Doze

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O RESTO DA viagem foi incrivelmente tranquila, deixando de lado as brincadeiras bobas do senhor Dragneel. Logo era hora de voltarmos, então, com lágrimas nos olhos, nos despedimos do Monte Hakobe.
        — Hey, Lucy... — Começou Mira pela milésima vez. — Nos fale mais sobre seu namorado!
        — Para começar é ex-namorado — enfatizei. — E já não disse para parar de me perguntar sobre isso? Por que a curiosidade?
        Natsu bufou ao meu lado, olhando algum ponto fixamente além das janelas.
        — Elas querem saber qual era o problema dele. — Afirmou convicto.
        — Ele não tinha nenhum problema! — Respondi nervosa. — Por que continua afirmando isso?
        — Ora... Para namorar você, ou a pessoa é louca, ou então tem sérios problemas mentais.
        — Que grosseria! Deveria estar se referindo a você, e não a mim. Por que alguém que me namoraria teria algum problema mental?
        — Porque você é cabeça dura, orgulhosa, escandalosa e idiota.
        Enervei-me.
        — Não quero ser chamada de idiota por um imbecil como você!
        — Viu? Ainda por cima é super grosseira. — Afirmou, sorrindo ironicamente.
        — Você é mesmo...!
        — Ara. — Interrompeu Mira, no instante em que me arrumava para bater no rosado. — Pura curiosidade, Lucy. Você não parece ser alguém que já namorou antes, por isso ficamos interessadas.
        — Oh... — Murmurei calma.
        — Também é bipolar. — Observou Natsu.
        — Será que poderia calar a boca? Sua voz está me dando dor de cabeça! — Reclamei.
        — Que garota mais complexa! — Exclamou. — Esse seu ex-namorado deve ter uma paciência incrível, uma vez que lhe aguentou por seja lá quanto tempo vocês tenham ficado juntos. Se fosse eu, nunca aguentaria.
        — E quem em sã consciência iria querer namorar você? Além de ter que lhe aguentar, seria alvo de assassinato!
        Ele sorriu confiante e disse, totalmente convencido:
        — Existem milhões de mulheres se descabelando por mim, acredite. Eu sei que você também está se corroendo de desejo por mim internamente, porém tem controle demais para demonstrar.
        — O quê? — Gargalhei. — Mas como é convencido! Eu interessada em você? — Ri novamente. — Pretende seguir a carreira humorística?
        — Pode até zoar, mas é a mais pura verdade. — Murmurou aproximando-se um pouco mais de mim.
        — Pode até ser na sua cabecinha, porém estamos no mundo real, Natsu! Vê se acorda! No dia que eu disser que gosto de você, peço que alguém me dê um tiro.
        — Ah! Qual é Lucy? Vai dizer que não sente mesmo nada por mim? Eu, Natsu Dragneel? — Indagou exasperado.
        Recostei-me em minha poltrona e, para encerrar de vez a discussão, soltei um confiante:
        — Exatamente.

✩✩✩

        Natsu deve ter ficado bem ofendido pela minha afirmação, uma vez que não quis me deixar em paz o resto da viagem de volta. Ao chegarmos finalmente a sede da escola, a Fairy Tail original, começamos a nos separar. O rosado voltou a sua melancolia anterior, assim que desceu do ônibus e pareceu ter uma grande ideia, uma vez que saiu correndo logo em seguida, só Deus sabe para onde.
        Despedi-me de Erza e Mira, pois ficaríamos um bom tempo sem nos vermos, uma vez que era o início das...
        ... Férias!
        Siiim! Ficaria um mês inteirinho, ou talvez dois — quem sabe —, sem ver a cara do Natsu! Deve ser a melhor coisa que me aconteceu desde que vim para cá.
        Minha estadia não foi o melhor dos prazeres, graças ao senhor sou-líder-da-máfia-do-país-Dragneel, então finalmente iria relaxar e seguir meus planos originais: estudar e conseguir um bom emprego.
        Caminhei calmamente pela rua, pensando no que faria assim que chegasse ao meu apartamento — que sinceramente, deveria estar uma zona. Fora só uma semana que estive fora, mas Tara deixou claro: não iria mexer com minhas coisas! Ou seja, sujeira acumulada de uma semana para limpar.
Suspirei exasperada, pensando em passar na padaria e comprar o delicioso melon pan do qual sentia tanta falta. Neste momento, avistei uma cena peculiar.
        Uma garota de estatura mediana, cabelo curto e rosa, no mesmo tom do rosado de meus pesadelos; cambaleava de um lado para outro. Vestia uma estranha capa vermelha e seus olhos estavam escondidos pela franja. Ela, sem perceber, entrou no meio da avenida, aonde um carro vinha a toda velocidade.
        — Cuidado! — Gritei, e sem pensar duas vezes joguei tudo o que segurava para trás.
        Coloquei toda força que conseguia nas pernas, inclinando-me para frente e a agarrando, puxando-a no último segundo. O carro passou, atropelando, infelizmente, meu melon pan. (Tive que segurar as lágrimas.)
        A rosada permaneceu desmaiada em meus braços — para meu desconforto — então tive que permanecer ali por algum tempo, até ela recobrar a consciência.
        Quando finalmente começou a dar sinais de estar viva, senti uma onda de alegria incessante e comecei a sacudi-la.
        — Hey! Você está bem? — Perguntava repetidamente. — Hey! Não se machucou, certo?
        Ela abriu os olhos e fiquei surpresa ao constatar que estes tinham um belo tom verde.
        — O-o quê? — Murmurou fracamente. — Quem é você? — Indagou ao perceber minha presença.
        — Eu sou Lucy. Você está bem?
        — Lu... cy... — Suspirou, perdendo a consciência novamente.
        — Hey! Hey!

Meu Estranho MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora