Trinta e dois

253 26 2
                                    

RAIVA. Era isso que estava sentindo.
        Muita, muita raiva.
        — Pistola! — Berrei para Gray ao meu lado, e assim que o objeto chegou às minhas mãos comecei a dispará-lo contra o alvo a mais de cinco metros de distância, sempre mirando na cabeça, garganta e outros pontos vitais.
        — Por que está tão furioso? — O moreno ao meu lado perguntou, sendo prontamente ignorado por mim. — Não adianta fingir que não ouviu, Natsu. Sei muito bem que esses protetores de ouvido somente abafam o som, ao invés de acabar com ele completamente.
        — Não é da sua conta. — Sibilei, jogando a arma que utilizava em um cesto ao canto do cubículo que estava usando. — Submetralhadora!
        — É sim — entregou-me a arma levemente pesada —, se isso envolver a Lucy.
        Terminei de carregar o lançador de projéteis e mirei-o no alvo, já esburacado.
        — Por que algo que a envolva seria de sua conta? — Isso só me encheu de desconfiança. Gray e Lucy se davam bem demais. Suspeito que eu possa vir a me tornar uma Juvia dois daqui a um tempo. — Está mesmo interessado nela?
        — Como poderia? — Sorriu debochado. — Já tenho aquela desconfiada e pirada Juvia. Não se transforme em uma, Natsu. Não é nada legal.
        — Isso é algo a dizer da sua namorada? E você não respondeu minha pergunta.
        — Pode não ser legal. — Passou-me outra arma de fogo. Um revólver. Atirei sem vontade com aquele. — Porém a Juvia é a minha chatinha. E sinceramente... considero a Lucy algo como uma irmã mais nova! Tem problemas um irmão mais velho ficar preocupado com sua imouto?
        — Problema nenhum. — Bufei. — Mas se preocupar com ela é meu trabalho! Outro. — Pedi outra arma.
        Ele apoiou-se na ponta da mesa grudada ao cubículo, encarando me seriamente ao invés de dar-me o que pedi.
        — Engraçado você me dizer isso após quase tê-la assassinado.
        Senti meu sangue congelar, o que era muito difícil.
        — O... quê?
        — Isso mesmo, Dragneel. Lá na toca do Erigor. Vai me dizer que não lembra disso?
        Tentei forçar minha mente a lembrar-se. Só me lembro de pegar a arma em cima da mesa de centro e correr até a primeira moto que encontrei na garagem. Depois disso só lembro de já estar em casa e dizerem que Lucy estava com Levy.
        — Não me atreveria...
        — Ah, se atreveu sim. Quase a matou. Com um tiro na cabeça. Ainda bem que Erza e eu lhe seguimos, senão a essa hora Lucy já estaria...
        — Não diga! — Urrei.
        Quase matei Lucy? Não era possível... tinha ido até lá exatamente para salvá-la! Como me tornei o vilão..?
        Lembrei da loira me encarando uma hora antes, com os olhos apavorados e sua pergunta veio até minha mente:
        "Está me zoando? Está me dizendo que não lembra do que fez?"
        Segurei meu rosto com uma das mãos.
        — Então foi isso que fiz?! — Murmurei para mim mesmo. — Isso explica porque ela parecia assustada. E eu pensei que... que... ela havia mudado de ideia ao se envolver comigo... como fui idiota. Quase assassinei alguém que anda se tornando tão especial e está mostrando-se diferente das outras...
        — Você o quê? — Indagou meu pai, praticamente teletransportando-se para meu lado. — Eu ouvi direito? Natsu, você quase assassinou a Lu-pyon?! — Sua expressão transformou-se em algo chocado.
        — Ele o quê? — Perguntou Meredy, aparecendo atrás dele. - Nii-sama, como você fez isso com a Lu-nee-san?
        — Lu-nee-san? — Estranhamos Gray e eu.
        — Não era bruxa velha? — Dirigi-me a ela, que formou um bico enorme em relação a minha pergunta.
        — Isso não importa agora, Baka-nii-chan!
        — B-baka?! — O que aconteceu com a Meredy que era louca por mim?
        — Se ousar tentar machucar a Lu-nee-san de novo — continuou —, jamais irei lhe perdoar! E... e... Vou pessoalmente armar para ela ficar com o Rogue-kun!
        — Quem? — Indagamos eu e Gray novamente. Rogue? Quem é esse?
        — Rogue é o... — Foi interrompida por barulhos altos de tiros e quando olhamos para o lado, lá estava Aries, fazendo uma coisa que não víamos há muito tempo.
        Ela estava praticando sua pontaria.
        Com mais precisão do que qualquer um de nós. Bom... menos o meu pai, provavelmente. Ele poderia estar sem pegar em uma arma há alguns anos, mas ainda mostrava-se estar em forma para qualquer coisa, por que para armas e tiros não?
        — Certo... — Ele tampou a boca de Meredy e a posicionou atrás dele. — Sua irmã está com raiva. É melhor alguém falar com ela.
        — Por que não o senhor? — Indagou Loki, também aparecendo do nada. O que havia com aquele povo, interrompendo o treinamento dos outros assim?
        — Loki-kun, não seja bobo... Esqueceu que da última vez que tentei quase levei um tiro?
        — O grande Igneel, rei das armas de fogo, com medo? — Debochou o alaranjado.
        — Aries puxou uma boa parte do temperamento da mãe. Não sou louco de tentar lutar contra isso.
        — Eu vou. — Soltei em um suspiro, já caminhando na direção dela.
        Aries não pareceu perceber minha presença até que eu estivesse ao lado dela.
        — O que está a deixando tão irritada? — Agora percebi que o choque de saber que matei Lucy tirou-me toda a raiva.
        Por um segundo pensei que ela iria me ignorar, mas ela continuou atirando quando respondeu-me:
        — Faz tempo que não conversamos, Nii-sama.
        — É verdade. — Concordei com um sorriso. — E? O que a está deixando com raiva?
        — Não estou com raiva.
        — Pelo jeito que continua atirando com esse metralhadora, está sim. Senão, o que poderia estar sentindo?
        Encarou-me, pensando se deveria ou não responder-me.
        — O que estou sentindo é...

[DS → Aries Dragneel]

        —... Frustração. — Completei.
        — E por que está frustrada?
        Suspirei pesadamente.
        — Por muitos motivos. Entretanto, há um especial.
        — E qual é esse motivo? — Até hoje não entendo com o Nii-sama pode ser tão gentil e compreensivo quando conversa comigo sendo ele, na verdade, um verdadeiro tapado. Será que é aquela coisa de "nos pequenos frascos se escondem os melhores perfumes"? Porém o Nii-sama é alto... Será o pavio curto que ele possuí? — Aries?
        — Sim? Ah! — Lembrei-me da conversa e voltei a focar-me no alvo ao sentir minha frustração voltar. O cartucho de munição estava vazio, portanto tive que recarregá-lo. — É algo que está impedindo um de meus planos.
        — Que plano? O de fazer eu e a Luce ficarmos juntos? Se o for, não precisa se preocupar com isso...
        — Preciso sim! Você não sabe a respeito das peças que entraram no jogo, Nii-sama.
        Soltou um longo suspiro.
        — Você deveria parar de ver tudo como um jogo de xadrez. São pessoas, Aries. Pare de vê-las como seus brinquedos.
        — Não é isso que as pessoas com poder fazem? Brincam com as pessoas como se fossem apenas peças de um jogo?
        — Isso não significa que tenha que ser igual. — Bronqueou. — Embora eu ache que ele — apontou com a cabeça para Igneel, que observava-nos de longe — seja quem gostaria de estar dando essa bronca. O que acha de fazer as pazes com ele?
        — De forma alguma vou perdoá-lo. — Disse convictamente. — Igneel jamais conseguirá me provar o quanto amou à Honoka. E eu jamais vou voltar a acreditar nele.
        Bufou.
        — Lá vai você de novo! Quanto tempo mais pretende continuar com isso?
        — O quanto for necessário. — Afirmei.
        — A Hime-sama voltou. — Avisou Virgo às portas da sala de tiro.
        — Luce! — Exclamou o rosado, correndo até as portas quase se esquecendo de tirar o equipamento de proteção. Fui atrás dele.
        Lucy saía de dentro de um táxi e lá de fora podíamos ter um bom vislumbre da pessoa que saía depois dela.
        — Quem é esse? — Rosnou Natsu ao ver o "estranho" enlaçar os ombros de Lucy com os próprios braços.
        — Uma peça problemática. — Murmurei inaudivelmente, para que apenas ele ouvisse.
        — Na-Natsu, esse é... Rogue Cheney. Meu ex-namorado.
        Seu rosto ficou pálido como papel com aquela afirmação.
        Isso muda todos os meus planos...
        Quem, afinal de contas, o trouxe aqui?

[DS OFF]

Meu Estranho MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora