusa. O que foi esse gesto entre as duas?
        — Bem, se esse é o caso não tem problema nenhum. — Levantou-se.
        — Levy-chan?
        — Não se preocupe, Lu-chan. Não direi nada ao seu pai. — Sorriu.
        — Levy-chan! — Exclamei admirada. Essa era a minha melhor amiga!
        — Também... — Continuou.
        — Também? — Repetiram Aries e Natsu.
        — Não direi nada a... Você sabe... ele.
        Arregalei meus olhos.
        Nem ele? Levy-chan parecia muito disposta a guardar segredo...
        — E então? Onde vou ficar?
        — Ah... Espere um pouco, Levy-chan! — Chamei. — V-você não está nem um pouco surpresa com o fato de... Vejamos... O Natsu ser um mafioso? O líder, ainda por cima!
        — Calma, amorzinho. — Disse Natsu, apoiando seu braço em meus ombros. — Não precisa se gabar tanto de mim.
        Dei-lhe uma cotovelada no estômago.
        — O que espera que eu faça, Lu-chan? — Indagou. — Não vou sair correndo gritando desesperadamente. Você sabe que não sou assim.
        — É verdade... — Lembrei.
        — Além disso, já sabia sobre Natsu Dragneel.
        — O quê? — Choquei-me. — C-c-como você...?
        — Por isso — remexeu um pouco em sua bolsa em busca de algo. Por fim mostrou-me uma revista. Na capa havia uma imagem de Natsu. Ele trajava um terno negro e jogava a parte superior pelo ombro, olhando ligeiramente para um canto qualquer. Devo admitir que ele estava... bonito.
        Não, minto. Ele estava excepcionalmente lindo.
        Folheei as páginas até achar a matéria com esse ser.
        — Cinquenta maneiras de se conquistar Natsu Dragneel?! — Exclamei ao ver o título da matéria.
        — Wah! Ainda existe um exemplar dessa revista? — Surpreendeu-se Aries. — Pensei que tinham sido dizimadas assim que chegaram às bancas.
        — Sério? — Indaguei descrente.
        — Eu disse que existiam milhões de garotas que se descabelam por mim. — Afirmou Natsu.
        — Tem louco para tudo...
        — Está bem animadinha para me avacalhar hoje, não está?
        — Mas estou surpresa de você não saber dessa revista, Lu-chan. — Observou Levy. — É da época em que você chegou à Magnólia.
        — Sério? Pensando bem... Acho que ignorei totalmente as revistas desde que cheguei aqui...
        — Você acha? — O rosado elevou uma sobrancelha.
        — Isso é estranho. Você adorava estar por dentro do que acontecia. — Lembrou-me a azulada. — Com o que gastou seu aluguel nas primeiras semanas que esteve aqui?
        Senti minhas bochechas arderem.
        — Na-nada de mais... — Gaguejei.
        — Lu-chaaan... — Chamou-me em tom inquisitivo.
        — Ga-gastei com... melon pan, e outras coisas... — Admiti envergonhada.
        — Sério, Lu-chan! Aí está a velha viciada em melon pan!
        — Ela sempre teve esse hábito? — Perguntou Natsu.
        — Sim! Desde que éramos crianças.
        — Mas é uma delícia!
        — Sem “mas”, Lu-chan! — Ralhou.
        — Como posso dizer isso... Ela... parece uma mãe, Luce.
        — É. — Concordei com o rosado, enquanto Levy começava um longo discurso a respeito das minhas manias e vícios.

Meu Estranho MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora