Cinquenta e sete

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QUANDO ERA PEQUENA tinha medo de muitas coisas. Tinha medo das aulas de natação da Aquário, das broncas que meus pais me dariam se aprontasse, medo de um boi que não ia com minha cara de maneira alguma. Depois que fui sequestrada, desenvolvi fobia de estranhos até conhecer Rogue. E, depois que mamãe se foi desse mundo, desenvolvi um medo muito grande de perder papai também. O interessante é que nada disso parecia ser mais assustador do que atravessar aquela porta.

Senti um nó formar-se em minha garganta e tratei de enguli-lo. Não era hora de chorar. Precisava ser forte e aguentar seja lá o que viesse. Natsu apertou minha mão, dando-me apoio.

— Está tudo bem, Lucy — disse, olhando em meus olhos. — Talvez percamos uma amizade, ou estragaremos a felicidade dela, mas vamos enfrentar isso juntos, okay?

Acenei com a cabeça.

Respirei fundo, recobrando a coragem e meneei a cabeça para ele, indicando que poderíamos prosseguir. Ele bateu duas vezes na porta antes de abri-la.

— Oh, Lucy! — exclamou ela, abrindo um dos maiores sorrisos que já a vi dar. — Você está segura! Que bom... — murmurou aliviada. Olhou para a porta semi-aberta atrás de mim, esperando por algo que nunca viria. — Só vieram os dois?

— Hum... — parecia estranho começar uma conversa como se nada houvesse acontecido. — Olá, Juvia. Faz um bom tempo desde que nos vimos.

— Sim, só viemos nós dois — Natsu respondeu, e olhei chocada para ele. Que falta de tato!

— Gray está machucado? — indagou preocupada.

O assunto veio à tona muito antes do que havia imaginado.

— Creio que não tanto... — consegui balbuciar, morrendo de vontade de me jogar em seus pés e implorar perdão.

— Poxa, o que Gray está fazendo? — formou um bico e cruzou os braços. — Ele perdeu o primeiro ultrassom do bebê! Mesmo depois de prometer que voltaria a tempo!

O ambiente parecia tão sufocante para mim.

— Aconteceram uns imprevistos, Juvia — Natsu tentou acalmá-la. Também tentou me fazer relaxar apertando novamente minha mão. — Ele não perderia o ultrassom por querer. Sabe disso.

Ela sorriu levemente.

— É verdade — concordou. Olhou para a janela. — Oh! Está nevando! — exclamou, atraindo tanto a minha atenção quanto a de Natsu para os vidros grandes. Os flocos alvos dançavam pelo ar, anunciando a chegada do inverno. — Você sabia, Lucy? Gray odeia essa estação.

— É mesmo? — questionei, levemente interessada. — Por quê?

— A mãe dele morreu em um dia de inverno — explicou. — Creio que a Ultear-san também não goste. Mas... Eu gosto — sorriu tristemente. — Foi quando tivemos nosso primeiro beijo. Estranho, não?

— Não acho que seja — respondi gentilmente.

— Juvia... — Natsu balbuciou. — Você sabe?

A azulada deu de ombros.

— Gray não perderia o ultrassom a não ser que estivesse morto — quando ela virou o rosto completamente em nossa direção pude ver lágrimas adornando seus olhos. — É esse o caso, não?

Senti meu corpo todo tremer.

— É... É minha culpa, Juvia — murmurei entre soluços, deixando o sentimento de tristeza e pesar tomar conta de mim. — Me... Me desculpe.

— Não é sua culpa, Lucy. Fui eu quem o mandou para lá sem auxílio nenhum. A culpa é toda minha, Juvia. Perdoe-me. — Natsu ajoelhou-se ao meu lado.

Meu Estranho MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora