Trinta e sete

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HUM, vejamos. — Murmurou ele, pensativo. — Deveria contar desde o início?
        — Seria bom. — Murmurei, deixando-o circundar minha cintura com seus braços. Ah! Sentia mais falta daquele calor tão... Natsu, do que qualquer outra coisa.
        — Certo. Meu irmão e eu nascemos juntos, obviamente. Éramos gêmeos fraternos. Pense em mim ao contrário e com um rosto mais amigável.
        — Ele devia ser realmente lindo então.
        — Era o que dizi... Espera aí! Você está dizendo isso porque falei para imaginar o contrário de mim? — Mostrei a língua, brincalhona, fazendo-o formar um bico com seus lábios. — Há, há! Quase me pegou nessa. — Pigarreou, recobrando a atenção. — Quando tínhamos dois anos, minha mãe teve a Aries, e depois de mais dois anos, a Meredy. Sabia que sua mãe é minha madrinha?
        — Sério? Ela nunca mencionou. Aliás, eu também tenho um padrinho que mora por esses lados. Nunca o conheci pessoalmente, então como os dois pareciam ser chegados....
        — Provavelmente é o meu pai. — Afirmou. — Na verdade, tenho cem por cento de certeza que é ele. Ele sempre disse algo sobre ir visitar um “raio de luz”, mas Jude devora almas não deixar.
        — Jude... Meu pai? Devora almas? — Lancei um olhar indagativo para ele.
        — Sei o mesmo tanto quanto você deste assunto. — Deu de ombros. Lançou a visão ao céu. Agora algumas nuvens começavam, lentamente, a se dispersar. — Então, na pré-escola conhecemos Lisanna e caí por terra. Ela era a primeira garota a tentar se aproximar de nós. Aliás, era a primeira pessoa fora da máfia a conversar conosco e tal. — Soltou um sorriso debochado. — Era tão animado naquela época. Animava todos ao meu redor e tudo mais. Mas então, aos nove anos, houve — uma expressão de dor em seu rosto — a morte dele. — Sabia que se referia ao irmão. — Acho que ele era um pilar para nós. Aries era uma pestinha antes disso, contudo depois... ela virou um verdadeiro demônio. Uma vez meus pais foram chamados na escola porque ela...
        — Ela? — Incentivei, quando ele parou.
        — Fez algo extremamente ruim. Não, ruim não. Péssimo. Essa é a palavra certa. Depois disso meus pais chegaram à conclusão de que era melhor mandá-la para um colégio interno militar.
        — Como sua mãe reagiu a tudo isso?
        — Ela sempre foi muito forte e animada. Aparentemente, puxei isso dela. Entretanto, ela ficou um pouco mais desanimada disto tudo. E um dia saímos meu pai, Meredy e eu para enviar presentes adiantados para Aries, e neste dia, ela morreu.
        — Natsu...
        — Na verdade, o aniversário de morte dela é semana que vem. — Sorriu tristemente, dando um fungo logo em seguida.
        Engoli em seco.
        Semana que vem.
        — Quando exatamente... — Comecei, porém desisti da minha pergunta ao fitar seu rosto. — Nada. Esqueça. Oh, Natsu, sinto tanto! — Virei-me em seus braços, circundando seu pescoço com os meus e sentindo seu perfume agridoce.
        — Não, Luce... Lucy. — Tentou arrumar.
        — Não me importo mais em como me chama.
        — Eu que sinto muito — Lamuriou, afastando-se o suficiente para ver meu rosto.
        — Pelo quê?
        — Não sei! — Bufou, frustrado. — Somente acho que... penso que... — Deslizou a mão sobre meu rosto, sem soltar de minha cintura e arrumou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Sinto que o que aconteceu na pensão... foi minha culpa. Tenho certeza. Aquele cara deixou bem claro o quanto nos odeia.
        Lembrei-me da expressão de ódio no rosto de Natsu naquela fatídica noite. O modo como encarava as chamas que lambiam os restos dos escombros da pensão...
        — Aquele cara? — Indaguei. — Quem?
        — Estamos investigando ainda, mas descobrimos o bastante para saber que tanto o incêndio da pensão quanto o desta mansão foram feitos pela mesma pessoa. Na verdade, esse é o único motivo de meu pai ainda não ter se aposentado de seu cargo. Ele quer achar quem fez aquilo com mamãe... Mesmo que não goste de vingança e coisas do gênero.
        — Essa mansão já foi incendiada? — Estranhei. — Ela parece permanecer em perfeito estado...
        — A original era bem menor. Lembra da mansão onde teve a festa de fundação?
        — Ah, se lembro! — Exclamei, arrancando-lhe um sorriso amarelo.
        — En-então, ficamos morando lá por algum tempo. Foi até agradável... até meu avô materno aparecer para importunar meu pai. Depois de várias discussões tudo se estabeleceu e a nova mansão, esta atual, ficou pronta. Voltamos para cá e aqui estamos nós. Depois disso, quando fiz dezesseis acabei por pegar o título de líder nacional e Aries voltou. — Bufou novamente. — Não que seja muito. Meu pai ainda lidera a maioria das subdivisões, praticamente todas. E meu avô ainda é conhecido como o Pai da máfia Dragneel. A maioria dos nossos homens estão na Rússia com ele. Não temos homens suficientes nem para manter a mansão segura o bastante...
        — Seu avô não pensa na segurança de vocês, netos dele? — Espantei-me.
        Natsu soltou uma risada sonora.
        — Desculpe, Luce. — Pediu, tentando recobrar a respiração. — Ele nos deu uma escolha. Ir ou ficar. Meu avô é um mafioso igual aos dos filmes que você vê. Está envolvido no submundo, drogas e o diabo a quatro. E meu pai fez a máfia “Yamaneel” com uma visão bem contraditória à dele. O que não o deixou muito contente. Provavelmente, quando Aries completar seus dezessete anos, ela vá para lá. Ela sempre gostou muito de nosso avô... — Suspirou — E deixá-la passar tanto tempo com ele pode ter sido nosso erro...
        Ele estava entrando em memórias muito mais profundas do que imaginei, pelo que pude perceber por sua expressão. É melhor mudar de assunto.
        — Então... teve duas namoradas. — Comentei. — Eu, Lisanna e uma tal ruiva, pelo que lembro da Aries ter me contado.
        — Que amor de irmã mais nova eu tenho. — Murmurou amargo. Ri. — Sim, ela... ainda é mais presente em minha vida do que imagina.
        — Quê? — Sobre-ergui uma sobrancelha, desconfiada.
        Ele sorriu satisfeito.
        — Um dia a levarei ao meu trabalho e entenderá. — Fiz um bico. — Mais alguma coisa?
        — Sim.
        — O que será que ainda que saber? — Fez mistério.
        — Como conseguiu esse olho roxo?
        Suas bochechas foram tomadas por um tom rubro, mesmo que só desse para perceber de um lado — certo, jamais irei deixar de zoá-lo por isso!
        — Não precisa saber disso! — Virou o rosto em outra direção.
        — Ah, preciso sim. — Forcei-o a me olhar segurando seu rosto com minhas duas mãos.
        Nossos olhares se chocaram. Ônix com castanho. Travando uma batalha silenciosa e incrivelmente excitante.
        — Você venceu! — Exclamou. — Contudo, só conto se me der permissão para uma coisa.
        — Pois não?
        — Deixe-me sentir seus lábios novamente.
        Sorri. Como poderia negar?
        Acabei com aquela curta distância, selando minha boca na dele delicadamente. Céus, como sentira falta daquele gosto! Tão inconstante, agridoce... Tão Natsu!
        Sua mão livre voltou a se posicionar em minha cintura e ele pressionou-me levemente contra o balaustre. Entreabri os lábios, deixando-o voltar a explorar minha boca. Por fim nos separamos:
        — Bom — murmurei com um sorriso —, minha parte foi cumprida. Hora da sua. — Apontei para seu olho machucado.
        — Preciso mesmo? — Perguntou baixinho, cheio de vergonha.
        — Precisa! — Afirmei, segurando o riso. Ele parecia uma criança.
        Mexeu os braços, inquieto e desconfortável.
        — Foi... — Balbuciou algo rápido e não pude entender.
        — Quê?
        — Foi o...
        — Natsu Dragneel, se não falar alto jamais irei entender! — Disse exasperada.
        — Certo, certo... Deixe-me contar dessa maneira então...

Meu Estranho MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora