Epílogo

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Acordo com a claridade e então abro os olhos devagar, percebo que estou em um quarto de hospital e vejo que estou tomando soro.

Fico olhando aquelas gotas caírem devagar sem nem mesmo me importar, sinto como se metade de mim tivesse morrido e isso realmente aconteceu.

-Finalmente acordou. -Olho para a porta e vejo Rick com um sorriso, percebo que tem olheiras em baixo de seus olhos.

-Você está horrível. -Falo sem ânimo, não pareço ser a mesma garota de antes.

-Você também está. -Diz e eu volto a olhar as gotas.

-Onde está o Gustavo?

-Ele está com a mãe dele, estão preparando as coisas para o... -O olho. -Velório. -Não digo nada e volto minha atenção para as gotas. -Mary você está bem?

-Não, parece que minha alma foi tirada, estraçalhada e depois costurada.

-Eu me sinto assim também. Trouxe isso para você. -Diz e eu o encaro novamente, olho em sua mão e vejo o colar que dei para o Idiota, o pego dando um sorriso.

-Nunca amei tanto uma pessoa como amei ele. -Digo e Rick suspira.

-Você tem que se arrumar, o velório é daqui a pouco. -Aceno e me sento na cama, uma enfermeira chega e tira o soro me dando alta.

Coloco o colar em meu pescoço e depois me troco em um banheiro com as roupas que Rick trouxe.

Saímos do hospital e o carro foi um silêncio absoluto, olho pela janela e vejo as pessoas sorrindo e conversando.

-Mary, você pode fazer o discurso? -Olho para Guh e depois volto meu olhar para sua mãe.

-Claro. -Digo e ela sorri, seu rosto está cansado, com olheiras e seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

-Você pode cantar. -Guh dá a idéia depois que a mulher cansada que estava em nossa frente foi se sentar ao lado de Rick.

-Porque faria isso? -Pergunto e Dani chega ao meu lado.

-Porque tudo começou com a música, poderia... -Ele não termina e sinto o braço de Daniele em minha cintura.

-Terminar com ela? -Completo e ele suspira. -Sinto que ele ainda está vivo. -Digo de repente e ele me encara.

-Sinto a mesma coisa assim como o Rick.

-Ele pode ter escapado. -Digo com esperança.

-O corpo dele foi carbonizado, Mary você o reconheceu por causa do colar. -Dani me lembra e eu a olho, ela desvia o olhar culpada.

-Eu vou cantar. -Digo para Guh que me estende o violão que não vi em suas costas.

-Eu ia cantar, mas acho que você merece esse momento mais do que eu. -Aceno e pego o objeto, ele beija minha testa e segue para um banco perto de sua mãe, minha amiga faz o mesmo me deixando sozinha com meus pensamentos. Logo começo a compôr uma música.

-E agora gostaria de chamar Mariany para dizer algumas palavras. -O padre diz e eu suspiro, me levanto e ando em direção ao caixão, passo por ele e sento em uma cadeira logo ao lado do mesmo, olho para aquelas pessoas que estão chorando e depois olho para cima começando a tocar.

-Tudo que sobe desce
Tudo que entra sai
Hoje você me vê
Amanhã talvez não veja mais. -Cai algumas lágrimas de meus olhos.

Tudo que nasce morre
Tudo que vem se vai
Hoje morreu um sonho
Que ele descanse em paz. -Olho para o caixão e suspiro.

Não temos controle, o tempo é ligeiro
Na estrada da vida, somos passageiros
Mas que Deus guarde, cada estrela
A mais no céu. -Olho para Guh.

As lembranças ficam
Não tem como voltar
No mesmo momento
Naquele lugar, aquele sorriso
Jamais verá de novo. -Dou um sorriso lembrando do sorriso e da risada dele.

Onde estiver, olha por mim
O meu amor, não vai ter fim
Tudo que passou do meu lado
Estará para sempre marcado

Onde estiver, olha por mim
O meu amor, não vai ter fim
Tudo que vem, tem que ir
É a lei da vida, não é feita por mim.

Onde estiver, olha por mim
O meu amor, não vai ter fim
Tudo que passou do meu lado
Estará para sempre guardado

Onde estiver, olha por mim
O meu amor, não vai ter fim
Tudo que vem, tem que ir
É a lei da vida, não é feita por mim.

Canto o refrão olhando para o céu, quando termino não consigo me conter e desabo, olho para o caixão novamente e soluço. Rick com Guh me ajudam a me sentar e então fico apenas olhando para minhas mãos.

***

Se passou duas semanas desde todo o acontecido, estou de volta na casa de minha mãe e não saio do quarto para nada.

Passo as fotos que tenho no meu celular uma de cada vez, essa foi minha rotina desde que voltei. Deitar, olhar as fotos, não comer muito, tomar banho e dormir. Todos esses dias fiz assim.

Me levanto com uma ideia na cabeça, amarro meu cabelo em um coque com ele mesmo e saio de casa com minha bolsa e sem avisar onde vou.

Sigo para o local que eu quero e peço para revelar todas as fotos que eu tenho e uma em especial falei para fazer como se fosse um papel de parede.

Depois disso volto para casa e me tranco no meu quarto, colo o maior na parede de trás de minha cama e as outras fotos que são um pouco grandes do que as dos portas retratos colo em outras paredes, me deito na cama segurando o pingente em meu pescoço e olho aquelas fotos, não tem nenhuma parte branca da parede, só tem fotos minhas com Gui e dele sozinho. A maior é de nós dois sorrindo um para o outro.

-Filha você que comer... -Ela olha para a parede e sua boca se abre. -O que aconteceu aqui?

-Nada? -Pergunto e ela me olha.

-Você está bem?

-Para de perguntar isso. -Digo e me levanto indo para o banheiro, pego uma lâmina e então faço cortes em meus pulsos chorando com a lembrança dele que não sai de minha cabeça.

Estou querendo me matar, mas ninguém deixa, parece que não entendem que quero estar junto a ele.

-Filha... Pare de se cortar... -Ela está chorando e isso me faz querer me matar mais ainda, ver minha mãe sofrendo por causa de mim é horrível, mas não consigo parar.

***

Se passou mais dias e continuo na mesma rotina, visitei o hospital mais vezes do que eu queria. Dani parou de vir em minha casa porque implorei para ela, então as vezes a mesma me liga.

-Quero que você saia dessa cama e siga em frente! -Ela entra em meu quarto olhando para as paredes, logo Rick e Guh entram atrás.

-Vão embora. -Digo me deitando completamente.

-Mary, ele não iria querer te ver assim. Prometi que iria cuidar de você...

-Não me importa, não quero ver vocês. Saem. -Eles me encaram e seguem para fora do quarto, eu começo a chorar novamente. E então tudo se apaga, parece que não conseguirei mais viver.

Triste é pouco...

O Irmão do meu melhor amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora